O filme "Bohemian Rhapsody", que trata da história do Queen com foco no vocalista Freddie Mercury, tratou muito mal o guitarrista Brian May, a força motora da banda e o alicerce que a manteve viva mesmo com os problemas graves que todos enfrentaram, a começar pelo próprio vocalista.
É estranho que o guitarrista tenha aprovado o roteiro cm poucas alterações: ele é retratado como um músico periférico, como auxiliar de um gênio da raça - no casso, Mercury - que apenas contribuía ocasionalmente para o sucesso da banda.
Ao completar 75 anos de idade, o guitarrista do Queen certamente não se importou com isso. Quem o conhece sabe de sua lealdade extrema ao Queen e aos companheiros - a ponto de engolir a raiva e esperar pacientemente Freddie embarcar em uma carreira solo que foi menos cintilante do que esperava para retomar os shows com o Queen, entre 1984 e 1985.
May é um gentleman, de fala mansa e esganiçada. É um astro do rock que se comporta como um artista bem-sucedido, mas sem afetação.
Solícito, generoso, transformou-se em um paladino das causas ambientais e da educação no mundo - acadêmico, é doutor em astrofísica e uma das referências sobre o assunto no Reino Unido.
Como guitarrista, estabeleceu diversos padrões importantes de riffs e timbres associados a hard rock altamente copiados e celebrados.
Tocando um instrumento construído por ele mesmo, se especializou em criar fraseados que preenchessem todos os ambientes, eixando o baixista John Deacon com a missão de se preocupar apenas com o ritmo.
Não é à toa que alguns amigos sempre recorriam a ele, que também manja bastante de eletrônica, para buscar soluções técnicas e harmônicas das mais diversas. O guitarrista David Gilmour, do Pink Floyd, era um habitué do estúdio caseiro de May, e vice-versa. É estranho que nunca tenham lançado nada juntos.
Tony Iommi, do Black Sabbath, é um assíduo colaborador e cansou de declarar que Brian era um gênio e que o rock deve muito a ele em termos de desenvolvimento musical e artístico.
E ´pensar que May estava quase desistindo da música por volta de 1970, quando o Smile patinava e perdia um baixista atrás do outro. Estava conformado em seguir carreira acadêmica como professor u cientista quando Freddie Mercury se apresentou a ele e ao baterista Roger Taylor para um teste.
É claro que passou e o cantor começou a impor algumas mudanças, como o nome provocativo - Queen, uma das maneiras de se referir as gays naquela época. O figurino também ficou espalhafatoso, e May aceitou, mas não abriu mão do controle musical - pelo menos naquele momento.
Ninguém prestava muita a atenção no Queen até que, em 1972, as coisas mudam: as performances pesadas e consistentes, ofuscando bandas boas com Mott the Hoople e T. Rex, chamaram a atenção de alguns executivos e empresários.
Com contrato assinado e um álbum poderoso lançado em 1973, o Queen virou um dos queridinhos do underground londrino e banda concorrida no circuito hard europeu.
A ascensão foi vertiginosa e a explosão mundial veio em 1975, com o quarto álbum, "A Night at the Opera", embalado pelo hit "Bohemian Rhapsody", uma obra-prima de seis minutos em que o erudito e pop se misturam em uma peça arrogante, ousada e pretensiosa. Tinha demorado, mas o Queen tinha conquistado o mundo.
Brian May há mito é um artista consagrado, mas sua principal contribuição ao mundo da música foi elevar o rock e a guitarra a patamares superiores e ajudar a transformá-los, definitivamente, como formas importantes de arte plena.
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