A capital brasileira do reggae um dia sonhou em ser a capital mundial do heavy metal. Mas o sonho virou pesadelo, e a ideia de fazer uma versão sul-americana - e melhorada - do festival Wacken alemão se tornou um dos maiores desastres empresariais do entretenimento no continente.
Faz dez anos do fiasco monumental do Metal Open Air, em São Luís, no Maranhão, que pretendia levar para lá a nata do rock pesado nacional e internacional, como Saxon, Megadeth e Ratos de Porão. Deu tudo errado, em uma mistura de megalomania, inexperiência, incompetência e profundo desrespeito ao consumidor.
Até hoje correm processos em todo país contra os organizadores por conta de prejuízos sofridos por artistas, espectadores, comerciantes e prestadores de serviço de todo os tipos.
Dez anos depois, os problemas causados pela "iniciativa" de fazer um festival em São Luís ainda estão bem vivos na memória de quem ainda se sente lesado.
E não é que, uma década depois, aparece um site anunciando um tal "Maranhão Open Air" sugerindo que os "organizadores" do Metal Open Air estão por trás da nova empreitada como uma maneira de "reparar" erros do passado e promover um verdadeiro encontro de fãs da música.
O site www.moafestival.com está em construção, mas tem uma "carta de intenções" onde anuncia que pretende oferecer e organizar "Maranhão Open Air". Não há mais informações. Não se sabe quem está por trás do site, por trás da iniciativa e nem quem apoia o suposto evento.
O texto de apresentação, única coisa que há no site, é um primor de apagamento do passado - uma tremenda cara-de-pau:
"Passados 10 anos do Metal Open Air e da conjunção de fatores que comprometeram a produção do festival, estamos de energia renovada, mesmo depois de todos os tropeços, das acusações infundadas, perseguições, difamações, pré-julgamentos e principalmente depois de prestados todos os esclarecimentos à justiça maranhense e a sociedade em geral, temos a honra de anunciar o Maranhão Open Air – MOA.
Esse é um evento idealizado sobretudo em respeito ao público Headbanger e que busca reafirmar nosso compromisso com a cultura do Metal Pesado em suas várias vertentes musicais, cultura da qual orgulhosamente fazemos parte há décadas e acima de tudo temos consciência que entre erros e acertos trabalhamos para abrilhantar.
A nossa meta nesta retomada é aproveitar as lições com os erros do passado, assumindo a responsabilidade de entregar um evento com absoluto controle, somando forças a parceiros que estão há anos com atividades proativas no cenário. De forma transparente e profissional, o que outrora foi imprecisão, hoje estamos canalizando em força de trabalho para que tudo saia conforme anunciado em dois dias do mais puro Heavy Metal, experiência e diversão."
Para contextualizar: um empresário maranhense e outro paulista conseguiram promessas de receber dinheiro da Prefeitura de São Luís e do governo do Maranhão para promover um festival de metal. Tiveram inicialmente o apoio de algumas empresas e pensaram grande: vamos fazer uma edição do Wacken na América do Sul.
Era bom demais para ser verdade, e infelizmente as desconfianças eram muitas e se revelaram verdadeiras. A logística para São Luís era muito cara e a inexperiência dos promotores se revelou na hora de buscar os contratos com as bandas estrangeiras e na organização da logística local - hospedagem pra todo mundo, local do show, transporte adequado...
Tudo muito amador, principalmente o esquema de venda de ingressos e pacotes. A coisa começou a desmoronar dois meses antes do evento, marcado para o começo de 2012.
Bandas nacionais e estrangeiras começaram a cancelar participação por descumprimento de contrato e falta de pagamento antecipado. Alguns artistas viajaram a São Luís, mas não tocaram.
Na véspera do festival, os organizadores sabiam que não haveria verba pública para bancar o evento e mesmo assim prosseguiram com atividades - havia pelo 5 mol pessoas de outros Estados na cidade cm ingressos comprados.
Outros, sem pagamento, tocaram mesmo assim, casos de Megadeth e Korzus, que suportaram a falta de estrutura e a retirada dos serviços contratados de som e infraestrutura - prestadores de serviço não foram pagos.
O local escolhido para o festival, a quilômetros do centro de São Luís, era uma antiga estrebaria e fazenda de criação de gado sem a menor estrutura e condição de abrigar tamanho evento. Até hpje não se sabe ao certo o total do prejuízo gerado.
O fracasso do Metal Open Festival teve tamanha repercussão negativa no mundo que afetou por anos a credibilidade dos promotores sul-americanos de rock sérios. Tudo ficou mais caro e bandas que sempre tocaram por aqui, de uma hora para outra, começaram a fazer exigências que nunca tinha feito, mesmo sabendo que os contatos habituais eram de confiança.
Pode até ser injusto estabelecer "punição perpétua" para determinados tipos de "pisadas na bola", mas convém ficarmos muito, muito atentos para os "eventos" associados a qualquer organizador desse evento de heavy metal no Maranhão.
Muitas pessoas e empresas que estiveram envolvidas com o Metal Open Air alegam que ainda brigam na Justiça por algum tipo de reparação na Justiça, o que justifica todo tipo de cautela e prevenção. Leia aqui sobre a situação de alguns processos e as alegações dos dois empresários responsáveis pelo festival e que são acusados de causar vários prejuízos. Que os órgãos de proteção ao consumidor fiquem muito atentos a essa movimentação.
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