sexta-feira, 29 de julho de 2022

Krisiun e sua evolução constante: 'Mortem Solis' é seu melhor álbum

A arte extrema de transformar o insuportável e a destruição em... arte. Aos 32 anos de carreira e hoje a banda brasileira mais relevante no cenário internacional, o trio gaúcho Krisiun sofisticou, se é que é possível dizer isso, o seu death metal no recém-lançado álbum "Mortem Solis".

A violência é a de sempre, há a incorporação de elementos diferentes nas dez canções devastadoras e contundentes, assim como no anterior, "Scourge of the Enthroned", de 2018, até então melhor disco do trio. Curiosamente, há resistências para que este vire um clássico do grupo.

É um álbum excelente, mas "Mortem Solis" é melhor ainda. Para quem não é tão purista e "old school", a música está mais elaborada e agrega elementos de outras paradas, como  heavy tradicional.

A dupla "Dawn Sun Carnage"/"Temple of the Abattoir" é um exemplo: introdução que remete a temas orientais e árabes, com violões e guitarras semiacústicas pra depois desaguar em um heavy/doom metal à la Black Sabbath, tudo servindo de antessala para a devastação costumeira, com aguitarra de Moysés Kolesne soando cada vez melhor.

"Necronomical" começa cadenciada, com ecos de Iron Maiden e Black Sabbath, que vai crescendo até que a guitarra demole tudo em riffs bem pesados e solos muito bem, elaborados. É uma canção diferente da pancadaria costumeira. É a melhor do álbum.

Destacar outras canções é difícil e injusto diante de um álbum tão bom. Duas canções muito agressivas vão garantir  alegria dos apreciadores da música extrema: "War Blood Hammer" e "Serpent Messiah" estremecem os ambientes e acrescentam arranjos inusitados, como um certo ar "progressivo" e melódico, mas a uma velocidade altíssima, que chega a cansar.

Os irmãos Alex Camargo (baixo/vocal), Max Kolesne (bateria) e Moyses Kolesne (guitarra) nem pensam em aliviar. "Tivemos ideias realmente novas para o 'Mortem Solis'", diz Moyses Kolesne. "Talvez porque paramos por dois anos [devido à pandemia], mas também porque víamos a cena do metal se tornando mais comercial e falsa. Como uma banda mais antiga, nós mantemos o verdadeiro [Death Metal] e essa é a nossa missão agora: trazer o verdadeiro death metal de volta".

A trajetória do trio começou em Ijuí, município gaúcho, em 1990. O trio foi inspirado por uma gama diversificada do metal extremo, que inclui bandas como Slayer, Venom, Destruction, Motörhead, Morbid Angel e Sepultura.

Trabalhou duro por anos até assinar um contrato com a Dynamo Records, de São Paulo, para lançar o seu agora clássico álbum de estreia "Black Force Domain" em 1995. 

Em 1997 chegaram à Gun Records  para continuar o seu ataque por toda a Europa, que começou oficialmente com a primeira turnê da banda fora do Brasil chamada "Black Force Domain Tour".

Desde então, o seu brutal legado vem aparecendo em discos como "Apocalyptic Revelation" (1998), sua estreia mundial sob o selo Century Media Records, "Conquerors of Armageddon" (2000), "Works of Carnage" (2003), "Southern Storm" (2008) e "Scourge of the Enthroned" (2018). Então, não é de se estranhar que "Mortem Solis" continue a tradição de insanidade musical intransigente.

"Mortem Solis é mais direto", diz Moysés Kolesne. "Cortamos tudo o que consideramos desnecessário para torná-lo o mais brutal possível. Sem usar um computador ou um metrônomo, tudo sob o verdadeiro espírito do death metal."

Ele destaca o entrosamento perfeito para que os 32 anos de carreira fossem atingidos. "Nós três compartilhamos a mesma visão para o metal. Somos um exército de três. Claro, evoluímos como irmãos, pessoas e músicos. Nós nos divertimos muito juntos. Mas essa coesão nos deu o jeito Krisiun, o caminho em que estamos e continuamos a trilhar."

O músico acredita que é necessário evoluir para atrair novos fãs e manter acesa a chama da busca por inovação. No entanto, ainda se considera um purista e tradicionalista.

"Vemos uma cena cheia de posers", diz Kolesne. "O death metal está ficando mole. Não vamos participar de nada disso. Sabemos de onde viemos e o que o death metal significa para nós: ele é tudo! O ódio e a repulsa nos alimentaram. É por isso que Mortem Solis é despojado, a intensidade é ampliada e gravamos sem as muletas da modernidade."

Em vez de se aventurar no exterior, como aconteceu com os álbuns "Scourge of the Enthroned" e "Conquerors of Armageddon" que foram produzidos no renomado Stage One Studio de Andy Classen na Alemanha, os irmãos decidiram logisticamente que seria mais eficiente ficar no Brasil e gravaram "Mortem Solis" no Family Mob Studio em São Paulo. 

Hugo Silva (Sepultura, Nervosa) e Otavio Rossato (Crypta, Desalmado) foram contratados como engenheiros, enquanto Silva também foi o escolhido para codirigir a produção com o Krisiun. Quando tudo foi concluído no Brasil, as faixas foram enviadas para o especialista em mixagem e masterização Mark Lewis (Nile, Monstrosity) em Nashville, Tennessee.  

"As sessões de estúdio foram ótimas", diz Kolesne. "O Family Mob não fica muito longe de onde moramos e nos sentimos confortáveis ​​lá. Além disso, era ótimo ir para casa todas as noites e recarregar as baterias. Nós amamos Andy, mas era hora de mudar. Nós realmente gostamos do som que Mark conseguiu para outras bandas, então foi natural para nós escolhê-lo. Ele também gosta de Death Metal. Mark forneceu muita confiança para alcançar o som que queríamos".

Liricamente, "Mortem Solis" foi inspirado pela literatura e está impregnado de metáforas. Mas, não há como confundir a mensagem. Todas as coisas boas inevitavelmente chegam ao fim, às vezes de forma violenta e sem remorso. Essa narrativa é totalmente tecida através das letras, da ameaçadora capa de Marcelo Vasco (Slayer, 1349) e do som. Até mesmo o título do álbum "Mortem Solis", que significa "A morte do sol" em latim, é visivelmente fatalista.

"O sol, além de seus efeitos físicos e condição cósmica, representa algo significativo nas religiões, impérios, reinos, etc. A humanidade deu muita importância ao sol, como reino e salvação. Mas vivemos em um mundo moribundo. Impérios caem, reis caem, políticos mentem e a fé se perdeu ao longo da história. Então, a metáfora para 'Mortem Solis' é esta: tudo morre em todos os lugares e não há como escapar disso. Fiquei realmente impressionado que Marcelo conseguiu capturar tudo isso e muito mais com sua arte de capa", conclui o guitarrista.

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