quarta-feira, 27 de julho de 2022

Rock ativista e engajado: contundente, Ratos de Porão atira em tudo e acerta em todos



A banda carioca de metal Dorsal Atlântica usou alegorias e metáforas para falar da tragédia sociopolítica brasileira dos tempos bolsonaros nefastos e suas consequências danosas para a vida e para a civilização. “Pandemia”, o mais recente disco, usou o formato ópera rock para mostrar um país fictício autoritário dominado por gorilas e toda uma classe política corrupta.

Os Ratos de Porão, banda tão importante quanto, decidiu empurrar pra longe toda sorte de sutilezas e ir direto ao ponto, como sempre fez, ao destroçar a classe política e o extremismo de direita em seu novo álbum, o primeiro de material inédito em sete anos.

“Necropolítica”, ou seja, a política que privilegia a morte e a destruição, foi totalmente inspirado no nojento e nefasto bolsonarismo e também na condução criminosa da pandemia por parte deste governo lamentável.

As duas primeiras músicas divulgadas – “Aglomeração” e “Necropolítica” – mostraram que a pancadaria seria intensa e que nada sobraria do mundo fascista representado por Jair Bolsonaro e políticos asquerosos que o apoiam, especialmente o lixo religioso que lhe dá suporte – quase todos evangélicos da pior espécie.

“Ninguém teve a intenção de profetizar nada, mas é assustador que os discos que gravamos nos anos 80 soem atuais e que o novo bem que poderia ter sido gravado lá atrás. As coisas pioraram muito e nunca estivemos tão perto do fascismo novamente”, disse o vocalista João Gordo recentemente em uma entrevista.

“Necropolítica” traz o grupo embarcando em uma sonoridade mais moderna e extrema, abraçando de vez o metal, como havia feito em “Século Sinistro”, o álbum anterior.

Mais moderno não quer dizer que a sonoridade esteja mais “limpa”, o que soaria como heresia para os Ratos de Porão. A sujeira de sempre está lá, entre a tosqueira e a brutalidade. A diferença é que os timbres estão mais nítidos e violentos, com alguns detalhes realçados.

"Necropolítica", a música, demole os pilares da fisiologia política que emporcalha as relações institucionais e destrói qualquer resquício de credibilidade que poderia restar a um governo federal de extrema-direita guiado pelo ódio e pela morte.

"Aglomeração" não deixa por menos e tem como alvos as seitas evangélicas mentirosas e farsantes e o negacionismo científico endossado por essas "entidades". "Jesus vai te salvar da aglomeração!", berra João Gordo, o vocalista iconoclasta.

"Alerta Antifascista" é autoexplicativa e ataca sem dó os inimigos da democracia e os disseminadores de ódio, assim como a pesadíssima "Nazi Gratiluz", enquanto que "Guilhotina em Cristo" desce mais pancadas na religião e nos praticantes de estelionato de todos os tipos.

"Bostanágua" pega no pé dos idiotas que empesteiam as nossas vidas cotidianas e traz guitarras típicas do heavy metal tradicional, em uma saudável variação que esbarra na audácia, indo além do hadcore.

Como não economizaram na violência e na brutalidade, a mensagem chega como um míssil destruidor. Em vez de privilegiar um hit, o quarteto paulistano investe pesado em um conteúdo uniforme e certeiro. Tolerar a intolerância é aniquilar o futuro e facilitar a vida dos fascistas. Quer mensagem mais clara do que essa?

O novo disco já nasce clássico e se torna o melhor da banda neste século, reacendendo a chama do protesto e do ativismo político que parecia ter desaparecido do cenário dos Ratos de Porão.

Assim como a Dorsal e a bandas punks, os Ratos de Porão resgatam o engajamento típico de momentos trágicos da história humana e não decepcionaram: pulverizam a “necropolítica” e investem com tudo contra as ameaças de sempre à democracia e à liberdade de expressão.

“Se por um lado o país nunca esteve perto de resolver seus problemas estruturais, estes últimos anos trouxeram de volta a fome, a inflação, as ameaças de rompimento com a democracia e, como se não bastasse, uma pandemia”, diz João Gordo.

Quem diria que os Ratos fariam álbum conceitual, e que o tema seria a era bolsonarista e a ascensão da extrema-direita no país. A parte musical por sua vez traz uma revisitação do período crossover da banda no final da década de 1980, época igualmente marcada pela crise e desilusão.

A visita do quarteto ao passado foi crucial para que o trabalho tomasse forma. A trilogia crossover, “Cada Dia Mais Sujo e Agressivo” (1987), “Brasil”(1989) e “Anarkophobia” (1990) representou a mais contundente crítica social dentro da música brasileira, com um série de ataques demolidores |ás instituições e ao caráter do povo. Era hardcore misturado com thrash metal violentíssimo, coisa que assustava até mesmo os mais radicais.

Portanto, “Necropolítica” não é um álbum de nostálgico ou retrô. É a reciclagem de um espírito que de repente volta a fazer sentido. A produção do disco ficou por conta da própria banda no estúdio Family Mob em São Paulo, durante outubro de 2021. A mixagem foi feita em janeiro de 2022 por Fernando Sanches no estúdio El Rocha.

Nenhum comentário:

Postar um comentário