quarta-feira, 13 de julho de 2022

Anitta antifascista é um tapa na cara do rock acomodado e estagnado

 Os mundos colidem e provocam tremores capazes de influenciar a política e os rumos da sociedade. Mau sinal para a extrema-direita, que estrebucha no Brasil e chafurda na lama nos Estados Unidos, por mais que ainda respire e se sinta fortalecida na França.

Das situações mais improváveis, a artista mais engajada e ativa politicamente é a cantora Anitta, que pratica uma espécie de funk carioca eletrônico com toques pop de qualidade bastante discutível. 

No entanto, sua coragem e rebeldia provocam espanto, admiração e inveja na maioria dos roqueiros caretas que se sentem confortáveis no mundo da isenção/silêncio ideológico(s) em tempos arriscados e perigosos.

A cantora não hesitou um minuto sequer em pregar no ano passado em apoio às urnas eletrônicas, atacadas diariamente pelo nefasto presidente da República e seus seguidores/cúmplices.

Ela dobrou a aposta e pediu nos palcos e nas lives diversas, e também em entrevistas, para que os jovens de 16 e 17 anos torassem título de eleitor para votar neste ano. Ganhou mais ira dos bolsonaristas, já que ela não escondia a antipatia ao capitão fascista.

Avançou mais quando citava vários descalabros administrativos, políticos e sociais, além de apoiar minorias, movimentos LGBTQIA+ e antirrascistas. Por fim, apostou tudo quando a violência política e social vitimou indígenas, negros e ativistas de esquerda/petistas, declarando oficialmente apoio e voto no ex-presidente Luiz Inácio Lul da Silva, do PT.

Mais do que ousada, foi uma atitude arriscada, perigosa e quase irresponsável quando se observa que é uma das cinco mais importantes e ouvidas artistas da música em todo o mundo. 

Com milhões e milhões de seguidores onde quer que seja, é provavelmente a maior influenciadora  digital do mundo hoje - e não pestanejou em escolher um lado na batalha pela sobrevivência da democracia e da civilização.

Ela deixou bem claro que não é filiada nem apoiadora de carteirinha, muito menos afinada ideologicamente com a esquerda de inspiração petista. 

Declarou  várias vezes que sua opção é a favor da civilização contra a barbárie; dos direitos humanos contra o ódio e preconceito; da paz contra a violência; da educação contra as armas; do conhecimento contra o obscurantismo; da democracia contra o autoritarismo; da modernidade contra o medievalismo de viés religioso. Fez muito mais e foi muito mais longe do que qualquer roqueiro.

Não é coincidência que Anitta tenha assumido a liderança artística nacional ao mesmo tempo em que Roger Waters subiu o tom contra espectadores conservadores e o Rage Against the Machine, tenha chutado canelas e bundas cm força em seu primeiro show em 11 anos.

Incomodado cm algumas vaias recebidas em canções consideradas engajadas e durante os rápidos discursos antifascistas em uma apresentação recente nos Estados Unidos, o ex-baixista e cantor do Pink Floyd disparou: "Todo mundo sabe o que esperas da minha música e do meu show. Portanto, sumam daqui; refugiem-se no bar e se encham de cerveja!"

No caso do Rage Against the |Machine, banda política e engajada por excelência, a coisa foi mais insana. Anos atrás  guitarrista Tom Morello, em show solo já havia comentado a respeito, no palco, a "protestos" contra falas entre as músicas e a algumas canções: "Não é possível que, depois de 25 anos, só agora vocês tenham percebido - ou entendido - o que significam as mensagens".

Pois aconteceu de novo. Após o primeiro show de retorno, em Wisconsin, nos Estados Unidos, uma torrente de críticas ao "discurso político" da banda inundou as redes sociais.

Antes do show, o grupo já tinha anunciado a doação de quase meio milhão de dólares para organizações de direitos reprodutivos em Wisconsin e Illinois. Nos telões, frases como "Nazi Lives Don't Matter" (vidas nazistas não importam) e contra a decisão da Suprema Corte americana que derrubou a lei nacional que permitia o aborto - agora a decisão cabe a cada Estado americano. Ao menos 20 dos Estados imediatamente proibiram a interrupção da gestação ou estão em vias de fazer isso em breve.

O site Loudwire fez uma rápida busca no Twitter e pescou algumas pérolas, como essa: "Não há nada pior do que pagar para assistir a um show e receber uma aula sobre as crenças políticas da banda". Ou então essa: "Tô aqui escutando os tempos pré-políticos do Rage Against The Machine. Não era legal quando eles só tocavam guitarra alto pra caramba?"

O imbecil se referia a uma música de 1992, no COMEÇO da banda - "Know Your Enemy" fala sobre ignorância política e denuncia a "elite" - qualquer uma - como "inimiga do povo". O site Tenho Mais Discos do Que Amigos fez um texto onde expõe alguns dos tuítes dessa gente estúpida e ignorante.

São tempos tenebrosos e terríveis, certamente os mais perigosos para a democracia em boa parte do mundo desde a Segunda Guerra Mundial. No entanto, vamos reconhecer: não deixa de ser estimulante combater o fascismo, a ignorância e a deformação de caráter dessa gente que quer espalhar trevas e destruir a democracia.


Nenhum comentário:

Postar um comentário