quarta-feira, 2 de setembro de 2020

Trinta anos do 'Time’s Up’, clássico álbum do Living Colour


Demétrius Carvalho* - publicado originalmente no site Roque Reverso


O álbum “Time’s Up” completa 30 anos nesta sexta-feira, 28 de agosto de 2020, e precisa antes de tudo ser colocado em um contexto histórico. O ano era 1990. A MTV era febre entre os jovens amantes de música que se deliciavam com videoclipes que basicamente era a nova plataforma de se ouvir música, parafraseando os tempos atuais. E se a MTV era a febre dos jovens, Living Colour era a febre da MTV.

O quarteto de Nova York trazia um rock que não se delimitava apenas ao rock ou ao hard rock. Funk metal ou metal alternativo poderiam ser aplicados aos rapazes e, novamente contextuando historicamente, ambas as definições eram novas e assim podemos dizer que eles apresentavam novidades musicais de fato ao cenário.

Ainda podemos colocar o LC no time das músicas que você precisa ver tal qual Michael Jackson, David Bowie ou Queen. Uma coisa era ouvir suas canções. Outra era presenciar uma banda de rock negra com um visual na grande maioria das vezes muito coloridas do tipo que vocês jamais diriam se tratar de uma banda de rock pelo visual, dreads e afins.

Mas vamos enfim para o disco que completa 30 anos de idade. O disco abre com a música que dá nome ao disco. “Time’s Up” que começa com paulada que chega para mostrar tanto o vigor dos caras como aspectos não tão habituais como o slap nos baixos.

As guitarras de Vernon Reid passeavam entre o primor técnico ao guitar noise que se tornaria bastante popular algum tempo depois.

“History Lesson” vem em seguida com uma espécie de vinheta entre a próxima, que chama-se “Pride”. A inconfundível voz de Corey Glover em uma excelente música dava identidade musical ao grupo.

“Love Rears Its Ugly Head” foi um dos “improváveis hits” do disco. Uma música difícil de classificar com tanto resquícios sonoros de outros gêneros, mas que foi uma das mais conhecidas do disco.

“New Jack Theme” já era mais um hard rock vigoroso, mas não se engane. Você sempre pode encontrar novidades no meio de suas músicas como samplers, acordes no baixo e progressões harmônicas não habituais ao estilo.

Em “Someone Like You”, por exemplo, você já deve até estar habituado aos enxertos sonoros e identidade sonora imprimida ao disco que na verdade era o segundo da carreira da banda.

Outro improvável hit do disco vem em seguida com “Elvis is Dead”. E segue com “Type”, que foi outro ponto forte do disco.

Ambas músicas parecem dentro dos padrões da banda um pouco mais lineares no experimentalismo dos rapazes, mas não se enganem, mesmo nessas canções, coelhos são tirados das cartolas.

“Information Overload” tem uma introdução de guitarra que você poderia jurar que foi o Tom Morello do Rage Against The Machine que os inspirou, só que… antes do surgimento do RATM.

“Under Cover of Darkness” tem uma introdução muito mais suave do que você acredita que possa ser uma balada e de repente surge um suingue funkeado, umas ideias jazzísticas no meio dos caras que não estavam nem aí para seguir padrões.

“Ology” é outra vinheta com direito a um solo de baixo muito mais técnico que se costuma ouvir no rock e tem-se que frisar que os quatro eram exímios músicos.

“Fight the Fight” vem em seguida, não deixando a energia cair e temos “Tag Team Partners”. Outra vinheta só que vocal com direito a beatbox meus amigos. Não se enganem. Os caras estavam à frente do seu tempo.

A caribenha “Solace of You” seria quase que a “D’yer Mak’er” deles e, para fechar com chave de ouro, “This is This Life” para o disco que ganharia o Grammy de Melhor Performance de Hard Rock no ano de 1991.

Muito gente torceu o nariz para o grupo afro descendente ultra colorido na época, mas quando o som começava, não tinha como não dar o braço à torcer.

Muito do que se ouve hoje, teve influência desse disco. Sempre vale a pena conferir e aumente o som pois eles conseguem ser dançantes apesar de tudo em boa parte do tempo.

P.S.: Diga-se de passagem que o Living Colour devolvia à comunidade negra o gênero que criaram…

 *Demétrius Carvalho é músico, baixista do Jazza Roll e da banda …E Mais Dez Territórios À sua Escolha.

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