Um naufrágio surpreendente ocorre nas "celebrações" de 40 anos do Rick in Rio - data que, na verdade, deveria ser comemorada em 2025;na tentativa de justificar o injustificável - um festival de rock que tem cada vez menos rock, mesmo tendo rock no nome e na marca -,o conceito do evento se perde e vira alvo fácil de detratores, e com toda a razão.
Um festival brasileiro, realizado no Brasil, decidir "criar" um "Dia Brasil", só com artistas brasileiros, somente em sua 10ª edição - e com apenas uma banda de rock - me parece ser um improviso inaceitável para um festival deste tamanho que não conseguiu uma atração internacional de de peso para figurar no dia 21 de setembro, Por que só agora, 40 anos depois, dedicar um dia inteiro só para brasileiros?
À falta de explicação melhor, ou qualquer explicação, era preferível o silêncio, mas a estridência deu o tom quando os promotores resolveram copiar sem o menor constrangimento o "evento" "We Are the World", quando astros de primeiro time da música pop norte-americana se juntaram eme estúdio para gravar a canção de mesmo nome, em 1985, para arrecadar fundos para combater a fome na África.
O clipe copiado foi para a música "Deixa o Coração Falar" (com erro grosseiro de português no título), que terá os direitos autorais revertidos para duas entidades assistenciais. Por mais louvável que tenha sido a iniciativa - a canção não é ruim -, o constrangimento é evidente por causa da cópia descarada de We Are the World" e do motivo de sua "ocorrência" - legitimar a criação do "Dia Brasil", que não passa de um tapa-buracos na grade.
Ao constrangimento de tentar legitimar o improviso com escalação de artistas alheios ao rock - é da-lhe sertanejos, pagodeiros e ivetes - somou-se outro, o de tentar legitimar o oportunismo de "expandir" o festival para ressaltar a "diversidade e a pluralidade", seja lá o que isso signifique para os organizadores.
Roberta Medina, filha do dono da marca e criador do festival, Roberto Medina, hoje a principal executiva da empresa que comanda a área de entretenimento do grupo, piorou as coias ao usar o batido argumento "Rock é atitude", que sempre serviu para tudo, menos para onde deveria ser aplicado.
Se rock é atitude, então certamente deveria estar definitivamente fora do Rock in Rio, que deveria ter o seu nome mudado. nada mais distante da essência do rock, e do festival, do que a escalação de uma profusão de sertanejos, pagodeiros e axés da vida - todos tão intimamente associados a muitas das priores práticas do "mercado" que acabam por jogar por terra qualquer aspiração de dignidade roqueira artística roqueira atual.
Totalmente inserido dentro da lógica do entretenimento puro, a música se tornou secundária dentro de um imenso parque de diversões.
E, dentro desse plano secundário que virou a música no Rock in Rio, o rock foi escanteado, sendo marginalizado em sua própria "casa". Nem mesmo serve mais de trilha sonora, mesmo que ao longe, para os passeios de na "roda gigante" ou na "tirolesa".
Roberta Medina sabe o que é rock, sabe o imenso tamanho da marca Rock in Rio e faz ideia do que é atitude dentro do rock.
Ignora deliberadamente os seus significados para justificar a mercantilização cultural do festival e pra aumentar (ou manter) a rentabilidade da venda de ingressos. sem o menor pudor, atribui "atitude" onde ela não passou nem de longe e enxerga virtudes do rock inexistentes em outras paragens, desrespeitando o gênero e o próprio legado do evento que ela promove e comanda.
Nem mesmo os amigos mais chegados que reclamam da falta de rock conseguem fazer Roberto Medina e sua filha repensarem o vilipêndio que estão fazendo com a marca. "Meus amigos roqueiros ficam loucos, querem me matar. Mas é um processo democrático irreversível rumo à diversidade", disse em entrevista ao jornal "O Globo".
Ainda que irreversível, como podemos observar desde 2011, a família Medina poderia poupar o púbico de sua hipocrisia ao justificar sertanejos e pagodeiros em grande destaque no festival. Teriam marcado essa presença grande e destacada em edições anteriores, coisa que não ocorreu.
Se tivemos de aguentar Ivete Sangalo, Cluadia Leitte e atrações pop internacionais ruins, cuja presença em um Rock in Rio era altamente questionável, era porque ainda nos enganávamos achando que ainda havia alguma essência naquilo que aprendemos a admirar.
Alceu Valença, Elba Ramalho, Ivan Lins e Al Jarreau na primeira edição, em 1985, era a "diversidade", mas não davam o tom no evento.
Quarenta anos depois, tudo mudou, e para muito pior, para uma parcela expressiva de quem gosta de música. O Rock in Rio trocou a sua essência (alma?) pela suposta "diversidade" e pela suposta "democratização" do ambiente.
É uma posta arriscada, mas temos de admitir que é irreversível. Temo que aponte para mudanças tão radicais que estejamos testemunhando o fim de uma era e de um conceito. Que seja assim, então - que o Rock in Rio se transforme em outra coisa em deixe o verdadeiro rock em paz.
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