O medo de perder tira a vontade de ganhar. A máxima esportiva é um dos mantras de treinadores e "coaches" de todas as espécies e se revela verdadeiro em muitos casos. A "extinta" Virada Cultural paulistana, que não existe mais como a conhecemos no passado, parece se encaixar prefeitamentena expressão.
Enquanto a Prefeitura de São Paulo exalta o "sucesso" da edição de 2024, que teria reunido supostamente 4,5 milhões de pessoas - nenhuma fonte independente atestou esse número -, sobram queixas sobre a desorganização na divulgação de atrações de última hora, problemas de infraestrutura gerais e, principalmente, o fato de não ser mais uma "Virada".
Até mesmo vereadores que apoiam o prefeito Ricardo Nunes (MDB), candidato à reeleição nas eleições este ano, silenciam sobre o tema. Sabem que a nova orientação, que na verdade é velha e vem desde 2017, desidrata o evento e acaba com o conceito original, de integração e ocupação da região central.
Admitem que o mote principal para a mudança que destruiu a Virada pe a questão da segurança. Com palcos espalhados pela cidade sem conexão entre eles, pulveriza-se o público e, teoricamente, facilita o "controle" do povo pelos órgãos de segurança.
A nova secretária de Cultura da cidade, Lígia Jalantonio, comemora o que considera baixos índices de violência, com o registro de pouco mais de 120 casos de furtos e roubos, quase todos na região central. .
"Penso a Virada como uma política de longo prazo e que também tem o papel de formar público e técnicos. Temos toda uma cadeia de economia criativa voltada para o mercado mesmo. Foi um sucesso, com um público muito forte nas arenas afastadas do centro", declarou a executiva ao site Splash, do portal UOL.
A obsessão com a "segurança", manifestada pelo ex-prefeito João Doria (PSDB) em 2017, não passa de um mascaramento da falta de competência da administração pública e todas as políticas em proteger a população, especialmente em tempos em que a cidade é administrada por partidos e prefeito de viés conservador, e de direta.
Doria também usou afirmar que a Virada Cultural o centro "atrapalhava" o cotidiano da cidade e gerava "muitas reclamações" de moradores, principalmente os do centro - área pouco povoada por residentes fixos.
Uma Virada que não é. Virada, com apenas um dos 12 palcos funcionando 24 horas e palcos tão distantes um do outro impossibilitando a conexão sacramentam a falência do evento e a sua destruição, justamente uma ideia que virou referência internacional
Claro que os apoiadores da atual administração, que é uma continuação das péssimas gestões de Doria e de Bruno Covas (PSDB), se apressam a defender o atual formato vomitando sobre "diversidade" e "valorização da periferia", coisas tão etéreas e inexistentes nas administrações de partidos de direita quanto aeroportos para discos voadores.
Se a preocupação com a a cultura para a periferia fosse real haveria eventos importantes e frequentes ao longo do ano, com artistas importantes e conceito bel elaborados, e ão somente em um final de semana durante uma Virada esvaziada,
As edições mais interessantes da Virada Cultural de São Paulo, que ocorreram durante as administrações de esquerda - Fernando Haddad (2013 a 2016) - e centro-direita - José Serra (PSDB, 2004 a 2006) e Gilberto Kassab (PSD, 2006 a 2012) - jamais descuidaram de levar cultura para os bairros mais distantes.
Os palcos principais estavam no centro, estimulando a população da Grande São Paulo e do interior a ocupar o centro da capital, mas as casas de cultura espalhadas pela cidade, assim como os centros da juventude, recebiam diversos espetáculos alternativos.
Mais do que isso, a periferia recebia atrações de todos os tipos, de graça, ao longo do ano todo, como uma espécie de "consequência" do que a Virada proporcionava,.
Com shows confinados a teatros pequenos dos Sescs e palcos nos bairros distantes com encerramento às 21h ou 22h, uma ideia original e copiada foi torpedeada sem dó por gente que considera cultura coisa supérflua e marginal, uma "chatice dispendiosa" que só serve para servir de palco para "críticas à administração e propaganda de ideias esquerdistas e de comportamento questionável", como bradou um político conservador da cidade no ano passado, em uma reunião privada.
Esse é o pensamento dessa elite conservadora a respeito da cultura e do entretenimento de qualidade, que flerta com as ideias do nefasto ex-presidente Jair Bolsonaro e todo o seu séquito de seres abomináveis da extrema-direita que flerta com o fascismo.
Essa gente, que poderia se beneficiar de uma vitrine importante para divulgar a administração, prefere o obscurantismo e o retrocesso em todos os sentidos por conta de uma ojeriza à cultura. Esse pensamento tacanho e tosco contaminou o governo estadual, que extinguiu faz tempo as Viradas que ocorriam em junho e julho em várias cidades do interior.
A Virada Cultura 2024 custou R$ 60 milhões, uma das mais caras já realizadas, e foi a pior de todas; e assim o centro continua abandonado e servindo apenas para discursos demagógicos de revitalização enquanto o comércio morre e a Cracolândia se espalha, assim como o crime organizado.
A administração conservadora de São Paulo conseguiu matar um dos eventos mais cintilantes e bem-sucedidos da cidade
Clique aqui para ler um artigo do jornal Folha de S. Paulo que tenta comparar o evento deste ano com o de dez anos atrás. Quanta diferença... https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2024/05/como-virada-cultural-de-sao-paulo-foi-de-uma-referencia-a-um-fiasco.shtml
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