Marcelo Moreira
Midgard (FOTO: DIVULGAÇÃO)
Recuperar o prazer de escutar um som em uma boa vitrola, daquelas valvuladas e com agulha de diamante, que faz o característico “ruído” de arranhar o vinil. E de preferência com bastante peso. A tendência que ganhou força na Inglaterra há 15 anos e que assolou pouco depois os Estados Unidos, a Alemanha e a Suécia está crescendo o Brasil nas mãos de ótimas bandas autorais.
Alguns nomes importantes desse movimento interessante são a carioca Gods & Punks, a paulistana Weedevil e a paranese Pentral, que misturam stoner metal, rock progressivo e um pouco de grunge. Também é bom lembrar da Carro Bomba *mais metal tradicional), Baranga (hard rock) e Cosmic Rover (hard rock).
Anva safra vem com a paulista Midgard e a paranaense Bad Bebop, que buscam um som mais moderno, com timbres diferentes, para acrescentar a um poderoso stoner. É música com um certo cheiro d ‘mofo” (ainda vem), ecoando influências do hard rock dos anos 70 e do metal tradicional do anos 80. E tome doses pesadas de Black Sabbath, Deep Purple, Judas Priest e Uriah Heep.
O agora quinteto Midgard surgiu no final do século passado e Bauru, no interior paulista, e fez alguns registros de som bem pesado e com produção simples, as intempéries profissionais provocou vários hiatos, até que na pandeia a volta foi definitiva.
“Verdugos” , o CD recém-lançado e mostra um vigoroso stoner/doom metal com pegada underground e muita “sujeira”. Nos anos 80 seria definido, de forma sexista, como “som de macho”, mas agora os tempos são outros (ainda bem). Além do mais, a Midgard efetivou a cantora Paula Jabur, uma grande incentivadora da banda desde sempre que auxiliava na administração e divulgação.
Dividindo os vocais com o baixista F.L;Y., o som ficou mais poderoso e versátil, possibilitando duetos interessantes que imprimem mais dramaticidade e intensidade às letras, tudo com um peso calibrado da guitarras de Omar Rezende.
Este segundo álbum d carreira traz uma banda madura que busca um som mais redondo e direto, mesmo que haja passagens mais progressivas e intrincadas, o que é muito bom “Quisemos priorizar o som que queríamos e que sempre fizemos. A receptividade está sendo boa”, diz F.L..Y.
Sem conter a empolgação, Paula comenta que a Midgard teve muito tempo para planejar o álbum e a nova fase. “São poucas as bandas que abraçam o doom metal e o stoner mais pesado. Acho qeu somos uma banda que vai atingir um público que estava carente neste subgênero.
A nova formação, com Paula Jabur, estreia ao mesmo tempo em que celebra a parceria com a produto Som o Farma, de Sorocaba, que está dando um suporte bem-vindo na reestruturação da carreira da Midgard.
Antes do álbum, dois singles foram então lançados: em 2021 uma nova versão do clássico “Midnight Rainbow” que foi originalmente gravada na demo “Lamúria”, e em 2022 “Crying At The Party”, essa uma composição inédita que trazia novas referências ao som do Midgard.
Gravado no Mr. Rec Vintage Audios em Bauru/SP, com produção de Amauri Muniz e mixagem e masterização por Caio Costanzo, “Verdugos” reúne nove faixas e compila composições do passado histórico da banda como “Last Sanctuary”, “Pearls To The Pigs” e “Midnight Rainbow”, com outras mais recentes como “Psy-code-hellika”, “Wild Walkers”, “Another Day”, “Crying At The Party’, “Nocturnal Storm” e “Silent Song”.
Com arte de capa assinada pelo renomado Jean Michel (Designations Artwork), que já desenvolveu trabalhos para bandas como Metal Church, Queensrÿche, Vixen e Lynch Mob, “Verdugos” trata, de forma resumida, sobre egoísmo.
“A palavra ‘verdugos’ significa carrascos, algozes, é quem aplica punições a outrem”, explica o vocalista e baixista F.L.Y.. “Na capa criada pelo Jean Michel, vemos um planeta em pele suturada, convalescendo. As suturas imperfeitas e bem apertadas representam as demarcações territoriais de um planeta doente, cujos habitantes racionais são verdugos uns dos outros e de si próprios, atrapalhando uns aos outros, cada um com suas prioridades: uma minoria mais evoluída e uma maioria alienada e incapaz de ceder um milímetro que seja pelo bem comum.”
Como o grunge poderia soar
Os paranaenses da Bad bebop tem menos quilometragem, mas a ambição é bem grande. O metal mais tradicional dos anos 80 fo acrescido de uma timbragem mais moderna de guitarra e bateria, dando uma cara diferente ao stoner brasileiro. É quase como se o grunge soasse como deveria ter soado desde sempre, como um subgênero pesado e versátil, e não mero pastiche do punk 77 praticado por grupos como o Nirvana.
“Last Call to Mars” é o terceiro disco do quarteto de Curitiba e um dos melhores lançamentos de 2024 no Brasil. As linhas de guitarra são fortes e criativas, como as de baixo, passeando pelo stoner e pelo progressivo
“Não foi nada calculado, como uase sempre ocorre com todas as bandas, mas devo reconhecer que me surpreendi com o resultado”, diz o baterista Celso Costa. “Tudo soa orgânico e diferente, quase como uma gravação totalmente ao vivo no estúdio.”
Formada em 2015, a Bad Bebop entra em nova fase com a entrada de José Trindade nos vocais, o que deu uma elevada no som da banda, assim como seu novo baixista, Roger Larsen. Fazem parte ainda os “veteranos” Henrique Bertol na guitarra e Celso Costa na bateria.
O disco abre com “One Last Time”, faixa bem pesada e que remete aos sons mais legais e diferentes dos ano 90. “Stepping Into Madness” enfia os pés em um som mais stoner, arrastado e carregado
“Empathy” seguconfirma isso, com uma passagem instrumental mais lenta no meio da canção, e expandindo um pouco mais o que já vinha sendo apresentado ao longo do disco. “Falling Man” tem a melhor performance vocal de José do disco todo, abusando de seu drive, e na mesma linha, enquanto que “the Road” mergulha no thrash metal e faz o mundo girar e estremecer.
Há outros bons momentos, como “Hit The Ground”, que é o épico do trabalho e a canção mais bem trabalhada, com riffs contagiantes e solos de guitarras estrategicamente executados, como nos melhores exemplos do metal tradicional dos anos 80.
Assim como a Midgard, a Bad Bebop demonstra maturidade e ousadia em um subestilo pouco difundido no Brasil, o que aumenta o risco de patinar e escorregar, mas, por outro lado , abre portas interessantes em termos artísticos e criativos.
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