domingo, 1 de dezembro de 2024

'Blow by Blow':O auge da guitarra implacável de Jeff Beck faz 50 anos

Marcelo Moreira



O astro purista da guitarra tinha passado pelo pop, pelo blues, pelo rock, pela soul music e hard rock. Mas ninguém imaginava que ele enveredaria pelo... jazz????

Só mesmo Jeff Beck, o guitarrista mais badalado da Inglaterra em meados dos anos 70 ao lado de Roy Gallagher e John McLaughlin, tinha coragem para empreender tal virada radical na carreira.

Cultuado e venerado, era frequentemente acusado de irascível, temperamental e anticomercial, com alta propensão para a autossabotagem. Isso nunca o incomodou: só lhe interessava a originalidade artística e a independência para fazer o que queria.

Morto em 2023 aos 78 anos, Beck foi radicval e o mais inquieto do trio que encantou o mundo a partir do blues e do pop inglês sessentista – ele, Eric Clapton e Jimmy Page, os três bons amigos.

Eternamente insatisfeito, rosnava aos 18 anos para os companheiros dos Tridents quando foi chamado para substituir Clapton nos Yardbirds em 1963. Três anos depois, logo perdeu o encanto de dividir as guitarras com Page na mesma banda e saiu para montar a sua própria iniciativa de um blues mais puro.

Com Rod Stewart no Jeff Beck Group, o blues explodiu, mas durou só dois anos. Ele em seguida mergulhou na soul music e no hard rock com Beck, Bogert and Appice que finalmente se decidisse pelo jazz com a ajuda de George Martin, o produtor dos Beatles.

Como se cansava logo e fácil de projetos variados, nem se deu ao trabalho de avisar Tim Bogert (baixo)e Carmine Appice (vocais)que estava em outra. Comôps algumas canções e rearranjou outras em entrou em estúdio em meados de 1974 para realizar um dos grandes álbuns de todos os tempos, “Blow by Blow”, que completa 50 anos em 2025.

Todo instrumental. O disco mostra Beck no auge da habilidade aos 31 anos de idade, imprimindo suas marcas registradas em tema que que se destacam pela sensibilidade, pelo feeling pelo profundo bom gosto nos timbres, que penetram nos tímpanos com uma força inigualável.

Bastante influenciado pelo amigo John McLaughlin, que se trnava um músico aclamado de jazz com sua Mahavishnu Orchestra e passagem pela banda de Miles Davis, Jeff Beck começou a dar indícios do que viria ainda em 1972, antes da aventura de rock pesado com Beck, Bogert and Appice.


 

“Definitely Maybe”, maravilhosa e monumental, era um dos ápices da então formação mais soul do Jeff Beck Group. Era um tema instrumental inspirador e épico que arrancou elogios unânimes da crítica.

Ao mesmo tempo em que forjava o trio de rock pesado, iniciava uma parceria com Stevie Wonder, que lhe prometera uma canção bombástica para servir de carro-chefe do nascente trio. “Superstition” foi composta especialmente para a guitarra de Beck, que amou o resultado.

O problema é que os produtores e empresários de Wonder também amaram, e o convenceram a “pedir de volta” o presente. A canção foi lançada em single por Stevie Wonder e se tornou sucesso mundial, causando um rompimento momentâneo entre os dois gênios

“Superstition” até entrou no disco único nos shows d trio,, mas sem grande impacto. Só que Berck mal sabia que receberia um magistral pedido de desculpas quando decidiu acabar com Beck, Bogert and Appice: “’Cuase We’ve Endend as Lovers” é uma das composições mais brilhantes de Stevie Wonder e se tornou o carro-chete de “Blow by Blow”.

Delicada e surpreendente, exala romantismo e melancolia em doses equilibradas, como “Definitely Maybe”, e conduz o ouvinte e áreas inexploradas pela guitarra roqueira até então. É jazz puro na sua maior essência.

Inspirado, o guitarrista gostou da sugestão do produtor George Martin e “desconstruiu” uma canção dos Beatles. A escolha recaiu pela obscura “She’s a Woman”, uma tentativa de Paul McCartney de reviver o auge da soul music/rhythm and blues americana dos anos 60. Ficou excelente a mistura de blues e jazz moderno feita por Beck.

“Thelomius”, outra de Stevie Wonder, virou um bebop extraordinário, em que a guitarra passeia por áreas estranhas e instigantes, acrescentando novas cores e elementos a ponto de transformar a música por completo.

Com o parceiro Max Middleton, tecladista subestimado no rock, Beck escreveu a ótima “You Know What I Mean”, com seus fraseados mais rápidos e inusitados, evidenciando a sua genialidade. A dupla também cometeu “Scatterbrain”, uma peça de jazz progressivo que surpreende por ser uma música totalmente imprevisível.

Middleton ainda colabora com “Freeway Jam”, uma canção de conceito urbano e moderno, ode a guitarra de Jeff Beck serve de condutor para um painel sonoro mais próximo da música pop embalada a teclados e guitarras envolventes.

“Blow by Blow” foi um sucesso monumental é o mais bem-sucedido de música instrumental dentro do mundo pop. Há críticos que o consideram a obra máxima do jazz rock, superior até mesmo a maravilhas perpetradas por Mies Davis



Nenhum comentário:

Postar um comentário