terça-feira, 10 de dezembro de 2024

Os 50 anos da obra-prima 'The Lamb Lies Down ob Vroadway', do Genesis

Marcelo Moreira


Uma obra esquisita, autoindulgente e com altas doses de presunção, ainda que com altas doses de presunção e pedantismo, ainda que tenha boas canções e um ritmo frenético e alguns toques filosóficos.

“The Lamb Lies Down”, do Genesis, lançado em 1974,levou um crítico americano a amaldiçoar Pete Townshend, guitarrista e líder de Yhe Wjo, como aquele que criou o “monstro” conhecido como álbum conceitual com “Tommy”, em 1969.

O então álbum duplo em LP, até aquele momento a obra máxima do quinteto inglês de rock progressivo, dividiu muitas opiniões e não foi bem recebido nos Estados – foi considerado um álbum “difícil, intrincado e descontextualizado” – como uma banda inglesa com um vocalista e letrista metido a intlectul se atreve a retratar o cotidiano de um imigrante porto-riquenho em Nova York?

As críticas não são de todo infundadas, mas o fato é que, 50 anos depois, “The Lamb Lies Down Broadway” segue sendo venerado por amantes de rock progressivo e por aqueles que amam o Genesis, sobretudo da primeira fase, aquela que tinha a formação clássica como vocalista Peter Gabriel.

Se uns acham que o álbum até hoje é o melhor da banda, outros o considerado retrato perfeito de uma banda disfuncional que já estava crise criativa e administrativa, que culminaria com a saída de Gabriel para a carreira solo no final do ano seguinte.

É essa obra polêmica que deverá ser reeditada em breve para celebrar o seu cinquentenário, em edição de luxo que deve conter muitas faixas adicionais e inéditas, além de um aguardado livreto com informações nunca antes publicadas sobre a composição e a gravação da obra.

Dentre as bandas britânicas de rock progressivo dos nos 70, considera-se que o King Crimson era a mais ambiciosa, em termos musicais, ao avançar para o jazz, para a música experimental e para a música erudita. Pois o Genesis era tão ou mais ambicioso por incorporar elementos teatrais em suas composições apresentações ao vivo.

Não bastasse isso, Gabriel manifestava intenções literárias ao escrever letras que eram verdadeiros contos, como “Dance on the Moonlight Knight” e “Returno of the Giant Hogweed”, tudo temperado com fantasia e elementos de literatura fantástica. Para os puristas do rock, era presunção demais. Para os detratores, era motivo de riso – onde já se viu achar que rock era arte?
 





Mesmo ridicularizados, os integrantes da banda acreditavam no direcionamento e o tecladista Tony Banks declarou certa vez que tinha certeza de que o Genesis estava fazendo história com os álbuns “Selling England by the Pound” e The Lamb Lies Down on Broadway”.

O quinteto também reunia as características principais dos músicos das bandas progressivas – quase sempre universitários, com sólida formação educacional e cultural, de classe média e altamente perfeccionistas.

Gabriel e Bakns eram os representantes típicos desse ecossistema, enquanto que o baixista/guitarrista Mike Rutherford, mais discreto, fazia o tipo mais bonachão, apesar de ser um intelectual.

O guitarrista Anthçny Philips não tinha esse perfil, além de não ser o virtuoso que se esperava. Saiu em 1971 para dar lugar ao ás Stteve Hackett, t6ão presunçoso e arrogante quanto os outros. O baterista Phil Collins, que substituíra Johjn Mayhew meses antes, também fugia um pouco do perfil intelectualizado, mas era bom demais e tocava qualquer coisa.

Era uma combinação improvável, mas conseguiram a proeza de amenizar as divergências e focar na música, como nos álbuns já citados e no bom “Nursery Crime”.

Enquanto houve harmonia as coisas funcionaram no estúdio e “The Lamb Lies Down on Broadway” foi o resultado de uma intensa colaboração. Se o roteiro da história conceitual é meio confuso e com nuances demais, os integrantes creditam o sucesso do álbum justamente por essa “aura” de conto filosófico com mistério sobre significados não explicitados.

A revista New Musical Express reconheceu méritos artísticos do álbum à época, mas insistiu em compará-lo com “Quadrophenia”, do Who, lançado um ano antes, e decretou que o conceito do álbum “The Lamb Lies Down on Broadway” estava “atrasado”, já que Pete Townashend tinha “baixado a bola” e composto uma ópera-rock com base na realidade cotidiana ao recuperar a história do movimento mod inglês dos anos 60.




Para os americanos, o que sobro foi mau humor ao escutar uma banda inglesa abordar questões complicadas como preconceito, racismo, xenofobia, desigualdade social e a extrema competitividade de ima sociedade capitalista onde tudo se resumia a vencedores e perdedores.

De qualquer forma, os resultados foram considerados bons em todos os sentidos, mas o processo todo cobrou um preço alto para a banda. Exaustos e estressados, e com pouco tempo de folga, as brigas se intensificaram, assim como a luta elo controle criativo do Genesis, opondo Gabriel e Bakns, com Hackett oscilando entre os dois lados.

O vocalista não escondia de ninguém que sonhava com uma carreira solo onde pudesse experimentar mais e ousar mais. Imaginava algo como o que ocorrida com Rod Stewart, que então mantinha carreira paralela enquanto estava nos Faces.

A ideia desagradou a todos, e sua saída era uma questão de tempo em 1975. O bom da coisa para o Genesis é que tudo foi tratado abertamente, sem as intrigas que sempre marcam as cisões artísticas.

Já planejando o futuro sem o vocalista, o Genesis fez uma transição relativamente sem problemas ao oficializar o baterista Phil Collins como vocalista, ele que já tinha cantado algumas canções d banda e fazia vocais adicionais.

Decisão mais do que acertada, já que Collins tinha timbre de voz parecido como de Gabriel e se mostrou um exímio compositor tanto de canções mais pop como mais progressivas.

Ao vivo, dividia-se entre o microfone e a bateria, contando até 1978 com auxílios luxuosos de bateristas como Bill Bruford (ex-Yes e King Crimson) e Chester Thompson

“The Lamb Lies Down on Broadway” é o epitáfio da faze mais criativa em termos de ousadia e experimentação. Um final pomposo e de respeito para a passagem de Peter Gabriel, que se consagraria como um dos artistas mais importantes do rock entre 1976 e 1992.

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