Flavio Leonel - do site Roque Reverso
Se há uma banda que muitos fãs de heavy metal se perguntam sobre o motivo de frequentar pouco o solo brasileiro, essa banda é o Volbeat. Na sexta-feira, 6 de dezembro, o grupo dinamarquês finalmente voltou ao Brasil e fez uma verdadeira abertura de gala para o Iron Maiden, em show realizado em São Paulo no Allianz Parque, a Arena do Palmeiras.
A apresentação do Volbeat na capital paulista rompeu um hiato de 6 anos sem a presença da banda no País, depois de sua estreia, em 2018, no Lollapalooza, quando já havia causado boa impressão.
O show do grupo também trouxe uma série de marcas e detalhes, após vários acontecimentos, especialmente após a metade de 2023.
Para começar, marcou o retorno do grupo aos shows depois de 16 meses sem uma apresentação ao vivo – a última havia sido em agosto de 2023, em Grantville, nos Estados Unidos.
Neste grande hiato desde 2023, o vocalista e guitarrista do Volbeat, Michael Poulsen, anunciou, em setembro do ano passado, que passaria por uma cirurgia na garganta e que voltaria aos palcos somente em 2024.
O período também coincidiu com o início da criação e elaboração de um novo álbum de estúdio da banda que sucederá, em 2025, o excelente “Servant of the Mind”, de 2021.
Outro fato importante vindo de 2023 foi a saída, depois de 10 anos de banda, do guitarrista Rob Caggiano, anunciada em junho do ano passado, com substituição nos shows feita por Flemming C. Lund.
O show
Toda essa sucessão de fatos, além da pouca presença do Volbeat em solo brasileiro, deixava o retorno da banda a São Paulo com motivos de sobra para os fãs do grupo comparecerem ao evento, mesmo que a estrela principal da noite fosse o Iron Maiden.
E, quando a banda dinamarquesa subiu ao palco para abrir o primeiro de dois shows do Iron Maiden no Allianz Parque, foi constatado que o lendário grupo britânico de heavy metal não havia escolhido a banda dinamarquesa por acaso.
Durante 1 hora de show, o Volbeat trouxe um set list curto e possível, com 12 músicas, tentando apresentar faixas da maioria dos álbuns.
Apesar de o disco mais recente “Servant of the Mind” ter sido muito elogiado por crítica e público ao longo dos últimos anos, o álbum com mais faixas executadas na noite foi “Seal the Deal & Let’s Boogie”, de 2016, também reconhecido como um dos melhores da carreira do Volbeat.
Enquanto “Servant of the Mind” teve três músicas executadas, “Seal the Deal & Let’s Boogie” apareceu na noite com quatro faixas tocadas. Também teve faixas contempladas no show o álbum “Beyond Hell/Above Heaven” (2010), com duas. “Outlaw Gentlemen & Shady Ladies”, de 2013, “Guitar Gangsters & Cadillac Blood”, de 2008, e “Rock the Rebel/Metal the Devil”, de 2007, tiveram uma música cada tocada na apresentação.
A faixa “The Devil’s Bleeding Crown”, do “Seal the Deal & Let’s Boogie”, abriu o show do Volbeat e mostrou logo de cara que a banda aproveitaria cada segundo naquele palco.
Mesmo com a inexplicável falta dos telões no show do Volbeat de sexta-feira (no sábado, eles apareceram), além da ausência de um cenário de fundo (o que se viu foram apenas um fundo de palco negro com panos protegendo os equipamentos do Iron Maiden), o público foi compensado com uma qualidade de som gigantesca e com um peso elogiável.
Para quem estava na Pista Vip, como este jornalista, chamou muito a atenção a bateria com um som impactante gerado pelo ótimo Jon Larsen. Quem aprecia um bom show de heavy metal sempre deseja bumbos capazes de trazerem o peso da banda de maneira clara e forte. E foi isso que se viu do começo ao fim da apresentação do Volbeat.
O vocalista e guitarrista Michael Poulsen também ganhou o público logo de cara ao subir ao palco com uma camisa do álbum “Beneath The Remains”, do Sepultura.
Com uma presença forte e com capacidade de levantar e incentivar a plateia, ele parecia estar curtindo ali cada minuto, a ponto de agradecer diversas vezes o público, pelo ambiente contagiante, e o Iron Maiden, pelo convite, para estar ali.
Hits e peso
Na sequência, o hit “Lola Montez”, do disco “Outlaw Gentlemen & Shady Ladies”, ajudou a manter a plateia sempre exigente e dominante do Iron Maiden apreciando e, por que não, conhecendo o som do Volbeat.
“Sad Man’s Tongue” (do álbum “Rock the Rebel/Metal the Devil”), “A Warrior’s Call” (do “Beyond Hell/Above Heaven”) e “Black Rose” (do disco “Seal the Deal & Let’s Boogie”) vieram em seguida e mostraram a diversidade do som do Volbeat, que nunca foi apenas uma banda de heavy metal e que, desde o início da carreira, incorporou vários elementos de outras vertentes do rock, como o hard rock e até mesmo o rockabilly.
Mais um hit da banda presente no show, “Wait a Minute My Girl” foi a primeira da noite do ótimo “Servant of the Mind”. Fez muita gente que pensava que não conhecia o Volbeat se lembrar que já tinha ouvido a banda nas rádios e abriu o caminho para outra excelente do mesmo disco: “Shotgun Blues”.
Para muitos, ela foi a melhor da noite, pois trouxe um peso que ecoou por todo o Allianz Parque. Ironicamente, no show do dia seguinte, ela foi a única substituída do set list, dando lugar à faixa “Dead but Rising”, do disco “Outlaw Gentlemen & Shady Ladies”.
Na sequência da apresentação da sexta-feira, o Volbeat trouxe outro hit. A mais melodiosa “Fallen” foi a segunda e última da noite do álbum “Beyond Hell/Above Heaven”.
O peso voltou com tudo em “Seal the Deal”, do “Seal the Deal & Let’s Boogie”, e continuou com “The Devil Rages On”, do “Servant of the Mind”. Esta chega a enganar no início com sua levada mais lenta, mas entra numa velocidade contagiante em seguida, sem perder o conteúdo melódico que consegue fazer uma ponte entre o rock pesado e o rockabilly em diversos trechos.
A penúltima da noite foi “For Evigt” (do “Seal the Deal & Let’s Boogie”), que graças aos programas da tarde da rádio KISS FM virou uma espécie de “queridinha” aqui no Brasil até de quem não é grande fã do Volbeat. Como esperado, ela contagiou o público e foi um grande momento da apresentação da banda.
A última da noite foi a ótima “Still Counting”, também do disco “Guitar Gangsters & Cadillac Blood”. Com um peso de dar gosto para quem ama um bom heavy metal, ela fechou o curto show do Volbeat e deixou os fãs com gosto gigantesco de “quero mais”.
Considerações finais
O resumo da apresentação é que a banda dinamarquesa conseguiu passar seu recado no curto período que foi disponibilizado para se apresentar. Obviamente, muita coisa que os fãs gostariam de ver ficaram de fora, especialmente músicas matadoras do álbum mais recente “Servant of the Mind”, como as excelentes “Becoming”, “Say No More” e “The Sacred Stones”.
Com mais de duas décadas de estrada, continua sendo um mistério gigantesco a quantidade reduzida de vindas do Volbeat ao Brasil.
Com presença marcante em diversos festivais em todo o planeta, é de se estranhar a falta de empenho dos produtores brasileiros para trazer o grupo mais vezes ao País, pois a banda integraria de maneira positiva facilmente um line-up respeitável de festival de heavy metal e seria capaz de encher algumas casas de espetáculo, por exemplo, de São Paulo.
Após os shows de abertura do Iron Maiden no Allianz Parque, muita gente que não conhecia o grupo elogiou bastante a performance do Volbeat, que facilmente angariou novos fãs brasileiros. Resta, depois do que se viu na Arena do Palmeiras em 2024, a esperança de que produtores nacionais tragam o grupo dinamarquês mais vezes ao País.
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