Marcelo Moreira
Paul Weller (FOTO: DIVULGAÇÃO))
Ele gostava de ser o ponto fora da curva. Foi no caminho oposto dos punks quando a moda era ser punk. Decidiu ser um mod com 15 anos de atraso, causando espanto até mesmo em Pete Townshend, o mentor do Who, que liderou por um tempo os movimento mod.
Não bastasse isso, resolveu investir no jazz quando todo mundo ia para a new wave, o pós-punk e o hard rock. Paul Weller era do contra não apenas por ser do contra. Queria apenas fazer o que tivesse vontade sem estar preso às convenções de mercado.
Não é um anarquista nem um rebelde. É apenas um radical livre, se é que é possível adaptar a expressão da química ao mundo da música.
Um dos gigantes de sua geração, Weller completou 66 anos de idade neste ano e lançou um álbum excelente, “66”, que estará nas listas de melhores do ano de 2024 e que deverá rivalizar com “Stanley Road”, seu disco dos anos 90, como o melhor de sua carreira de quase 50 anos.
Ao explodir com The Jam, em 1977, juntou o melhor dos mundos da época: a urgência punk com a miscelânea de influências da cultura mod, uma decisão certeira que diferenciou o trio do restante do punk inglês setentista.
Guitarrista de ótimo calibre e excelente compositor, o inglês Paul Weller conseguiu transitar do rock puro e básico pop mais sofisticado e de qualidade, seja com a banda The Style Council, que formou depois do fim de The Jam, ou em sua carreira solo, inaugurada nos anos 90 – escute o álbum "Stanley Road", uma das joias do pop inglês de todos os tempos.
"Nunca me senti integrado no movimento punk. Para mim era tudo igual, um monte de bandas boas querendo mostrar seu trabalho e aparecer. A concorrência era enorme e fortíssima: ou você se diferenciava ou então ficava pelo caminho", disse o guitarrista em uma entrevista à revista Q nos anos 90.
Antes de ser opção, o revival do movimento mod era uma necessidade. "Cresci ouvindo de tudo, mas era óbvio que era fissurado por [Pete] Townshend e The Who, The Kinks, Small Faces e outras bandas inglesas que tinham raízes no rhythm & blues. Sempre gostei de rock, mas também de músicas bem arranjadas.".
Não é à toa que The Jam fez versões maravilhosas para duas canções obscuras do Who, "So Sad About Us" e "Disguises", além de "David Watts" e "Waterloo Sunstet", clássicos dos Kinks. "Get Yourself Together", dos Small Faces, foi outra pérola sessentista que ganhou uma versão bacana.
E por que o jazz recebeu a sua atenção com o Style Council? "Não foi uma coisa planejada, ou muito planejada. Eu e Mick (Talbot, tecladista que completava a formação original, depois expandida) éramos amigos e tínhamos muitas afinidades. Aquela sonoridade nos era muito familiar e surgiu naturalmente", disse Weller à BBC Radio anos atrás.
E foi assim que, de forma natural e genial, surgiram clássicos pop como "Headstart for Happiness" e "My Ever Changing Moods", músicas fantásticas que estão no topo dos grandes hits oitentistas.
Prevendo que 2018 seria um ano de celebrações além dos 60 anos de idade, Weller cometeu um dos grandes álbuns de 2017, "A Kind Revolution", uma espécie de resumo de sua longínqua carreira de 50 anos. Tem de tudo ali, do punk mais engajado ao pop mais sofisticado embebido por jazz, soul e até mesmo rhythm and blues mais moderno, com elementos eletrônicos e letras impecáveis.
Paul Weller é daqueles artistas que dão sentido à cultura musical pop, tão necessário e inteligente quanto um dia foi David Bowie. "Stanley Road" e "A Kind Revolution" são as maiores provas disso. Assim como “66”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário