Flavio Leonel - do site Roque Reverso
Com talento que é dado para poucos e com uma história escrita na música como um de seus protagonistas, Eric Clapton, há algumas décadas, passou a não precisar provar mais nada, a não ser que continua no degrau de cima da qualidade. Em turnê pelo Brasil com shows disputados, ele deu mais uma de suas “aulas de guitarra” neste sábado, 28 de setembro, quando se apresentou no Vibra São Paulo, na capital paulista.A apresentação foi uma das quatro da turnê pelo Brasil em 2024. Clapton já havia se apresentado em Curitiba, no dia 24, e no Rio de Janeiro no dia 26. No domingo, dia 29, ainda marcou show para o Allianz Parque.
O evento no Vibra São Paulo foi o show extra da apresentação na arena do Palmeiras – esta com ingressos esgotados.
A promessa para a apresentação no Vibra era de algo “mais intimista”, num espaço com capacidade para 7 mil pessoas, contra os quase 50 mil que cabem no Allianz Parque.
Reencontro com o antigo Credicard Hall
O show de Eric Clapton no Vibra São Paulo marcou o reencontro da reportagem do Roque Reverso com o antigo Credicard Hall.
A cobertura mais recente deste site no espaço da zona sul de São Paulo havia sido a do show do Whitesnake no já longínquo ano de 2016, quando a casa já havia mudado o nome para Citibank Hall.
Depois daquele show, o rock começou a migrar para outras casas em São Paulo, como o Espaço das Américas, a Audio e o próprio Allianz Parque, que passou a ser o maior e melhor local de shows, de diversos tamanhos, em SP.
Mais do que isso, a casa na zona sul chegou a voltar a se chamar Credicard Hall, mudou o nome para Unimed Hall e até encerrou as atividades em 2021, em plena pandemia da covid-19.
Em 2022, retornou como Vibra São Paulo e, aos poucos, começa a trazer alguns shows de rock (ou próximos ao estilo) mais badalados. O de Eric Clapton, sem a menor dúvida, foi o mais emblemático desta retomada.
O show de Clapton
Após o guitarrista norte-americano Gary Clark Jr. trazer seu blues-rock de alta qualidade como show de abertura, Eric Clapton subiu ao palco pontualmente às 21 horas.
Para um Vibra São Paulo tomado de fãs de carteirinha, aquele que já foi um dia chamado de “deus” da guitarra até em pichações de muros londrinos, mostrou que, aos 79 anos, ainda tem muito para oferecer musicalmente.
Dividido em partes que alternam o formato elétrico e o formato acústico, o show contou com 17 músicas tocadas em quase 2 horas de apresentação, com um set list padrão da turnê.
As quatro primeiras faixas foram executadas no formato elétrico. “Sunshine of Your Love”, “Key to the Highway”, “Hoochie Coochie Man” e “Badge” mostraram Clapton e sua banda de músicos talentosos num entrosamento gigantesco.
E, claro, qualquer show que relembre o supergrupo Cream, que teve Clapton ao lado do baterista Ginger Baker e do baixista Jack Bruce, já começa em altíssimo nível.
Com solos de arrepiar o fundo da alma do público presente, Clapton era o mestre que encantava uma plateia hipnotizada.
Após a execução de “Badge”, o show passou por uma fase acústica com todos da banda sentados e trazendo sucessos de Clapton e covers de figuras gigantes da música, como, por exemplo, a faixa “Kind Hearted Woman Blues”, de Robert Johnson.
Em três faixas deste período do show (“Lonely Stranger”, “Believe in Life” e “Tears in Heaven”), houve a participação especial do músico brasileiro Daniel Santiago.
A super popular “Tears in Heaven”, que Clapton compôs após morte de seu filho, Conor, de 4 anos, em 1991, após uma queda da janela de um edifício, emocionou o público, que cantou junto a música do início ao fim, num belo momento no Vibra São Paulo.
Após “Tears in Heaven”, o formato tradicional voltou ao show, com Clapton ampliando os solos longos e admirados pela plateia.
“Got to Get Better in a Little While”, “Old Love”, “Cross Roads Blues” e “Little Queen of Spades” caíram sob medida na parte final da apresentação, com um entrosamento impecável dos músicos e Clapton no comando.
O repertório foi complementado com chave de ouro com o hit “Cocaine” e uma duração de mais de 7 minutos, numa verdadeira aula musical para privilegiados e sortudos.
Muito aplaudidos, os músicos agradeceram ao público, saíram momentaneamente do palco e ainda retornaram para o bis com a faixa “Before You Accuse Me”, desta vez com a presenças de Daniel Santiago e de Gary Clark Jr.
Não bastasse o grande momento musical, Clapton tocou essa música com uma guitarra estilizada com as cores da bandeira da Palestina, um gigantesco momento de alento para um astro que chegou a dar algumas derrapadas lastimáveis recentemente, como quando chegou a colocar em dúvida a eficácia das vacinas contra a covid-19 e criticar o isolamento social no período crítico da pandemia.
Novamente muito aplaudidos, os músicos se despediram de um público que ainda chegou a pedir, sem ser correspondido, o clássico “Layla”.
Esta última, além de outros hits, como “Wonderful Tonight” e “Bad Love”, não fazem parte do repertório da turnê e tiveram a ausência bastante sentida.
O saldo final, no entanto, foi de alta qualidade musical, num verdadeiro bálsamo para os brasileiros que tiveram, há uma semana, que conviver com o testemunho de algumas aberrações que invadiram o Rock in Rio. Clapton trouxe o antídoto e deixou o público com gosto de “quero mais”.
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