"Eufótico" é um encontro entre as raízes blueseiras e mundialistas do pianista com a baianidade e o violão coalhado de brasileirismos de Caymmi, tudo regado com uma espeiritualidade que tem tudo a ver com todos os sincretismos msicais e religiosos d Bahia.
"Já faz muito tempo que eu me apaixonei pela obra do compositor baiano e senti que era a hora de mergulhar no obra dele", disse Grineberg em conversa exclusiva com o Combate Rock". "Nas minhas pesquisas sobre a música ele, percebi que as canções mais antigas, das décadas de 1930 e 1940, têm uma riqeuza enorme e agregam muito do blues, que é uma música raiz."
O novo trabalho é o primeiro do músico cantado em português e tem muito do blues, mas não é um álbum de blues. Quando estiver em alguma prateleira em lojas do mundo, será rotulado como MPB ou world music, o que é uma boa ideia, pois amplia o leque de possibilidades que Grineberg sempre buscou.
Com mais de 30 anos de carreira, é polivalente ao ponto de tocar de tudo, da música erudita a mantras indianos, mas ficou conhecido na música brasileira por causa de seu ótimo "Key Blues", o primeiro álbum, de 2010. Não conseguiu se livrar do rótulo de músico de blues, mas isso nunca o incomodou. "O blues é a base, e me ajudou a decolar para outros caminhos."
Faz todo o sentido, principalmente quando ouvimos o segundo álbum, "Blues For Africa", quando mergulhou na sonoridade daquele continente e deu uma verdadeira aula de história e antropologia, cantando em vários idiomas nativos e passeando pela canções de Mali, Congo, Nigéria e África do Sul. O blues estava lá, mas o mundo também e agregou uma enorme paleta de cores diferentes a sua música.
Nos trabalhos seguintes, "1anhou08" e "Xamãs", o blues ganhou a companhia do rock progressivo e da música oriental de origem indiana, em um mosaico amplo e variado que tona a música de Adrino Grineberg inclassificável. "Já gravei e toquei músicas cantadas em 27 idiomas e cada uma dessas experiências ficou gravada na minha alma'.
Durante o processo de criação dos arranjos e gravação de "Eufótico", uma parada no ano passado para homenagear o ídolo Ray Charles em uma série de concertos pelo Brasil acrescentando o tempero brasileiro ao soul e ao blues do grande pianista americano.
Também são nítidas as influências de Ray Charles nos fraseados e no boogie que desenvolve mesmo em temas totalmente imersos na música brasileira, como nas canções de "Eufótico" tocadas ao vivo.
No primeiro show com novas músicas, no Centro Cultural São Paulo, na zona sul de São Paulo, em um palco icônico com a plateia em todos os lados, ele e os companheiros de uma vida, o guitarrista Edu Gomes e o violonista Fabá Jimines, fizeram uma fusão maravilhosa de ritmos e sonoridades de todos os lugares.
Acompanhados por Caio Lopes na bateria e Airton Fernandes no baixo, encantaram uma plateia que se surpreendeu com os arranjos inusitados para músicas e que remetiam ao mais puro cancioneiro baiano e nacional. "Canto de Nanã", pura poesia da música brasileira, mistura blues e lamentos africanos ganhou ares épicos.
"Morena o Mar" ficou ainda mais blueseira, com um canto que remete diretamente às tradições do candomblé, assim como as bela "Canoeiro" e "O Vento". São todas da fase praiana de Caymmi e profundamente conectadas com a natureza, um tema caro ao pianista paulistano.
A apresentação em São Paulo, no dia 2 de fevereiro, dia de Iemanjá, ainda teve o resgate de alguns temas com acento africano, como "Olodumaré" e "Jingoloba", que antecederam as maravilhosas versões boogie e "Nova Orleans" de "Promessa de Pescador" e "Vou Ver Juliana".
Não haveria data mais propícia para ele apresentar ao vivo esse disco homenagem. Conhecido por sempre trazer uma visão peculiar do blues, "pois nunca vi o blues apenas como um estilo, mas como uma expressão", Adriano Grineberg já tinha notado semelhanças entre o blues e a música de Caymmi, tanto pelo balanço como pelas imagens da praia, da saudade e das despedidas, tão recorrentes no blues.O ápice são as versões inclementes e extraordinárias de "É Doce Morrer no Mar" e "Noite de Temporal". on piano e guitarra duelam e complementam em um sincretismo cultural que une dois mundos que são muito mais do que compatíveis.
O resultado do projeto "Eufótico" é uma obra que delineia a ousadia artística e a capacidade de Grineberg de deglutir inúmeras influências de sons e culturais, entregando ao mundo uma obra única e que marca uma nova era na carreira de um artista inventivo e que se caracteriza por não ter medo de ousar.
O projeto gráfico do projeto, incluindo as todas as capas e e vídeos são de autoria de Sheila Oliveira, que concebeu as imagens, criadas no photoshop através de colagens e outras técnicas. Já as animações são de Flávio Reales e Márcia Caram. As fotos são de Matheus Leite.
P.S.: Em ecologia, chamamos de zona eufótica a camada mais superficial do oceano na qual penetra a luz solar. É nela onde ocorre a maior incidência de vida marinha, onde as plantas verdes fazem fotossíntese, onde peixes, moluscos e outros animais marinhos vivem. Na zona
eufótica, navegamos. É a única, na qual, aliás, a gente pode mergulhar sem correr nenhum risco de morte.
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