Silvio Almeida foi o intelectual negro que levou o rock e o heavy metal para o primeiro escalão do governo federal capitaneado por Luiz Inacio Lula da Silva, eleito em 2022 e que assumiu em 2023. Era o ministro no lugar certo na hora certa - titular da pasta de Direitos Humanos.
Sempre se tem a impressão de que, no caso de governos progressistas, alguns cargos são qu "eternos" ou "vitalícios". Parecia ser o caso de almeida, que foi demitido do posto depois de 21 meses no posto m meio a uma série mal explicada de denúncias de assédio sexual.
A saída do intelectual negro é uma derrota em todos os sentidos e para muita gente - A começar por Lula, que foi precipitado e deu munição farta para adversários, inimigos e toda extrema-direita.
Perdem também todo o campo progressista e todos aqueles que prezam pela inteligência e pelo conhecimento; Neste momento é difícil medir o tamanho do buraco que fica no governo com a saída daquele que provavelmente era o o melhor ministro.
E então enfrentamos os velhos problemas de sempre na questão das denúncias de assédios de qualquer natureza: é bem raro quem acusa conseguir provar, mas é quase impossível o acusado se defender por conta de eventual tempestade que vem com ar repercussão. Entre a precipitação e a pressão com cavalares doses de maldade, um quadro ótimo foi abatido e uma mais uma vida foi destruída.
Não se trata de defender incondicionalmente o ex-ministro demitido. Trata-se de reivindicar o que a maioria dos acusado merece e muitas vezes têm - investigação e apuração antes de uma condenação sumária eivada de um pútrido odor de motivação política.
Se for verdade a infração de que o governo e outras pessoas já sabiam há meses das denúncias, por que só agora o caso venho à tona? Houve investigação neste período?
Por mais que acreditemos que casos de assédio sexual contra mulheres são terríveis e precisem ser repudiados , soa como uma covardia e uma injustiça alguém decidir acusar alguém por conta de supostos fatos ocorridos há dois anos, cinco nos, e sem a menor possibilidade comprovação.
Prestígio internacional
Currículo impecável, com mestrados e graduações em Direito e Filosofia, Almeida também é escritor, autor do importante livro "Racismo Estrutural", que o elevou a um patamar onde estão os principais intelectuais brasileiros.
Quem diria que o professor universitário negro, filho e neto de pessoas ligadas ao samba, também fosse um requisitado professor de guitarra e aficionado por bandas de heavy metal com muito groove, como Living Colour, Body Count, Suicidal Tendencies e Infectious Grooves?
Só mesmo em um governo progressista e de esquerda para que o metal subisse as rampas do Palácio do Planalto e fosse encastelado no primeiro escalão da administração federal...
Sua nomeação foi um dos maiores acertos do governo Lula - uma dobradinha sensacional com Margareth Menezes, da Cultura, cravando uma estaca mortal no destrutivo e tóxico governo anterior do nefasto Jair Bolsonaro.
Que diferença!:Saiu a medieval, desumana e indigente intelectual Damares Alves, então ministra dos Direitos Humanos, e entrou o afável, progressista e inteligente Silvio Almeida.
É raro observar políticos e aspirantes a políticos demonstrarem interesse musical além do óbvio. Fernando Haddad, atual ministro da Fazenda e ex-prefeito de São Paulo, é um guitarrista razoável e bom conhecedor da obra dos Beatles.
Rogério Rosso, ex-deputado federal e ex-governador do Distrito Federal, tem um estúdio requisitado em uma de suas propriedades, toca guitarra e baixo e é um aficionado do rock progressivo.
Impacto profundo
Em conversa com Mano Brown (Racionais MC's) no podcast "Mano a Mano", Almeida comentou o impacto que a música "Homem na Estrada", dos Racionais, teve em sua vida, assim como o surgimento, na mesma época do quarteto de hard rock Living Colour, que é fantástico.
Foi ali que o jovem aspirante a músico se sentiu representado dentro do rock, observando o trabalho intenso dos negros do Living Colour dentro de um gênero que se supunha branco desde sempre.
Com os Racionais, Almeida percebeu que poderia aliar os dois mundos, que não eram excludentes, tanto que sua banda de bar criou uma versão pesada e cheia de groove roqueiro para "Homem na Estrada".
Também se sentiu representado com as letras fortes e contundentes do Living Colour, políticas e de protesto, mas com poesia e sofisticação. E também se sentiu atraído pela violência lírica e sonora do Body Count, banda de heavy metal quase puro originada no rap - seu líder, Ice-T, era um famoso rapper e ator de séries policiais nos anos 90, mas que sempre foi um apaixonado por heavy metal, com várias participações especiais em trabalhos diversos.
Curiosamente, para o pacifista e comedido democrata intelectual, o Body Count representava uma quebra de paradigma em relação ao discurso. Ice-T transferiu as letras violentas e diretas do mundo violento dos guetos e subúrbios negros americanos para o metal e o choque foi imenso. Muitos palavrões, narrativas de vidas criminosas e incitação direta ao crime, como na explícita "Cop Killer" (assassino de policiais), música banida de rádios e TVs.
Uma banda única, que impressionava pelo peso e pelos vocais irados e demolidores. Em diversos aspectos, o metal n
unca tinha sido tão pesado e violento, tão contundente na mensagem e tão engajado politicamente. Ice-T não media palavras e "metralhava" todo mundo com sua língua ferina. Dá para imaginar o sereno professor universitário Silvio Almeida curtindo Body Count e tocando "Cop Killer" ou "Body Count in the House"?
Ecletismo, integridade e bagagem técnica impecável são as marcas da área social do ministério convocado por Lula. Se era diversidade que todos queriam no alto escalão da União, então tivemos, com direito a índios, negros, cantoras baianas, metaleiros e muito mais.
Desolação
A demissão de Silvio Almeida é uma derrota em muitos sentidos e abre a necessidade de uma profunda reflexão, como sociedade, sobre como lidar com vários tipos de violência de cunho social. É necessário combater de todas as formas os assédios da mesma forma que devemos repudiar a indústria de depredação depredação de reputações.
Silvio Almeida é inocente² É prematuro enveredar por esse caminho, da mesma forma que é precipitado condená-lo antes de qualquer apuração. Neste aspecto, sua demissão seguiu os padrões de sempre da política no quesito de incineração de reputações.
Quando acontece em um governo progressista, que trouxe uma grande esperança generalizada, o desalento é imenso. O clima no momento é de ressaca geral e de incerteza na área de Direitos Humanos.
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