Quando foi que os Beatles acabaram realmente? Em abril de 1970, quando Paul
McCartney anunciou que não estava mais na banda quando do lançamento de seu
primeiro álbum solo? Ou foi quando John Lennon disse que estava saindo em
setembro de 1969, poucos dias antes de “Abbey Road” chegar às lojas?
Oficialmente, os registros em jornai e TVs informam que em 10 de abril
de 1970 o primeiro álbum solo de Paul chegava às lojas simultaneamente ao
anúncio de que não fazia mais parte da banda. Fazia isso poucos dias depois do
lançamento, pela Apple, de “Let It Be”, LP e filme.
Cronologicamente, “Let It Be” é o último lançamento oficial da banda.
Foi gravado ante de “Abbey Road’ e lançado pouco antes do anúncio da saída de
Paul.
Alguns historiadores dizem que Lennon, George Haarrison e Ringo Starr
cogitaram ficar juntos e chamar o fotógrafo alemão e antigo amigo da banda
Klaus Voorman para assumir o baixo. Pensaram até em mudar de nome para The
Ladder. Entretanto, nem os músicos nem amigos próximos jamais confirmaram essa
história. Lennon tratou de confirmar o fim da banda no final de abril. George e
Ringo silnciaram
Mundo em ruínas
As fraturas estavam evidentes desde 1968, mas ficaram expostas em
janeiro de 1969, quando Paul forçou a banda a se enfurnar nos sombrios estúdios
e cinema de Twickenham, em Londres, para compor e gravar o próximo isco de
inéditas. Haveria uma equipe de filmagem o tempo todo para filmar o processo de
criação para um documentário.
O projeto, batizado de “Get Back”, não deu certo e foi abandonado. O clima
entre eles estava ruim – George, irritado com críticas de Paul, chegou a
abandonar temporariamente os trabalhos. A coisa ficou tão fria que ficaram
meses sem se encontrar e se falar.
Antes, para “celebrar” o fim das gravações fracassadas, subiram ao
terraço do prédio da Apple, em Londres, em 30 de janeiro de 1969, para fazer um
concerto improvisado durante o dia.
Tocaram cinco músicas na companhia do tecladista norte-americano Billy
Preston. Estavam enferrujados depois de quase três anos sem shows, mas foi
interessante e banda mostrou que era poderosa ao vivo. Foram interrompidos ela
polícia, que atendeu a reclamações da vizinhança.
Apesar de o clima ter sido bom, algum coisa tinha se quebrado e não
parecia haver a mesma irmandade de sempre Paul McCartney parecia saber e sentir
isso, mas preferiu se iludir. Quase seis meses depois, convenceu todo mundo a
voltar para o estúdio de Abbey Road, a sua “casa” na EMI.
A ilusão aumentou por conta da boa convivência e de poucas animosidades entre
eles, além de um material de ótima qualidade, que transformou Abby Road” em um
dos grandes discos da história do rock. Vendeu muito bem e foi bastante
elogiado pela imprensa, como sempre.
Dias depois do fim das gravações e antes de o LP ser lançado, John
Lennon anunciou, em uma reunião na manhã de 21 de setembro de 1969, que estava saído
dos Beatles. Levantou da cadeira e foi embora sem dizer tchau. George teve
certeza de que ali era o fim do grupo, algo de Paul e Ringo relutaram em admitir.
Entre eles, só voltariam ase falar anos
depois.
Vingança e traição
Não se sabe se Paul não aceitou ou não admitiu que era o fim. Entrou em
u período de reclusão e de certa negação. Pragmático, o empresário Allen Klin
convenceu o resoluto Lnnon a adiar o anúncio de sua saída para não prejudicar
os próximos lançamentos, programado para janeiro e abril de 1970. Contra a
vontade, Lennon.
Conformado e enfurecido, Paul teve de ser convencido a sair de sua fazenda
na Escócia e ir a Londres para um último compromisso do a banda: finalizar uma
canção de George que estaria no LP “Let It Be”
Quem presencio Paul, George e Ringo m 4 de janeiro finalizando “i Me
Mine” teve a certeza de que a banda não existia mais. Praticamente não
interagiram e demonstravam impaciência para ir embora, Lennon não apareceu e há
fonte que garantem que ele sequer foi avisado, Outras dizem que ele sabia, mas
fez questão de não ir.
Paul e Ringo, na porta do estúdio, discutiram de forma ríspida sobre
quem lançaria o seu álbum solo primeiro, e foram emora irritados. Ficariam por
muito tempo sem se falar.
Nesse meio tempo, Lennon pegou as gravações em áudio de “Get Back” e que seriam transforadas no LP “Let
It be” e entregou nas mãos do produtor americano Phil Spector. Fez isso sem avisar
ninguém e o resultado irritou a todos com a adição de naipes de cordas, metais
e corais em músicas que não pediam isso, coo The Long and Winding Road” e “Across
the Universe”. Era o fim definitivo pra Paul McCartney.
Llet It Be... naked”, lançado
neste século com as bênção de Paul, traz uma versão aproximada do álbum como
deveria ter sido lançado em 1970 sem as mãos de Spctor.
Fraturas expostas
O filme “Let It Be”, de 1970, filmado, dirigido e editado por Michael
Lindsay-Hogg, é um retrato melancólico que se evidenciava na época: a
dissolução e o fim iminente dos Beatles. Privilegiou os momentos de tensão e de
dificuldades na criação das canções. O clima é sempre carregado em um ambiente
soturno Foi o que ele sentiu e captou, como disse em várias entrevistas ao
longo dos anos.
Ele não estava errado, já que os Beatles implodiram meses depois, embora
a crise definitiva e seu desfecho só tenham ocorrido mais de um ano depois da
conclusão das filmagens
O problema para Lindsay-Hogg é que o neozelandês Peter Jackson, d
trilogia “O Senhor do Anéis”, resolveu pegar tudo o que o diretor original
filmou, dúzias de horas, e fazer a sua própria versão” Em ve de fazer um documentário, fez uma “minissérie”.
Nas mais de sete horas dos três capítulos de “Get Back”, o mesmo título do
que originalmente estava programado, Jackson apresenta um clima menos tenho e
uma certa cordialidade com alguns momento. Entre os músicos e deles com as equipes
de produção musical.
A versão nova levou muita gente a questionar o trabalho de Lindsay-Hogg, o que gerou muita polêmica estéril. Lindsay-Hogg não inventou nada. O clima tenho está lã. A questão é que, em mais de 50 ou 100 horas de filmagens, nem tudo era briga e nem tudo guerra. Caso contrário, os músicos não teria se suportado por quase 30 dias - tudo teria acabado no terceiro dia
São dois filmes diferentes, mas não excludentes, que são importantes par mostrar o cotidiano de criação e composição da maior de todas as bandas, algo raro e impactante. Entretanto, é importante também porque registra o processo então irreversível de desagregação e implosão de uma banda de rock ultrafamosa e hipertalentosa.
Como em todas as famílias, os altos e baixos ocorrem cotidianamente,
muitas vezes no mesmo dia Nos dois filmes do Beatles, dá ara dizer que isso
ficou explícito de forma total, como um
grande reality show moderno. Infelizmente, as consequências foram danosas para
a banda e para a música pop. São visões
diferentes da mesma família, mas fica claro que em nenhum momento o cineasta
Michael Lindsay-Hogg inventou o que quer que seja,
Nenhum comentário:
Postar um comentário