terça-feira, 21 de maio de 2024

Duca Belintani, um brasileiro reverenciado na meca do blues

O mais importante festival de blues tradicional, nos confins do Mississippi, é um, lugar improvável para encontrar um músico brasileiro tocando em algum boteco. E não é que até ali, em Clarksdale, onde a raiz do blues é preservada com todos as forças, tem a marca do Brasil?

"Possivelmente eu sou o primeiro brasileiro a tocar em Clarksdale. É inimaginável o tamanho do meu orgulho", conta o guitarrista paulistano Duca Belintani depois de sete shows naquele tradiciobal festival norte-americano.

Com uma rede de contatos invejável depois de várias visitas aos Estados Unidos, finalmente surgiu a oportunidade de levar a guitarra e o baterista Vinas Peixoto a tiracolo para uma das grandes aventuras de um músico brasileiroterra do blues.

Belintani não é simplesmente só mais um brasileiro a se aventurar e de se dar bem por lá. Celso Salim e Artur Menezes são estrelas na cena de Los Angeles, enquanto que Igor Prado e sua banda já ganharam o maior prêmio do blues americano com o álbum "Way Diwn South", para não falar do baixista Rodrigo Mantovani, integrante da excelente Nick Moss Band.

Só que a persistência e a insistência do guitarrista paulistano, aliadadas a uma certa audácia, o premiaram com uma aventura inesquecível no berço do blues, o delta do rio Mississippi.

Com sete álbuns de blues, sendo um deles uma coisa fantástica que é "Blues na Floresta", um trabalho musical e pedagógico, Belintani é um artista versátil e que valoriza a diversidade, ainda que possa parecer contraditório por se dedicar a um gênero musical considerado "estreito" e "fossibilizado" - nada mais longe da realidade...

Seu mais recente trabalho, "Electric Delta", de 2023, é fruto direto de suas idas frequentes aos Estados Unidos, e está encharcado de blues do Mississippi, uma vertente mais tradicionalista, digamos assim, que se contrapõe ao estilo chamado de Chicago Blues, mais pesado e próximo do rock;

"O estilo de Chicago se disseminou rapidamente a partir dos anos 50 do século passado e influenciou muita gente, dos novos nomes da cena até os grandes nomes ingleses da guitarra", diz o músico,. "Não são muitos,atualmente, principalmente no Brasil, que se dedicam ao tradicionalismo do Mississippi;

"Electric Delta" tem influência direta de uma das viagens instigantes que fez para visitar os grandes locais do blues, saindo de Chicago e, de carro, dirigindo em direção ao sul até o delta do rio Mississippi. Isso fica evidente em sus shows deste ano, em que mistura música com "aulas"de história da música e a arte. Sua didática é impressionante, coisa que o torna um requisitado professor de guitarra.

A viagem pela terra do blues que rendeu "Electric Delta" gerou uma série de contatos que resultou nos sete shows nos botecos de Clarksdale. 

É um vilarejo minúsculo encravado no estado do Mississippi, mas preserva a aura de um dos locais de origem do blues raiz, com mais influências do folk e de outros gêneros musicais dos confins americanos. A cidade é tão mítica e importante que recebe visitantes do mundo inteiro e foi nome de um álbum importante de Jimmy Page e Robert Plant - "Walking into Clarksdale", de 1998.

Todo o mês de abril a cidade e as redondezas recebem músicos e amantes do blues em uma série de eventos destinados a manter a tradição e aos origens do chamado blues raiz.Não existem apenas um festival, mas uma série de eventos e "gigs", como o Juke Joint Festival.

"São vários bares e pequenos palcos montados nas ruas que recebem músicos de várias origens para celebrar o blues", conta Belintani. "A maioria dos músicos aparece por lá com um violão, senta na cadeira e toca por horas. Foi assim que e, minha guitarra e o Vinas Peixoto tocamos em bares ali, no festival. Em dua apresentações tive a honra da participação de M.M. Jackson, um baixista que estava na plateia e quis tocar conosco. Quer coisa mais 'roots'?"

Suas viagens pelos Estados Unidos renderam o contato sem setembro de 2023 para participar dos festivais de Clarksdale. Belintani e Peixoto se prepararam por meses de se tornaram, provavelmente, os primeiros brasileiros a tocar por ali em abril deste ano.

Ele já sabia, mas ainda assim se encantou com o fato de que os americanos do Mississippi não querem saber de onde vem o bluesman. Querem e se divertir, dançar e escutar música boa, sem sofisticação e rebuscamento. O surpreendente brasileiro surpreendeu mais ainda quando tocou músicas próprias.

Com três aparelhos celulares, os dois músicos registraram quase 30 horas de apresentações  que darão origem a um álbum ao vivo, que provavelmente sairá via financiamento coletivo - pelo menso essa é uma das opções analisadas por Belintani.

Para ele, foi uma das grandes experiências musicais de sua vida. "Foi um investimento que valeu muito a pena. Por não ter uma equipe comigo, não tive muitas oportunidades de fazer fotos e vídeos e o que tenho me foi enviado por pessoas da  plateia que foram me mandando, porém uma coisa muito importante aconteceu: tive a ideia de gravar os áudios de todas as apresentações de forma rústica, assim como o festival, e fiz isso com três celulares. Quem puder e quiser ajudar,  deixo o link da campanha e poderão também ver as recompensas para quem puder participar.m será maravilhoso. O link é https://benfeitoria.com/projeto/ducabelintanilivemississippi."

A aventura foi tão marcante que Belintani sonha com a edição  de 2025. "Clarksdale é um lugar mágico, respira-se música, arte e blues o tempo todo. O publico é sensacional e respeita demais os artistas. É uma reverência tão grande, uma devoção inacreditável. É muito mais do que qualquer paraíso sonhado opr qualquer bluesman. É um orgulho ser um brasileiro que toca blues em Clarksdale p e sendo tão bem recebido e aplaudido."


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