terça-feira, 9 de julho de 2024

Rock de graça no centro de SP escancara as nossas piores contradilçies

 A chuva fina e o frio congelante da noite paulistana convidavam a uma segunda-feira de clausura, mas o chamado do rock foi mais forte para pelo menos 3 il paulistanos que abarrotaram o Largo do Paissandu, no centro de São Paulo. 

Era o pontapé inicial das comemorações do mês do rock na cidade com shows gratuitos. Vanguart, Boofarins e Carne Doce animaram o ambiente e fizeram do pop lisérgico a trilha diferente para celebrar o gênero que tenta renascer diante da predominância do sertanejo e do funk do tipo carioca.

A surpresa pelo grande público para ver sobretudo os goianos dos Boogarins encheu de esperança aqueles que sonham com a reocupação do centro como arte de lazer em todos os dias, e não só aos finais de semana. O rock provou que isso é possível e que a área central é ideal para grandes eventos de rua, assim como a avenida Paulista .

A reocupação é necessária para finalmente dar uma cara para a revitalização do centro, projeto tentado por várias administrações municipais. O fracasso foi a tônica, seja por falta de vontade política, seja por dificuldades orçamentárias. 

Mesmo com tempo ruim e sem muitos outros atrativos da região, muita gente saiu de casa e do trabalho disposta a ficar na garoa para ver um bom concerto de rock. 

E os Boogarins, coo sempre, entregaram um show de respeito, com qualidade e que fez a galera desfrutar de um programa inusitado em uma noite fria de segunda-feira; Muitas crianças desafiaram a insegurança e a chuva para escutar os Boogarins ao lado da igreja, em frente à Galeria do Rock. 

Foi bem interessante ver as canções dos quarteto goiano cantadas por quase todos, já que estamos falando de uma banda que ainda tem status dde alternativa e inderground, por mais prestigiosa que seja em seus mais de dez anos de carreira.

Ficou evidente que a cultura é parte enorme da solução para a reocupação do centro e sua revitalização, com políticas sérias de acolhimento e restauração. A chegada do Sesc 24 de Maio e a instalação de um posto da Polícia Militar em frente mudaram a paisagem das imediações e apontam que é esse o caminho.

Por outro lado, de forma tristemente contraditória, o rock de graça no Largo do Piassandu evidenciou o tamanho do problema social que assola da região central paulistana. A menos de 200 metros dali, na avenida Ipiranga e na Praça da República, quantidade de sem-teto era ultrajante. 

Amontoados em pequenas barracas e jogados pelos cantos, descortinavam a desumanidade que toma conta de nossa cidade e nossa população. Isso nem o rock é capaz de amenizar.

Se a reocupação do centro tem solução e é altamente viável, a questão da desigualdade social e da miséria que insiste em nos estapear indicam que a solução vai demandar muito esforço e uma mudança total de atitude e postura dos habitantes da metrópole. 

Não é sustentável fazer shows gratuitos de qualquer coisa na área central para gente de todos os tipos disposta a se divertir e consumir cultura ao lado de pessoas que dormem na rua, sob chuva e com fome. . Moralmente, é inaceitável sob todos os aspectos. 

Grupos de amigos cantavam aos berros as músicas dos Boogarins e saboreavam cervejas em frente ao palco. Quando foram embora, de metrô ou ônibus, foram interpelados ao menos três vezes, no caminho, por gente maltrapilha implorando por uma moeda ou pedaço de comida. . Eu fui abordado três vezes na caminhada de 300 metros. 

Se o rock serve para escancarar a desumanidade e a perversidade de uma cidade rica e gigante que maltrata sua população vulnerável, não pode servir para simplesmente oferecer entretenimento sem consciência  social . 

Que usemos com sabedoria esse acontecimento da noite de segunda-feira, 8 de julho, no Largo do Paissandu, para discutir seriamente as alternativas de revitalização do centro e alternativas viáveis e imediatas para amenizar o problema social da desigualdade social, o que inclui a solução do fim da Cracolândia. 

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