Marcelo Moreira
Ele era um corpo estranho naquele período estranho e esfuziante do punk rock inglês do anos 70. Liderando o tri The Jam, Paul Weller cantava e tocava guitarra com veemência, mas com elegância e certa sofisticação que destoava das bandas concorrentes.
Vestindo terninhos ´pretos não tão elegantes como som bacana da guitarra, o trio resgatou a cultura mod da década anterior e emulava alguma coisa de The Who e The Kinks dos primórdios, mas tinha muito mais a oferecer. Weller era um esteta e sabia que uma boa canção pop poderá ser forte, contundente e sofisticada, tendo ou não três minutos;
Quase 50 anos depois, o guitarrista e cantor de voz grave e profunda se tornou uma instituição da música britânica `frente de uma carreira invejável e que inda ousa cometer grandes trabalhos. Weller costumava ser mais festejado por críticos do que pela imensa maioria do público, mas isso virou nos anosds2000 seu mais recente álbum é a consagração do astro aos 66 anos de idade.
“66” segue a trajetória de grandes títulos que e vem lançando há tempos e oferece uma coleção de canções refinadas em que a reflexão e a ternura dão o tom. Weller passa a limpo a sua longa carreira desfilando bom gosto e inteligência, fazendo uma serena reavaliação de sua trajetória. O resultado é ótimo.
À primeira audição é possível perceber uma síntese do que de melhor ele produziu em seus tempos de The Jam, onde ficou até 1982,e Style Council, que liderou ao lado do baterista Mick Talbot de 1984 a 1991. A partir de então, em carreira solo, abraçou com gosto a música pop e se tornou referência para toda a geração do britpop, ganhando a admiração de Noel Gallagher, do Oasis, por exemplo.
“66” é um passeio gostoso por um mundo onde as cações são simples e diretas, com letras bem construídas e arranjos belíssimos. Tudo é salpicado por uma nostalgia ora melancólica, ora serena, mas nem um pouco depressiva.
É um balanço de uma vida, onde não há espaço ara arrependimentos ou recriminações. Paul Weller olha para frente em busca de algo diferente, olhando de vez em quando para trás – e gostando do que enxerga.
A fase é tão boa que outros dois projetos ganharam destaque em 2024 envolvendo a sua participação. “Fly on the Wall” é uma caixa com três CDs que faz uma retrospectiva de seu período inicial da carreira solo, entre 1991 e 2001, com muito material raro, inédito e canções obscuras que mereciam melhor atenção de um púbico que já nos anos 90 começava a mostrar uma ansiedade patológica que dominaria os ouvintes de música deste século. O material é bastante suculento e revela que mesmo as músicas secundárias do artista são de ótima qualidade.
No cinema, Weller, um notório tímido e recluso fora dos palcos, deixou-se seduzir por um convite para atuar em uma fita épico de guerra. “Blitz”, estrelada pela ótima atriz irlandesa-americana Saoirse Ronan, narra o cotidiano dos bombardeios alemães sobre Londres na II Guerra Mundial, em 1940,,e como um garoto observa a destruição a sua volta. O personagem de Weller é secundário, mas com importância suficiente para merecer destaque na trama.
O guitarrista deve embalar o ano de 2025 com as celebrações dos 50 anos de sua carreira, provavelmente com algum lançamento dedicado à banda The Jam. No entanto, já descartou que não existe a menor possibilidade de uma volta do trio, nem mesmo para um único show.
Nenhum comentário:
Postar um comentário