segunda-feira, 22 de agosto de 2022

Guitarras tipo exportação: a consolidação de Lari Basilio e a explosão de Plínio Fernandes

Dedos velozes, riffs rápidos e solos alucinantes que encantaram um gênio da guitarra. E lá foi a guitarrista paulista brilhar nos Estados Unidos, em um festival americano ao lado de Kiko Loureiro, a convite de ninguém menos do que Joe Satriani, o dono da festa.

Já em Londres, na Inglaterra, um menino de Santos (SP) juntou a música erudita com o melhor do som brasileiro de raiz para encantar a Royal Academy of Music, situação traduzida em seu mais recente trabalho.

Lari Basilio e Plínio Fernandes representam o que há de melhor na guitarra tipo exportação brasileira, juntando-se a nomes como Daniel Santiago, Pedro Martins, Celso Salim, Igor Prado e Artur Menezes, entre outros nomes, que fazem sucesso no mundo.

Basilio está há alguns anos nos Estados Unidos e chama a tenção pelo fraseado moderno e a versatilidade ao explorar diversos gêneros musicais. O rock é a base de "Your Move", recém-lançado, mas ela se dedica ao jazz e ao hard rock com mais afinco, deixando o metal veloz de seu disco anterior, "Far More".

A beleza de uma canção como "Your Move", um rock singelo de base bluesy, é  maior exemplo de sua versatilidade, lembrando a sutiliza de Satriani, a precisão de John McLaughlin e o feeling de John Scofield. 

"Fearless", que abre o disco, soa mais moderna e agressiva, emulando a influência de Steve Vai, enquanto que o blues com acento jazzy volta com extremo bom gosto em "Here For You".

"Novo" transborda brasilidade, com timbres que se aproxima de uma espécie de country folk brasileiro, onde os timbres mais acústicos dão um colorido especial a uma canção delicada. Mesmo a base mais pesada não foge do roteiro e ajuda a transformar a música na melhor do disco.

Outra que merece atenção é a esfuziante "Running to the Other Side", a que talvez seja a mais pesada, reunindo uma miríade de influências e timbres que mostram ousadia e muita habilidade.

Instrumentista em ascensão, é uma das sensações do rock instrumental nacional. Nascida em São Paulo, Lari Basilio começou a estudar órgão aos quatro anos de idade. 

Alguns anos depois, seu pai lhe ensinou os primeiros acordes de violão, suficientes para despertar a paixão pela guitarra. Desde então, começou a estudar sozinha, tocando em igrejas evangélicas e consequentemente, participando de bandas.

Em 2011, gravou seu primeiro EP instrumental, intitulado "Lari Basilio", que contém cinco faixas, lançado em abril de 2012, marcando oficialmente o início de sua carreira solo. Produzido por Lampadinha, o trabalho ainda conta com as participações de Felipe Andreoli (Angra) e Adriano Daga (Malta). 

Os CD e DVDs "The Sound of My Room" foram lançado sem agosto de 2015 no Cine Belas Artes em São Paulo. "Far More", é mais recente, de 2019, até então seu melhor trabalho, que foi superado por "Your Love".

Plínio Fernandes é, de certa forma, uma surpresa para  grande público internacional com sua vibração e pegada diferenciada juntando a música popular brasileira e traços eruditos de muito bom gosto e ousadia. Tom Jobim (1927-1994) e Heitor Villa-Lobos de forma (1887-1959) convivem harmoniosa e cordial. 

Em muitos momentos, Baden Powell (1936-2000) parece ressuscitar para duelar com um instrumentista que emenda trechos e dedilhados que orgulham Hamilton de Hollanda e ;egberto Gismonti, como na peça de abertura do álbum Saudade", o samba carregado de bossa nova "Assanhado", em arranjo de Sergio Assad, um colaborador imprescindível para a obra recém-lançada.

"Saudade" carrega dentro de suas canções aquele brilho nostálgico e significativo dos expatriados e, ao mesmo tempo, provoca aquela cacofonia de sentimentos que confundem os estrangeiros sempre às voltas com dificuldades para compreender por inteiro o conceito de saudade, palavra que só existe em português. 

O "miss you" jamais conseguirá incorporar o seu significado por inteiro em, inglês, por exemplo, ainda que uma artista importante como a cantora de jazz norte-americana Stacey Kent tenha conseguido.

Críticos europeus perceberam rapidamente o quanto Fernandes é bastante carismático na performance, e o carisma transparece por todo o álbum. 

O repertório escolhido a dedo é um grande acerto, por mais arriscado que tenha sido misturar bossa nova e peças nem tão óbvias de Villa-Lobos. 

Sua execução de "5 Prelúdios", com seus cinco movimentos, é primorosa, incorporando toda a dramaticidade e o sentimentalismo que transbordam da obra extraordinária d compositor erudito brasileiro.

Capturar a essência da música parece ser uma grande habilidade da dupla Fernandes/Assad, como em "Samba do Avião", de Tom Jobim, onde o guitarrista/violonista esbanja talento e "feeling" - coisas que transbordam para "Se Todos Fossem Iguais a Você/Águas de Março", do mesmo autor, que ficou ainda mais interessante. 

Curiosamente, "Garota de Ipanema" não chama tanto a atenção - provavelmente porque há tanta interpretação/reinterpretação magistral no álbum que a música-símbolo da bossa nova ficou ofuscada.

 "Gracias a La Vida", que ganhou o mundo na voz da chilena Violeta Parra, é praticamente uma nova canção, ressignificada pelo toque sutil e pela reinterpretação magnífica, com toda a sua aura dramática executada com exímia sutileza que é difícil não se emocionar.

Aos 27 anos, Plínio Fernandes surge grande para o público internacional e mostra uma capacidade enorme de interpretação e execução no violão e na guitarra acústica. Nessa mesma toada, vai se tornar um dos gigantes em muito pouco tempo.
 

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