Divulgar fake news e apoiar quem as dissemina são ações criminosas, mas há quem acredite que isso é apenas o exercício de uma suposta "liberdade de expressão".
Depredar a constituição e atentar contra a democracia também são atividades criminosas, mas há quem as considere atitudes justificáveis na ânsia de defender o seu "mito".
No mundo empesteado pelo bolsonarismo, que é sórdido, a desonestidade intelectual impera. Defender a democracia se torna "militância esquerdista", e criticar um presidente incompetente vira "engajamento oposicionista" como forma de criar uma narrativa mentirosa de criar falsas equivalências.
A opção pelo atraso e pelo retrocesso foi elevada ao "status" de "opção", em que manifestar ignorância passou a ser um ato de "bravura" e "orgulho", como se a mediocrização da vida fosse um valor a ser exaltado.
Não surpreende que a burrice tenha se espalhado rapidamente nos tempos bolsonaros. E não surpreende que "defender a democracia" seja o equivalente a "sabotar o governo", ainda que este seja nefasto, insano, incapaz e incompetente, com inegáveis pendores fascistas e antidemocráticos.
Parece evidente que misturar e confundir deliberadamente militância e engajamento faz parte de uma estratégia política de fundo autoritário e fascista, mas é também um sintoma de uma deficiência intelectual no sentido cognitivo do termo. É a burrice em estado bruto se manifestando de forma relinchante.
Em vários segmentos da sociedade esse estado lamentável de coisas está evidente. Dentro do rock nacional, onde, finalmente, crescem as manifestações a favor da democracia, antifascistas e antirracistas, surgem, por outro lado, brados enfurecidos de bolsonaristas pregando o boicote a artistas "engajados" e "militantes".
Enquanto bandas recrutam novos músicos com a exigência de não se "manifestarem politicamente", outras decidem abraçar o negacionismo e a erosão da democracia ao defender o direito de mentir criminosamente e disseminar calúnias contra desafetos, além de estimular boicotes a quem defende a civilização e a democracia.
De forma coincidente (ou não), apareceram postagens de pessoas se desfazendo de coleções de vinis e CDs de artistas considerados "militantes" e "engajados de esquerda".
Em uma quarta-feira de manhã, observei no Facebook e Instagram gente colocando à venda coleções de artistas como Ratos de Porão, Titãs, Zélia Duncan e cânones da MPB, como o oitentão Caetano Veloso e sua irmã, Maria Bethânia.
Uma das postagens vinha acompanhada de sandices a respeito do STF (Supremo Tribunal Federal) e TSE (Tribunal Superior Eleitoral), que estariam orquestrando um golpe a favor de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Em outro texto ridículo, um imbecil posando de isentão insistia em que Lula e Bolsonaro são iguais no radicalismo e devem ser "exterminados", embora fosse incapaz de determinar em que momento Lula atentou contra a democracia ou a Constituição.
Obviamente, não conseguiu lembrar qualquer ataque machista, misógino, homofóbico e de ódio do petista. Ou seja, é a equivalência canalha que cheira à deformação de caráter. Esse calhorda queria se livrar de dois CDs de Roger Waters (ex-Pink Floyd) e um do Rage Against the Machine (!!!!!!).
Nunca neste país foi tão fácil escolher entre o certo e o errado total. Nunca ficou tão clara a escolha entre a civilização e a barbárie. Nunca houve dúvidas a respeito: fascismo ou democracia? Autoritarismo ou liberdade? Inteligência ou ignorância? Violência/ódio ou tolerância/respeito?
Criminalizar as palavras "militância", "engajamento" e "ativismo" é parte de um discurso autoritário que visa erodir a verdadeira liberdade de expressão e a própria democracia.
Aos olhos dos cães hidrófobos do fascismo, é uma forma de criminalizar adversários, críticos e todos os tipos de opositores. As tentativas canhestras e nojentas de fazer a "equivalência" entre os dois "polos radicais" também faz parte dessa estratégia estapafúrdia.
Enquanto os flertam com o fascismo se divertem fazendo "liquidações" de seus CDs, DVDs e LPs de artistas "militantes", assistimos de camarote a desespero do bolsonarismo diante da derrota iminente.
Claro que isso é perigoso, pois essa gente, em desespero, partirá para o tudo ou nada para permanecer no poder e acelerará os preparativos para um eventual golpe. Mas é glorioso ver a derrocada dessa gente, ue será trucidada nas urnas no primeiro turno - tomara!
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