sexta-feira, 26 de agosto de 2022

Machismo e misoginia: primeira-ministra está proibida de dançar, mesmo ao som de rock bom

 A banda de rock Santa Cruz surgiu há mais de dez anos celebrando a vida e buscando resgatar um estilo de vida, ainda que apenas na imaginação, que fez a fama de muitos artistas da Califórnia nos anos 80, sendo associados por isso aos excessos de todos os tipos e ao comportamentos hedonista.

A banda de hard rock finlandesa foi acusada de querer trilhar os caminhos "escandalosos" dos conterrâneos do Hanoi Rocks, que esbarraram no sucesso há quase 40 anos nos Estados Unidos, mas que entraram em decadência quando um de seus membros morreu em um acidente de carro - que era dirigido por um Vince Neil, vocalista do Motley Crue, totalmente embriagado e drogado. O acidente matou o baterista Razzle (Nicholas Dingley) em 8 de dezembro de 1984.

Ironicamente, o SDanta Cruz acaba de lançar novo disco, "The Return of the Kings", que está servindo de trilha sonora (uma das) de um "escândalo" político na Finlândia.

Na melhor tradição hipócrita da política viciada de várias democracias de estilo ocidental, a vida particular de uma primeira-ministra virou combustível e arma política de pior nível para atacá-la de forma machista e misógina. 

Quem disse que os países mais "civilizados", com níveis baixíssimos de corrupção e altíssimos de padrão de vida, estão imunes aos pecados e aos escândalos políticos?

A diferença é que lá o padrão é outro. Se no Brasil e a na América Latina ninguém mais se espanta com a quantidade e a gravidade das crises movidas a todo o tipo de escândalo de corrupção, na Finlândia, ao que parece, políticos e dirigentes administrativos não têm o direito de se divertir.

Sanna Marin tem 36 anos, é casada e tem uma filha. Está há quase dois anos como primeira-ministra e tem uma avaliação positiva que varia de 55% a 80% de aprovação. 

De centro-esquerda, peitou a vizinha Rússia e acabou com a neutralidade histórica do país ao levar o país para entrar na União Europeia e na Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte).

Fazer uma boa administração, no entanto, parece não resistir a dois vídeos gravados em sua festa de aniversário, onde ela aparece com amigos dançando música eletrônica e hard rock. E esse é o escândalo: ela aparece dançando em sua casa com amigos em uma festinha de aniversário.

O mundo conservador finlandês, a melhor sabor do bolsonarismo fétido e nojento, quer fazer crer que uma líder política não pode se divertir mesmo em casa. Dançar virou crime hediondo na seara política no melhor país do mundo para se viver.

Sanna Marin recebeu um imenso apoio de eleitores e quase todos os setores da sociedade finlandesa, mas ela sentiu o baque. Já teve de convocar três entrevistas coletivas para se explicar e, suprema humilhação, se submeteu um exame para comprovar que não usou drogas e nem abusou da bebida na festa. Um revés histórico - e desnecessário - para uma administradora pública bem avaliada.

Machismo e misoginia não têm fronteiras. O retrocesso moral, cultural e comportamental do século XXI parece ser uniforme e abrangente, não poupando nem mesmo as sociedades mais tolerantes e avançadas.

Marin não corre o risco de sofrer uma moção contrária no Parlamento e deve seguir à frente do governo, mas jamais imaginaria um desgaste político por conta de uma festinha privada e prosaica em casa - ao som de música ruim, no caso a eletrônica, e de música boa. cm canções de Santa Cruz e outras bandas de hard rock escandinavas.

Quando um(a) primeiro(a)-ministro(a) não pode sequer dançar por conta da "liturgia do cargo", é um (mau) sinal a respeito da ribanceira em que estamos despencando. Pelo menos isso ocorreu ao sim de rock de qualidade...

Imagine então quando ocorrem casos em que um presidente de um país infeliz debocha de mortos n pandemia, fala em "fuzilar" opositores, usa termos racistas para falar a respeito de habitantes do próprio país, atenta contra as vacinas, contra a democracia e tenta empurrar, de forma criminosa, remédios e tratamentos contra a covid-19 comprovadamente ineficazes?


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