quarta-feira, 31 de agosto de 2022

Meninas cantam o blues: Ablusadas e Bia Marchese

Um movimento saudável depois da pandemia na área do entretenimento é o crescimento de mulheres nos festivais de blues pelo Brasil. Já era perceptível a partir de 2018, mas agora elas decidiram ocupar o espaço que há muito era delas.

É claro que, em paralelo, vieram os álbuns, com uma qualidade alta e uma confiança inabalável. Entre eles, dois recentes trabalhos se destacam: "Eu Quero É Blues", do grupo Ablusadas, e "Let Me in", da cantora paulista Bia Marchese.

As Ablusadas é considerada a primeira banda feminina de blues autoral no Brasil. Tem uma particularidade que é uso sem moderação de naipes de metais em canções com letras em português, acrescentando um clima "soul" e de "vaudeville". Cada canção é um pequeno musical cheio de bom humor e sarcasmo.

É um projeto ousado e cheio de referências. A cantora irlandesa Imelda May é uma delas, de quem certamente, emprestaram a musicalidade vibrante do blues e de rockabilly. "A faixa-título é uma declaração de intenções e expõe todo o arcabouço sonoro desenhado para o grupo.

"TPM" é pura comédia, simulando um teatro de revista e realçando a diversidade de vozes e timbres musicais - são oito meninas no disco. E a canção acaba com o mito de que blues em português não dá certo.

“Um dos diferenciais do álbum é que as dez faixas são em português, o que destaca o blues nacional com personalidade, elementos novos e atmosfera vintage, além de apresentar diversos estilos de blues em cada música e mostrar a perspectiva feminina nesse contexto", afirma a vocalista e idealizadora do grupo, Roberta Magalhães, em depoimento ao site Culturadoria (https://culturadoria.com.br/).

Atualmente, em sua segunda versão, a banda conta, além de Roberta, com Débora Coimbra (cantora e contrabaixista), Thaís Mussolini (pianista), Mariane Guimarães (trombonista), Julliete Nurimba (saxofonista alto), Cláudia Sampaio (saxofonista tenor), Bê Moura (baterista) e a nova integrante, Taskia Ferraz (guitarrista). Bruna Vilela, guitarrista, foi quem gravou disco.

Outro diferencial, de acordo com Roberta, é a pluralidade de integrantes - mulheres que representam todas as camadas. “Tem gorda, magra, modelo, branca, negra e toda a diversidade. Todas com seu mundo particular e unidas pela música. É possível unir só mulheres e, dessa forma, sair muita coisa legal”, afirma Roberta.

"Gatim de Rua" é uma preciosidade, onde o jazz dá as caras em uma interpretação calorosa e luminosa. Piano sujo de boteco e boogie woogie se misturam em uma canção com gosto de anos 20, assim como "Desengonça" remete diretamente aos anos 50. "Tão Longe" é blues puro com acento ianque inconfundível.

Em uma linha mais vintage, como as Ablusadas, Ba Marchese abusa da sofisticação e elegância em seu primeiro álbum, "Let Me In", aposta em um repertório mais eclético e caindo para o jazz, embora ao vivo encarne uma diva da soul music em um som mais pesado. Atualmente está radicada em Chicago, nos Estados Unidos.

O tratamento nos arranjos e nos detalhes da performance vocal impressionam pelo cuidado e esmero. A mistura é bem equilibrada nas influências, que vão de Billie Holiday a Sarah Vaughan, passando pela rusticidade de Janis Joplin e pela sutileza dramática de Nina Simone.

O desfile de clássicos é estimulante: a icônica "Love Me Right", a inquisidora "AreYu Satisfied", a bela "Nobody But Me", e a delicada "My Man Called Me,  a dramática "Down in the Valley"...

Ambiciosa e valente, Bia Marchese fez um grande disco e tem um potencial imenso para brilhar não só no blues e no rhythm and blues

 

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