Os irmãos Cavalera celebraram 25 anos do clássico álbum “Roots”, do Sepultura, no domingo, 7 de agosto, na Audio, em São Paulo. Para uma casa de shows abarrotada de gente e vibrante, os fundadores da banda brasileira mais importante de rock da história dentro do heavy metal executaram um dos discos mais importantes do estilo quase na íntegra, além de trazerem momentos de improviso interessantes.
Foi a apresentação de encerramento da turnê denominada “Return to Roots” pela América Latina. Ela já havia passado por México, Costa Rica, Colômbia, Peru e Chile em julho. Na primeira semana de agosto, Brasília, Curitiba, Rio de Janeiro e Ribeirão Preto foram as cidades brasileiras que receberam este show especial antes da capital paulista.
Lançado em 1996, “Roots”, na verdade, completou 25 anos em 2021. Mas, como tantos outro shows adiados ou cancelados, as apresentações em território latino-americano sofreram o impacto da fase aguda da pandemia de covid-19. Com isso, o jeito foi esperar o momento crítico passar para tudo ser organizado do jeito que o fã do bom e velho rock and roll deseja.
Se, em maio, as passagens históricas do KISS e do Metallica pelo Brasil, com espetáculos grandiosos e com público superior a 40 mil pessoas, serviram para matar as saudades de como é bom assistir a um show de rock, agora em agosto, havia uma expectativa de reencontro com as duas figuras consideradas como uma espécie de “alma eterna do Sepultura”.
Por mais que o grande grupo brasileiro continue fazendo bons shows e trazendo ótimos álbuns, os fãs do Sepultura, principalmente aqueles que viveram a fase áurea da banda na fase clássica, sempre vão ficar com aquele sentimento de desejo de ver um dia juntos novamente os irmãos Cavalera, além de Andreas Kisser e Paulo Júnior.
Como a perspectiva de reunião continua nula, o jeito é tentar acompanhar o Sepultura atual brilhando e esperar as passagens de Max e Igor pelo Brasil, com as turnês comemorativas ligadas à banda que criaram nos Anos 1980 ou com o trabalho no Cavalera Conspiracy.
Vale lembrar que não foi a primeira vez que os irmãos trouxeram ao Brasil uma turnê comemorativa do álbum “Roots”. Em 2016, eles comemoraram 20 anos do disco e, sem surpresas, simplesmente detonaram.
Na ocasião, eles estiveram em três capitais: Rio de Janeiro, Belo Horizonte e São Paulo, sendo que, na capital paulista, a apresentação histórica em casa lotada contou também com cobertura do Roque Reverso.
Mais recentemente, em 2019, os irmãos trouxeram ao Brasil, para o Rio e para São Paulo, uma turnê focando o repertório dos lendários álbuns “Beneath The Remains” e “Arise”, fundamentais para quem gosta do Sepultura. O Roque Reverso também fez a cobertura do ótimo show na capital paulista na Audio.
Em 2018, os irmãos Cavalera trouxeram este mesmo show relacionado aos dois álbuns clássicos ao Brasil, tocando no Rio e em São Paulo. Na ocasião, o Roque Reverso fez a cobertura da apresentação emocionante na capital paulista no finado Tropical Butantã.
O show
Além de o show de 2022 ficar marcado pelo retorno após a fase crítica de uma pandemia, um outro ponto importante desta passagem dos Cavalera pelo Brasil é a mudança em uma das guitarras. Com a saída de Marc Rizzo em 2021, o experiente Dino Cazares, do Fear Factory, assumiu a responsabilidade da dupla instrumental com Max. No baixo, Mike Leon continua como fiel escudeiro.
Após as bandas de abertura Sinaya e Krisiun, a apresentação principal começou perto das 22 horas do domingo. Com “Roots Bloody Roots”, os irmãos Cavalera trouxeram o conteúdo musical tão aguardado pelo público.
Com peso e vibração, o mais calmo dos fãs não deve ter ficado sem reação. Após tanto tempo sem shows, é inevitável não se emocionar ao ver uma casa lotada, com fãs cantando a plenos pulmões um dos maiores clássicos do heavy metal.
E assim, foi executada a maioria das faixas do “Roots”: “Attitude”, “Cut-Throat”, “Ratamahatta”, “Breed Apart”, “Straighthate”, “Spit”, “Dusted”, “Lookaway”, “Itsári”, “Ambush” e “Dictatorshit”.
Ficaram de fora “Born Stubborn” e “Endangered Species”, que haviam sido tocadas na turnê de comemoração de 20 anos em São Paulo, e a instrumental “Jasco”.
Detalhe que “Lookaway”, que contou com trechos de “Territory” e do clássico “War Pigs” (do Black Sabbath), foi executada antes de “Dusted”, diferente da ordem natural do álbum.
Em “Ratamahatta”, não faltaram as homenagens de Max a “Zé do Caixão, Zumbi e Lampião”, como manda o refrão da música, que hoje parece fazer um sucesso ainda maior ao vivo do que na época do lançamento.
Tecnicamente, o show não foi tão rico como o de 2016, mas a alegria de Max Cavalera em tocar em São Paulo era palpável. Ele parecia uma criança numa sala de brinquedos, divertindo-se e fazendo o público se divertir.
Falando em técnica, Igor, mais uma vez, foi seu maior representante nesta passagem. Com uma bandeira fincada ao lado de sua bateria representando movimentos antifascistas, o músico simplesmente deu mais uma de suas aulas. Tal como um bom vinho, mostrou que qualidade, quando é conquistada, não desaparece, como o público pode ver na instrumental “Itsári”, que, no fim, ainda contou com Max ajudando nas baquetas, atrás do irmão.
Após toda a homenagem do público, que gritou o nome de Igor, a Audio teve uma surpresa com a ilustre presença do líder da tribo xavante, Cipassé, que foi um dos responsáveis pelo Sepultura conseguir visitar e gravar faixas do “Roots” em Mato Grosso.
Ele discursou durante alguns minutos, lembrando da necessidade de o Brasil olhar de maneira mais responsável os povos indígenas e o meio ambiente. Bastou falar em meio ambiente, num País onde há um presidente da República extremamente criticado por sua postura ao tema, para que o público passasse a xingar Jair Bolsonaro a plenos pulmões.
Após o discurso de Cipassé, “Ambush” e “Dictatorshit”, talvez, tenham sido destaques da noite, com a banda mais pesada e densa.
Depois de uma pausa para um leve descanso, os músicos voltaram ao palco, tocaram a introdução de “Raining Blood”, do Slayer”, e convidaram o vocalista do Krisiun, Alex Camargo, e o filho de Igor, Ícaro, para reforçar as guitarras em “Troops of Doom”.
Mesmo com um andamento mais lento do que a versão original, a música foi capaz de abrir rodas na pista.
Na sequência, outro presente do bis foi “La Migra”, do Brujeria, que tem Dino Cazares como membro fundador.
“Refuse/Resist” veio a seguir e transformou a Audio numa bagunça só. Animadíssimo, Max parou a música no meio e decidiu formar um “Wall of Death”, que consiste em dividir a pista em dois grupos, um de cada lado, que se dirigem, um contra o outro, numa espécie de “batalha medieval de mosh”.
Max nomeou um lado como “os trogloditas” e o outro como “os cavernosos”. “E um suicida no meio!”, pediu, provocando risos da plateia e elegendo um indivíduo sem camisa da pista como representante. Reiniciada a música, o caos, citado na letra da música, reinou na Audio, como manda um bom show de thrash metal, com direito a mais um trecho de “Territory” de brinde.
Era uma sucessão de improvisos. E o público adorava e curtia o momento.
As versões do Sepultura para “Orgasmatron”, do Motörhead, e “Polícia”, dos Titãs, também foram presentes da noite. Na primeira, Max lembrou do show histórico do Sepultura na Praça Charles Miller, em 1991, e homenageou o grande e saudoso Lemmy. Na segunda, fez questão de dizer que seria cantada a versão da banda que fundou, com os palavrões e tudo.
Depois de pouco mais de 1 hora e meia de show, o público viu o fim da apresentação com uma versão curta e mais rápida de “Roots”, recheada também de improvisações.
Show encerrado e a sensação geral foi de um programa bem escolhido para fechar o domingo e renovar as energias para a nova semana. Prometendo retornar no ano que vem, Max agradeceu ao público e a banda posou para fotos, com os dois irmãos mantendo a tradição de vestir a camisa do Palmeiras, atual líder do Campeonato Brasileiro de 2022.
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