sexta-feira, 15 de março de 2024

Ray Davies, 80 anos: o grande cronista do rock inglês

 Ainda persiste a percepção generalizada de que The Kinks é a banda inglesa mais subestimada da história. Por mais que os percalços fora os palcos e estúdios, de certa forma, tenham influenciado muito a trajetória da banda, a fama menor do que deveria ter não pode ser justificada dada a qualidade do material produzido ao longo de mais de 60 anos.

Enquanto o mundo espera ao menos uma reunião final entre seus integrantes vivos, os irmãos guitarristas Ray e Dave Davies, as duas mais recentes coletâneas om canções da banda alcançam números interessantes demonstrando a sua importância dentro do rock.

O ano de 2024 é importante porque marca os 80 anos de Ray Davies, o principal compositor. Reconciliado com o irmão Dave, quatro anos mais novo, Ray ainda não decidiu como vai celebrar a data. pois ainda existem algumas rusgas entre eles que datam de  de 1996, quando oficialmente os Kinks acabaram.

Ray Davies costuma ser celebrado como um dos grandes compositores de música popular de seu tempo. São de sua autoria os maiores sucessos dos Kinks desde sempre, com uma ou outra ajuda de Dave. Este, aos 76 anos, sempre foi um elogiado guitarrista solo, mas que nunca teve brilho na carreira solo.

O grupo foi formado em 1963 em Muswell Hill, norte de Londres, pelos irmãos Ray e Dave Davies com seu amigo Pete Quaife no baixo.  O baterista Mick Avory, que tocou nos Rolling Stones nos primórdios daquela banda, completou o time em 1964.

The Kinks foi grande até 1967, quando The Who, Yardbirds, Cream, Jeff Beck Group e Small Faces, que representavam os mais jovens naquele ano, ultrapassaram e se tornaram mais populares, ainda que o quarteto de Muswell Hill mantivesse a qualidade de seu trabalho.

O grupo perdeu terreno por não ter atingido o mercado americano. Essencialmente britânico nos temas e no som, foram praticamente ignorados pelo público ianque, que não entendia e não se esforçava para entender as referências essencialmente inglesas das músicas.

Para piorar, em sua primeira turnê pelos Estados Unidos, em 1967, os quatro arrumaram tanta confusão e tantas brigas que acabaram por ser banidos dos palcos de lá por promotores de shows e autoridades diversas. Entraram nos anos 70 como uma relíquia do passado, enquanto Stones, Who, Pink Floyd, Faces e outras bandas se reinventavam e retomavam o sucesso.
 
Existe um projeto, "Kinks 60", que ainda está em execução, pretende ser uma celebração dividida em duas partes ilustrando a jornada musical do grupo. As duas partes de The Journey", já lançadas, são um grande panorama do que de melhor a banda fez.

As músicas de “The Journey – Part 1 (1964-1975)” foram escolhidas a dedo pela primeira vez por Ray, Dave e MickAvory, com curadoria de acordo com temas inspirados nas provações e tribulações de sua jornada pela vida juntos como uma banda desde 1963. 

Aqui aparecerão clássicos como "You Really Got Me", "Waterloo Sunset", "All Day And All Of The Night", "Celluloid Heroes", "Supersonic Rocket Ship", "Dead End Street" e "Death Of A Clown".  

Mesmo tendo ficado para trás na comparação om os principais concorrentes, os números dos Kinks são bem respeitáveis. Foram mais de 50 milhões de discos vendidos em formato físico em todo o mundo

Suas canções tocaram mais de um bilhão de vezes e emissoras de rádio e streamng; eles alcançaram cinco singles no Top 10 dos EUA, nove álbuns no Top 40 dos EUA, vinte e dois singles/EPs no Top 20 do Reino Unido e seis álbuns no Top 10 do Reino Unido, com quatro álbuns com certificados de ouro.

 Entre inúmeras homenagens, eles receberam o Prêmio Ivor Novello por ‘Excelente Serviço à Música Britânica’ e foram introduzidos no ‘Rock & Roll Hall Of Fame’ e no ‘UK Music Hall of Fame’.  

Embora a ideia os irmãos de formar a própria banda tenha surgido em 1962, foi só no ano seguinte que tiveram tempo e instrumentos adequados para se tornarem profissionais. Não er exímios músicos, mas mostravam alguma qualidade e algo diferente em relação aos jovens da época.

Com inegável veia pop, chegaram a ter mais prestígio na Inglaterra que os Rolling Stones e que os Yardbirds no biênio 1963-1964. 

No entanto, com fama de ser presunçosa e excessivamente inglesa, foi atropelada pela turma de Mick Jagger, pelos Animals e pelo Who. 

Mesmo com Dave ficando longe da banda por vários períodos, os Kinks faziam questão de manter sua influência, elevando o clima de tensão, já que Ray, com toda a razão, exigia primazia da liderança por conta da incontestável liderança e por seu o principal compositor – sua onipresença era tamanha que superava a de Pete Townshend no Who. 

A falta de acordo entre os irmãos acabou por melar qualquer possibilidade de comemoração dos 55 anos de surgimento dos Kinks, assim como ocorrera cinco anos atrás, quando do cinquentenário.

Em 2014, a comemoração do 50º aniversário, que deveria ser motivo de festa, teve apenas o lançamento da excelente caixa "The Anthology 1964 – 1971″, que teve a supervisão direta de Ray Davies. Ao todo são cinco CDs com os grandes clássicos e raridades, sem previsão de lançamento no Brasil. 

 Além das músicas conhecidas como foram lançadas, há versões raras gravadas em demos, sobras de estúdio e faixas com mixagem alternativa.

Em 2014, Ray Davies deu uma entrevista longa à revista Rolling Stone norte-americana dizendo que tinha voltado a ver o irmão mais novo com frequência. "Temos conversado bastante nas minhas visitas à cidade dele, no interior. Ficamos em um café e conversamos sobre várias coisas, menos música." 

 Considerado um dos grandes cronistas da vida inglesa moderna, Ray Davies sempre é citado como influência no rock e no mundo pop na composição e na execução de músicas. Dois de seus últimos álbuns solo, os dois volumes de "Americana", receberam fartos elogios nos Estados Unidos e Inglaterra, vendendo muito bem para os padrões de hoje.

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