quarta-feira, 24 de março de 2021

'5150', lançado há 35 anos, sedimentou a ressurreição do Van Halen

 Marcelo Moreira



O medo dos irmãos era grande. Que tipo de banda surgiria com o novo vocalista? Quantos fãs eles perderiam? Conseguiriam arrebanhar novos diante de um material tão diferente e conceitualmente nada a ver com a era anterior?

Essas dúvidas se dissiparam assim que "5150" chegou às lojas, em 1986. Sucesso absoluto de crítica  de público na turnê subsequente, catapultou o Van Halen para o topo do topo, assim como acontecera coim o AC/DC seis anos antes, quando estreou Brian Johnson no maravilhoso "Back in Black".

Nem nos melhores sonhos a versão da banda com Sammy Hagar cantando chegaria tão longe. A aposta era super arriscada ao convidar um astro de médio porte, com carreira solo assentada e bem-sucedida, bem mais velho do que o restante do grupo.

E aí entra a tal da química, algo que se perdera com David Lee Roth, que se achava (na versão da banda) o responsável pelo estouro e mais famoso do que o próprio Van Halen. 

É claro que o choque viria, e bem rápido. Nem bem a turnê de "1984" acabara e o mítico vocalista anunciava sua carreira solo e os músicos de sua banda, tudo sem direito a nem mesmo uma despedida decente.

E antes que pudessem pensar no que acontecera, apesar das brigas recentes, o resto do Van Halen foi nocauteado em 1985 com o lançamento meio apressado do primeiro EP do ex-vocalista, com os sucessos estrondosos de "California Girls" e "Just a Gigolo".

"5150", lançado há 35 anos, foi a resposta magnífica e exuberante para o hard rock farofento de Roth. Sem medo de apostar nos teclados e nas letras comuns e meio bregas de Hagar, o Van Halen ressurgiu mais adulto, menos festeiro, mais AOR (álbum de rock orientado para adultos).

As boas sacadas, o sarcasmo e a ironia de Roth davam lugar a um som mais comercial e menos virtuosos, ainda que pesado. Estava mais acessível, mais direto e com um apelo maior para uma juventude que estava surgindo e apreciando aquele mundo sonoro hard rock que logo descambaria em sucesso absoluto com Guns N'Roses e Motley Crue.

Se a era Roth era mais rock'n'roll, com Sammy Hagar o Van Halen enveredava por um caminho mais sério e sem espalhafato, menos espirituosos como que demarcando os dois períodos. E os hits monstruosos foram sendo empilhados ao longo de nove anos com o novo vocalista.

Van Halen em sua segunda fase: da esq. para a dir., Michael Anthony (baixo), Eddie Van Halen (guitarra), Alex Van Halen (bateria) e Sammy Hagar (vocais) (FOTO: DIVULGAÇÃO)

E tome rock de arena com a estimulante "Dreams", a faixa-título e o sucesso mundial "Why Can't This Be Love", além do hard rock na veia de "Get Up". "Good Enough" flertava com a era anterior, mas "Summer Nights" e "Love Walks In" recolocavam a "nova" banda nos novos trilhos.

Claro que houve quem torcesse o nariz para a "nova" banda. Hagar era considerado "duro", "gritão" e pouco versátil. Muitos fãs sentiam falta da sacanagem que Roth emanava ao cantar com seus maneirismos. O Van Halen ficou sério demais e palatável demais, acusações que toda banda sofre um dia. Que tal uma mudança de nome?

Óbvio que Eddie e Alex Van Halen nem pesaram nisso. Na estreia de uma nova formação sempre há frio na barriga e dúvidas, mas estas eram poucas diante do explosivo material de "5150". E o Van Halen ficou gigante, mesmo sendo uma banda muito diferente da que começou com David Lee Roth.

Black Sabbath e Deep Purple mudaram de vocalistas quando os icônicos Ozzy Osbourne e Ian Gillan (respectivamente) saíram, com bons resultados, apesar de drásticas diferenças nos sons. No entanto, o espelho era mesmo o AC/DC, que estourou finalmente no mundo todo com Johnson substituindo o cultuado Bon Scott, morto em fevereiro de 1980.

Se o AC/DC ficou mais pesado e mais cortante, conseguiu manter a sua essência. O Van Halen, por sua vez, ousou experimentar mais e agregar mais elementos ao seu hard rock festivo, e isso se tornava evidente em "1984", com sua carga excessiva de sintetizadores, na opinião dos puristas.

Eddie Van Halen buscava algo diferente, é fato, e encontrou em Sammy Hagar um parceiro que comungava das mesmas ideias a respeito de som adulto ou mais evoluído. Houve experimentações, mas ainda assim o resultado em "5150" surpreendeu a todos. 

O Van Halen de Roth era passado, e a sonoridade donovo disco/nova formação era mais moderna, mais atual e apontava para a diversidade, tanto que poucos hits antigos eram tocados ao vivo com Hagar. 

Aposta certeira ou um tiro no escuro? A primeira hipótese é a mais provável, já que tudo pareceu muito bem planejado e pesquisado diante de tamanho acerto. E o Van Halen nunca foi tão grande e popular como no período em que Sammy Hagar esteve à frente dos vocais.


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