sábado, 13 de março de 2021

'Cabeça Dinossauro', dos Titãs, 35 anos: mais atual do que sempre


Ricardo Gozzi – do site Roque Reverso 




Viver a passagem da infância para a adolescência na década de 1980 no Brasil foi um privilégio para a juventude roqueira em diversos sentidos. 

Apenas para ficar em alguns exemplos, foi quando a ditadura civil-militar caiu, a censura foi para o espaço e o Brasil passou a receber grandes shows internacionais, tendo o Rock In Rio como a porta de entrada de uma avalanche roqueira a partir de 1985.

O roquenrow voltava a ser a música da moda (guardarei pra mim as opiniões sobre o visual da época) e o rock nacional atravessava um de seus mais intensos períodos de criatividade e exposição na mídia. Para onde se olhasse havia uma banda de rock tentando decolar. 

O sonho de quase todo moleque era ter uma guitarra. E a primeira coisa que esse aspirante a guitarrista ia aprender a tocar depois de "Smoke on the Water", do Deep Purple, era "Polícia", um dos singles do álbum que alçou os Titãs ao status de uma das mais importantes bandas de rock do Brasil em todos os tempos e que acaba de completar 30 anos neste mês de junho de 2016. 

"Polícia" integra "Cabeça Dinossauro", terceiro trabalho de estúdio dos Titãs. Produzido por Liminha, Pena Schmidt e Vitor Farias, "Cabeça Dinossauro" saiu em junho de 1986 pela WEA para entrar para a história do rock brasileiro. 

Em meio a um desfile de letras memoráveis e guitarras distorcidas, o disco fez barulho, inovou, abriu caminho para o rock pesado nacional e colocou em destaque o punk e o pós-punk, mas ainda sem abandonar o flerte com a new wave dos discos anteriores. 

Pense em dez dos maiores sucessos dos Titãs nos anos 1980 e pelo menos a metade você vai encontrar em "Cabeça Dinossauro".

Enquanto alguns dos integrantes da banda enfrentavam problemas com as "otoridades" por causa de substâncias ilícitas, os Titãs souberam como poucos em "Cabeça Dinossauro" confrontar o que ainda restava da censura oficial e tirar proveito da transição da ditadura para o mais longo período democrático da história brasileira.

"Cabeça Dinossauro" é um épico libelo roqueiro-poético contra o estado ("Polícia", "Estado Violência"), a religião ("Igreja"), o capital ("Dívidas" e "Homem Primata") e até mesmo contra a família dita "tradicional", os pilares do aparato de opressão e repressão contra qualquer pessoa, grupo ou movimento que tente minimamente desafiar o poder conservador estabelecido. 

Cada uma dessas músicas sozinha já valeria o disco, mas quem estivesse a fim de um pouco de leveza ou ironia poderia se contentar com as excelentes "AA UU", "Porrada", "Família" e "O que". Das 13 faixas do disco, 11 foram executadas exaustivamente pelas rádios da época.

Das 13 faixas do disco, 11 foram executadas exaustivamente pelas rádios da época. A interferência da censura limitou-se à sensacional "Bichos Escrotos", que pode ser ouvida sem o ridículo "piiiii" em cima do "vão se foder" aplicado pelas poucas emissoras de rádio que ousaram executá-la na época. 

Em peso nas guitarras, "Cabeça Dinossauro" seria igualado por "Tudo ao Mesmo Tempo Agora" e superado apenas por "Titanomaquia", álbum produzido por Jack Endino e lançado em 1993. 

Em termos de relevância para a música nacional, nenhum outro álbum dos Titãs é capaz de rivalizar com "Cabeça Dinossauro".

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