Marcelo Moreira
Sofisticação, preços salgados e música da melhor qualidade. Cada show presenciado naquela casa bacana era um evento. Não era como ir ao estádio ver o Iron Maiden ou ao Carioca Club ou Olympia ver Rainbow ou Black Sabbath ou Glenn Hughes. Era necessária uma preparação diferente.
Até mesmo o engarrafamento de carros nas proximidades era diferente. Era mais glamouroso. Não era todo ia que se podia ver B.B. King, Buddy Guy, Nuno Mindelis, André Christóvam, Eric Gales e outras sensações do blues e do jazz. Todo mundo bem vestido, comportado e ansioso para curtir música de uma forma diferente.
Elegante? Talvez, mas o Bourbon Street, no bairro de Moema, na zona sul de são paulo, conseguiu o que poucos lugares no mundo conseguem: ter uma cara e um ambiente únicos, que impactam diretamente nos clientes e espectadores.
A terrível notícia não foi uma surpresa, mas choca pela extensão de seu impacto e, por tabela, do tamanho da crise. O jornalista Julio Maria, de O Estado de S. Paulo, informa que o Bourbon Street está à beira do fechamento após mais um lockdown em São Paulo, ainda que menos severo do que deveria.
Os proprietários bem que tentaram sobreviver ao ano trágico de 2020, mas nova paralisação nas atividades parece ser fatal. Já estava difícil operar apenas com 40% da casa, e ainda sem poder realizar os shows que sempre realizou. Para onde correr?
A pandemia de covid-19 já tinha abatido outra casa paulistana importantíssima para a música, o Ó do Borogodó, um dos templos paulistanos do samba. Com menos público em um vírus que não dá trégua, a casa não suportou.
Guitarra autografada por B.B. King em 1995, um dos tesouros do Bourbon Street, em São Paulo (FOTO: DIVULGAÇÃO) |
No ABC, duas casas de São Bernardo do Campo estão na mesma encruzilhada. O Bar do Nenê, local de pop rock aos finais de semana, já encerrou as atividades, enquanto que o Adoniran Bar, a casa do samba da região, anunciou que deverá fechar caso não encontre um comprador uma solução financeira que permita a continuidade.
Edgard Radesca, o empresário por trás do Bourbon, não cravou definitivamente o fechamento, mas crê que não terá alternativas se não obtiver alguma garantia financeira para manter a casa.
"Infelizmente, fizemos o possível. Não consigo manter essa estrutura por mais de três meses", disse o empresário ao Estadão. "Os funcionários estão vindo buscar as coisas da geladeira para não deixar os alimentos perderem a validade. É muito triste."
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