quarta-feira, 31 de março de 2021

A luz no fim da pandemia diante do otimismo de Bruno Gouveia, do Biquíni Cavadão

 Marcelo Moreira

Bruno Gouveia (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Desde que parte da população deste imenso país despertou para os protestos políticos, em 2013 - nem vamos contar os espasmos de 1992 contra o presidente Fernando Collor - algumas músicas emblemáticas são resgatadas pra servir de trilha sonora das manifestações.

Oito anos atrás a eleita foi "Até Quando Esperar", da Plebe Rude, um dos hinos políticos do rock nacional. Com a piora nas condições sanitárias e o aumento de vítimas da covid-19, a música relembrada é "Zé Ninguém", do Biquíni Cavadão, curiosamente uma composição da época de Collor.

"É surpreendente, de certa forma, pois é uma canção social, e não política, embora os temos hoje sejam outros. Se por m lado mostra a força da canção, por outro é um sintoma dos complicados tempos em que vivemos", diz Bruno Gouveia, o vocalista do Biquíni Gouveia.

O resgate de "Zé Ninguém" é mais um sopro de boas novas para a banda e para o cantor, imersos em diversos projetos que incluem comemorações, participações em projetos distintos e a publicação de um livro.

A pandemia da covid-19 acabou empurrando as comemorações dos 35 anos de criação da banda. Desde o último show, realizado em Minas Gerais em 14 de março de 2020, o grupo só subiu ao palco em setembro, uma única vez, em um evento em Fortaleza (CE). 

"A pandemia não deu trégua e os nossos 35 anos se tornaram 36. E para nós estava claro que as comemorações precisavam de um gás para marcar um período tão importante. Da forma com pudemos, compusemos novas músicas e pretendemos lançar novo disco", diz Gouveia com grande expectativa.

"Através dos Tempos" é o nome do álbum, embora a banda deva experimentar novas formas de divulgação. Seguindo uma tendência, o Biquíni Cavadão deve pulverizar o lançamento, com um single de cada vez.

O vocalista se empolga ao falar de novas tecnologias e o impacto que as mudanças de hábito provocaram na forma de se ouvir música. "Sempre fui ligado na questão da evolução tecnológica no mundo artístico e, de alguma forma, o artista sempre teve de se adaptar a essas mudanças. Do compacto simples ao MP3, passando pelo CD e a internet, tudo mudou rápido e obrigou todos a se mexer. São tempos instigantes, desafiadores. Como sou otimista, acho que as possibilidades são interessantes."

E otimismo não falta mesmo a Bruno Gouveia, que curte o filho de apenas sete meses de idade enquanto caça oportunidades ao lado de amigos e colaboradores, para não falar do livro autobiográfico "É Impossível Esquecer o Que Eu Vivi", um relato intenso e aberto de uma vida movimentada no mundo da música e da imprensa.

A finalização do álbum do Biquíni Cavadão tomou-lhe a maior parte do tempo, mas a pandemia foi prolífica. Ao lado do amigo Léo Jaime, participou com aletra da música "É Verdade Esse 'Bilete'", da banda Old Chevy, de Campinas (SP), especializada em rockabilly. Gouveia escreveu a letra hilária e cheia de sarcasmo, com leve tom de crítica política e social.

Nem ele consegue determinar se a empolgação com a profusão de atividades é o motor do bom, momento em que a carreira se encontra. 

Mesmo sem conseguir conter a felicidade, tem muita consciência a respeito do quer estamos vivendo. Já perdeu a conta das noites insones em busca de ideias para amenizar o sofrimento da classe artística e musical neste período de bloqueio total de shows e gravações. 

"Ainda que eu reconheça que tenha uma condição melhor do que muitos artistas, e que sinta uma falta grande de voltar ao menos a fazer minhas apresentações de jazz ao lado de minha mulher, a situação geral é muito, mas muito perturbadora. Eu me pego pensando nas agruras de muita gente o tempo todo e é algo que precisamos debater e pensar mais para tentar encontrar algum tipo de ajuda para nossa classe", diz Gouveia.

Outra participação da qual curtiu muito foi cantar em uma versão de "Halo", do Depeche Mode, em projeto capitaneado pelo baixista Patrick Laplan, que tocou com o Biquíni por oito anos. A versão é diferente, mas resgata a paixão que tem pelos anos 80. "Ao mesmo tempo em que expande o horizonte, resgata um pouco de nossa história. Adorei esse projeto."

Gouveia não perde o fôlego e não se perde no emaranhado de atividades e logo comenta sobre "Ilustre Guerreiro Ao Vivo", o álbum que contém canções do Biquíni Cavadão e alguns clássicos escritos pelo amigo e mentor Herbert Vianna (Os Paralamas do Sucesso).

Biquíni Cavadão (FOTO: DIVULGAÇÃO)

"Vital e Sua Moto", "Mensagem de Amor" e "Ska" ganharam versões reverentes, com arranjos menos óbvios e leves mudanças de ritmo. O grupo também incluiu mais algumas músicas de Herbert Vianna em estúdio para este novo lançamento. 

Originalmente tocadas na temporada 2019 do programa "Versões", do Canal Bis, elas foram gravadas no fim do ano passado e finalizadas em casa, durante a pandemia. O rock "Fui Eu", a balada "Quase Um Segundo" e a bluesy "Caleidoscópio" fazem parte desta lista. "Não tem como não se emocionar ao participar de um projeto como esse. Herbert e os Paralamas fazem parte de nossas vidas e suas canções são muito fortes e necessárias."

É evidente que soi muito distintas as situações profissionais e financeiras entre os artistas de vários calibres no Brasil, mas é difícil não admirar a força de vontade e o entusiasmo de Bruno Gouveia em um momento em que a pandemia reduz as perspectivas gerais. 

Mergulhado no trabalho, saboreando a convivência com o filho novinho e espalhado por várias oportunidades que não deixa passar, ainda sobra tempo para não esquecer de um bom amigo: Philippe Seabra, guitarrista e vocalista da Plebe Rude.

"Preciso falar com ele, é um cara de quem gosto muito. Faz um tempinho que não nos falamos. Estou muito curioso para saber quando ele vai finalizar uma versão que fizemos para uma música da banda inglesa XTC, 'Senses Working Overtime'. Acho que ficou bem legal", conclui o cantor.






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