quarta-feira, 17 de março de 2021

Mês da Mulher: guitarrista 'questiona' a condição feminina no século XXI



Foi necessária a criação de um dia internacional comemorativo para que as mazelas das mulheres fossem detectadas, observadas e discutidas -e para receber alguma atenção. E pensar que as discussões remetem a temas que certamente envergonham qualquer sociedade civilizada. 

Quem diria que no século XXI estaríamos ainda discutindo as desigualdades entre homens e mulheres, racismo, preconceitos diversos e trabalho escravo...

A guitarrista e vocalista Renata Petrelli, da banda The Damnnation, fez algumas reflexões, nas redes sociais, a respeito da condição da mulher na sociedade brasileira de hoje, e principalmente no rock e na arte. Ela toca em várias feridas, o que vem bem a calhar neste mundo complicado devastado pela pandemia de covid-19.

Renata Petrelli (FOTO: DIVULGAÇÃO)



Vou falar para vocês que ser mulher não é algo fácil.

Tem tantos problemas maquiados, subestimados, que muita gente não tem nem ideia de qual é a sensação.
 
- A grande maioria, e digo isso com convicção porque eu faço parte deste número, sofreu ou sofre algum tipo de abuso. E abuso não é só físico, é psicológico também.
 
- Na desconstrução do modelo familiar perfeito que vem tomando forma na geração dos meus pais e se intensificou na minha geração, o papel da mulher na sociedade vem mudando na base de muito suor e sangue, tudo para ter VOZ e liberdade de escolha.

- A maioria das meninas, moças, mulheres, e senhoras, tiveram seu caráter construído e desconstruído na base do medo, decepção e raiva.
 
- Medo de quê? Você pode estar se perguntando. Medo de por exemplo, eu quando criança, adolescente e adulta, gostar de futebol, skate, e rock n roll e nunca ter sido o modelo de menina/mulher imposto pela sociedade. Gostar do que não era usual uma garota gostar, RISOS. Medo de mostrar e dar opinião, pois corre até hoje o risco de receber uma resposta arrogante, desdenhosa, grosseira, isso sem contar nas possibilidades de outros tipos de agressão.
 
- No meu caminho que continuo a trilhar tudo é majoritariamente masculino: O tipo de música que gosto de ouvir e tocar, o tipo de trabalho que tenho de segunda a sexta feira com Business Intelligence e Data Analytics é AINDA composto pela maioria de homens.
 
- Na minha vida acadêmica e no início da minha jornada no mercado de trabalho passei por situações intimidadoras que em sala de reunião a grande maioria era homem e simplesmente a minha opinião não era levada a sério, não contava! A pior coisa para uma mulher é isso, não ser levada a sério, não ter voz. E isso meus amigos, ainda acontece muito. Acontece tanto que quando uma mulher tem voz, força de opinião intimida e causa comentários dos mais chulos possíveis.
 
- Nos meus mais de 10 anos tocando por ai, aprendendo e evoluindo com as pessoas e bandas com que já toquei, não foram poucas as vezes que o "elogio" casado sempre vem
"Vocês são gatas e tocam para caralho". Ou ainda os marmanjos e até marmanjas que vão "dar uma conferida" nas bandas para ver se as meninas tocam mesmo ou vão só porque a banda X só tem gata e julgar/menosprezar o trabalho. Isso sobrepuja o trabalho em dobro que nós mulheres temos que fazer, que é além de todo o mesmo rolê de compor, gravar, investir e muito, é lidar com o desdém, o menosprezo que tem aos montes por aí, ou ainda aquele tipo de apoio que é da boca pra fora (que já vi e recebi muito).

- Ainda há o conto de como é a vida perfeita e completa para uma mulher: que seria basicamente crescer, aprender todos os dotes necessários para cuidar de uma casa, engravidar, mesmo que isso seja abdicar de uma vida profissional em ascensão por exemplo, e depois dos filhos criados, não ter nenhum reconhecimento pelo sacrifício de sua individualidade.
 
- Sabe qual é a vida perfeita para uma mulher? É nós sermos respeitadas como individuo que faz suas escolhas basicamente baseadas na sua vontade e desejo de realização e não baseadas no que a sociedade esperar que ela seja.
 
- Outro dia numa brincadeira de instagram, fiz uma pergunta com 3 ou 4 alternativas de qual seria meu próximo desejo: escrever um livro, ter um filho, plantar uma árvore, coisas assim. A grande maioria respondeu que era ter um filho, e quase a totalidade foi homem que respondeu rs. Tenho mais de 30 anos e ainda não sei se quero ter um, talvez porque ainda não vislumbre o parceiro para isso (mas isso é outra história)rs. Mas por que o GRANDE desejo de uma mulher em pleno século XXI deveria ser ter um filho? Por que o desejo de uma mulher não poderia ser CEO de uma empresa? Uma comandante de uma aeronave, uma musicista que toque nos 4 cantos do planeta?!
Amigos, muitos de vocês sabem que ter filho não é fácil e nem dá pra saber se ganhou na loteria de Deus ou de Lucifer. Pode ser uma pessoa incrível, mas também pode ser uma pessoa ruim.

- Infelizmente quando uma mulher apesar de todas as adversidades que vem junto com o simples fato de ser mulher, tem a liderança da própria vida intimida a muitos.
 
- Infelizmente no final das contas, mulher aprende a endurecer, tropeçar e cair para dar mais cara a tapa e peitar para fazer valer seu trabalho, sua opinião, suas decisões e suas conquistas.

- Uma mulher para ser respeitada como indivíduo, tem que IMPOR respeito, quando nada deveria ser imposto, deveria ser algo natural.

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