quarta-feira, 17 de março de 2021

Yes prepara megacaixa com 30 discos para celebrar a fase da era 'Union'

Marcelo Moreira

Os lançamentos comemorativos viraram um negócio lucrativo nos últimos anos e estão salvando a "lavoura" de muitas bandas clássicas com fartura de material para reciclar ou de baús com raridades e materiais inéditos.

The Who prepara uma megacaixa com quatro CDs de material raro relativos ao álbum "The Who Sell Out", de 1967, embora haja pouca coisa diferente que seja relevante.

No caso do Yes, sempre exuberante e exagerado em muitos de seus lançamentos, a comemoração vai se dar por conta dos 30 anos de um de seus períodos mais conturbados e controversos, um projeto que reuniu integrantes e ex-integrantes . Na verdade, nem projeto era, já que ocorreu mais por pragmatismo para reduzir custos.

Com o álbum "Union", o Yes se tornou um octeto, mesmo que por pouco tempo. Foi uma grande novidade e o disco soou apenas ok, já que era irregular - o material era a junção de canções de dois grupos diferentes, um tentando soar mais moderno e antenado, e outro voltado para o passado progressivo setentista.




Entretanto, a divulgação de que o Yes mudava de novo, e com a incorporação de antigos membros dissidentes, mexeu com o mercado e lançou muitos holofotes para aquele ano de 1991. Em termo comerciais, a turnê com oito músicos só perdeu para a milionária ocorrida oito anos antes, quando do álbum multiplatinado "90125".

Naquele ano e naquele álbum, depois de muita costura entre muitos empresários, o Yes era formado por Jon Anderson (vocais), Chris Squire (baixo), Trevo Rabin e Steve Howe (guitarras), Bill Bruford e Alan White (baterias) er Rick Wakeman e Tony Kaye (teclados).

A escolha do material a ser celebrado surpreende por se ratar de um trabalho pouco lembrado e cultuado da banda. Só mesmo a efeméride para justificar. Mas lançar uma supercaixa com 26 CDs e 4 DVDs? Será que "Union" merece tudo isso?

O material vai conter dez shows gravados durante a turnês, uns excelentes, outros nem tanto, em CDs duplos e triplos. A previsão é de que chegue ao mercado em abril. Veja a lista:

CD duplo+DVD: Pensacola Civic Centre 9th April 1991
CD triplo: Worcester Centrum, Worcester, MA 17th April 1991
CD duplo+DVD: Nassau Colosseum 20th April 1991
CD triplo: Hanns-Martin-Schleyer-Halle, Stuttgart, Germany 31st May 1991 (FM Broadcast)
CD triplo: Wembley Stadium, UK (2 Discs) 29th June 1991 FM Broadcast + Star Lake Amphitheatre 24th July 1991
CD triplo: Alpine Valley Music Theatre, Wisconsin 26th June 1991
CD duplo+DVD: Madison Square Gardens, NYC 15th July 1991
CD triplo: Spectrum Theatre, Philadelphia, 12th July 1991
CD duplo+DVD: Shoreline Amphitheatre (Remastered) 8th August 1991
CD triplo: Yokohama Bunka Taiikukan 4th March 1992

Um DVD simples foram lançados nos anos 2011 com uma excelente apresentação da banda em Mountain View, Califórnia, registrada no dia 8 de agosto de 1991, com qualidade extraordinária de áudio e vídeo. 

Foi um bom show, mas dava para perceber que alguns dos integrantes estavam tocando no piloto automático, especialmente quando o material executado não se referia a sua época na banda. 

O vocalista Jon Anderson mencionou isso anos depois em uma entrevista para a revista Classic Rock: "Mesmo que tentassem não demonstrar, alguns estavam um pouco incomodados, afinal, havia instrumentos em duplicidade. Eu e Chris [Squire] não tivemos problemas, estávamos soberanos em nossas áreas."

Desse material soberbo, a revista Rolling Stone americana destaca como a melhor performance a apresentação do Madison Square Garden, em Nova York, com a banda muito bem entrosada e demonstrando empolgação e muita qualidade em todo o longo show.




Uma união imperfeita

Poucos grupos de rock trocaram tanto de integrantes como o Yes. A banda inglesa de rock progressivo, famosa pelo som complexo e refinado e pelas composições quilométricas, jamais emendou quatro anos com a mesma formação em seus 53 anos de existência.

Em 1991 ressurgiu de uma forma muito inusitada, como um octeto, reunindo alguns ex-integrantes para gravar um álbum e fazer uma turnê mundial. A chamada "Yes Union Tour" começou em 1991 e terminou no início de 1992 e teve uma uma certa dose de improviso, embora os resultados tenham sido satisfatórios.

A história, entretanto, começa bem antes- dez anos antes, na verdade. Quando o Yes terminou em 1981, após o fracassado do álbum "Drama", sem Jon Anderson, e da turnê subsequente, o baixista Chris Squire e o baterista Alan White tentaram formar uma banda com Jimmy Page e Robert Plant, ambos ex-Led Zeppelin.

O XYZ, nome do projeto, começou a ensaiar no final de 1981 em Los Angeles, mas Plant logo abandonou o projeto na primeira semana. Page desistiu um mês depois. 

Sem saber o que fazer, Squire e White foram apresentados ao guitarrista sul-africano Trevor Rabin, muito elogiado por trabalhos em estúdio e que tentava emplacar uma carreira nos Estados Unidos.

Rabin não era muito chegado ao rock progressivo, mas aceitou trabalhar com os dois. O ex-Yes Tony Kaye foi recrutado para os teclados e estava formado o que deveria ser o Cinema. 

No fim de 1982, durante as gravações do primeiro álbum do Cinema, Jon Anderson visitou Squire no estúdio e adorou o que estavam fazendo. Convenceu os quatro de que seria interessante ele entrar na banda e renomeá-la como Yes. 

O álbum, "90125″, de 1983, estourou com o megahit "Owner of a Lonely Heart" e o grupo viveu seus maiores dias de glória. Nunca vende e faturou tanto como naquela fase mais acessível e pop.

Entretanto, as tensões entre os membros surgiram logo e explodiram quatro anos depois depois, na turnê do álbum "Big Generator". A orientação mais pop irritou Anderson, que saiu do grupo novamente (como fizera em 1980). O Yes seguiu em frente com Rabin como vocalista.

Um Yes paralelo

Para fazer "pirraça" para o então ex-amigo Squire, Anderson de brincadeira reuniu três outros ex-Yes em sua casa para uma jam session e espalhou que seria um novo Yes. Só que deu tão certo que ele, Rick Wakeman (teclados), Steve Howe (guitarra) e Bill Bruford (bateria) se reuniram mais de uma vez e acabaram compondo algumas músicas. 

O que era brincadeira ficou sério e empresários correram para viabilizar a gravação de um novo álbum. A ideia era que o grupo se chamasse Yes, mas Chris Squire, claro, não permitiu, primeiro porque ele detinha os direitos sobre o nome, e segundo, porque ainda existia um Yes em atividade. 

Com o nome de Anderson, Bruford, Wakeman and Howe, os quatro, mais o baixista Tony Levin (então ex-King Crimson) gravaram um CD autointitulado, e saíram em turnê mundial. Um disco interessante, mas totalmente calcado no Yes tinha feito nos anos 70. Era retrô demais, saudosista demais, sem apresentar nada de novo.

Enquanto isso, o Yes hibernava e muito lentamente começava os trabalhos para um novo álbum. A fome de bola do Yes alternativo era tanta que, ao final da turnê mundial, voltaram ao estúdio para gravar novo CD.

Anúncio da Union Tour, em 1991: da esq. para a dir., Tony Kaye (teclados), Trevor Rabin (guitarra e vocais), Rick Wakeman (teclados), Alan White (bateria, com a camisa do Flamengo), Chris Squire (baixo), Jon Anderson (vocais), Bill Bruford (bateria) e Steve Howe (guitarra) (FOTO: DIVULGAÇÃO)

 E eis então que Jon Anderson reata a amizade com Squire e Rabin em 1990, ao mesmo tempo em que a gravadora recusa algumas das ideias musicais do "Yes alternativo". 

Anderson pede a Rabin que ceda algumas músicas para reiniciar os trabalhos com o Anderson, Bruford, Wakeman and Howe. As músicas caem em cheio no gosto do "Yes alternativo" e então um empresário tem a ideia de remontar o Yes juntando os quatro músicos do Yes original e os quatro do alternativo.

Cada um dos grupos havia composto, gravado e mixado quatro músicas cada. Isso não foi impedimento, já que todas aparecem no CD "Union", lançado em 1991.

Pela primeira vez o Yes aparecia em CD como um octeto – vocal, baixo, duas guitarras, dois teclados e duas baterias. Essa formação saiu em turnê pelos Estados Unidos e Europa com resultados satisfatórios, mas não exultantes.

É claro que os egos inflados e enormes eram muito maiores do que o espaço no palco. Houve insatisfações, resmungos, mas nenhuma discussão grave. 

A turnê foi bem-sucedida, mas ao final cada músico seguiu seu caminho. O Yes só retornaria em 1994 com o CD "Talk", com a formação que gravou "90125″ – Jon Anderson, Chris Squire, Tony Kaye, Trevor Rabin e Alan White. A turnê deste álbum passou pelo Brasil em 1995.

Na época, achei bem interessante o projeto, ainda que o álbum "Union" seja desigual e irregular - e esquecível dentro da imensa discografia do grupo. Quando vi os primeiros vídeos de shows como octeto, gostei ainda mais do projeto.


 




 

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