terça-feira, 2 de março de 2021

Tim Maia da Paulista é o símbolo da tragédia da pandemia entre os artistas

 Marcelo Moreira

Para quem anda sem máscara na avenida Paulista, é só m,ais um número. Para os dejetos humanos que infestam festas e praias lotadas, entre outros estabelecimentos, nem isso. A roleta russa da covid-19 parece não incomodar a maioria, que despreza a vida e aplaude a excrescência nojenta que está na Presidência da República.

Não era o caso do imenso Jonathan, um boa praça festeiro e que se realizava aos domingos na avenida Paulista fechada para os carros e aberta à população como um parque de asfalto, mas prazeroso.

Tomada em cada centímetro por artistas de rua aos domingos, era o paraíso para quem se sentia um artista ao menos nos fins de semana. Tem gente profissional que aproveita o espaço para mostrar trabalho novo, como o Filippe Dias Trio, com blues de primeira qualidade. E tem os semiprofissionais, como Jonathan Neves.

Eram raros os que o conheciam pelo nome verdadeiro. Ele adorava ser reconhecido como o Tim Maia da Paulista, nome artístico que adotou e que chamava a atenção em frente ao Conjunto Nacional.

Com voz poderosa e humor sempre em alta, era considerado um ótimo intérprete do grande cantor morto em 1997. Imitador ou prestador de tributo? Tanto faz. Cantava muito bem e era admirado por todos que o viam aos domingos, com chuva ou sol, na avenida Paulista.

Nosso Tim do asfalto foi mais uma vítima da pandemia de covid-19. Na verdade, duas vezes vítima. Primeiro, pelas necessidades financeiras impostas pela quarentena. Segundo, porque essas mesmas necessidades o obrigaram a voltar cedo demais pra as ruas. 

Tim Maia da Paulista em atuação recente (FOTO: REPRODUÇÃO/FACEBOOK)

Foi um dos poucos que voltaram a cantar na avenida em novembro passado, quando o parco dinheiro das doações dominicais passou a ser vital para se manter. Obeso e com problemas de saúde, saboia dos riscos, mas o que fazer diante da crise monstruosa e avassaladora?

A morte do Tim Maia da Paulista por covid é o retrato mais bem acabado da tragédia da pandemia entre os músicos e artistas semiprofissionais: total desamparo, abandono até, e sem a menor perspetiva de algum alento no médio prazo. 

Jonathan Tim Maia teve de sair de casa, por necessidade, para tentar fazer algum dinheiro e pagou caro com a vida. O Tim Maia do asfalto será apenas mais um número na estatística diária divulgada pelos meios de comunicação e para os vagabundos que frequentam bares, festas e e praias com  aglomeração.

Assim que houver a liberação, seu lugar aos domingos, em frente ao número 2.073, estará ocupado por outro quase anônimo e, de vez em quando, alguém vai lembrar do gordão que cantava Tim Maia muito bem. Enquanto isso, o placar sobe em direção a 260 mil mortos.

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