Da equipe Combate Rock
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Mao (dir.), dos Garotos Podres, durante a gravação (FOTO: NANA LEME/DIVULGAÇÃO) |
Tempos atrás houve uma espécie de “disputa” entre artistas brasileiros para saber qual foi o segmento mais perseguido pela nefasta ditadura militar. Que durou de 1964 a 1985. Discussão inútil, já que todo mundo sofreu alguma violência ou censura.
É o caso do movimento punk, principalmente o paulista, alvo preferencial da polícia, dos órgãos de segurança em obviamente, da censura, Shows, letras, gravações, LPs, tudo estava na mira da repressão, ao ponto de os garotos enfezados e mal-encarados serem considerados os principais inimigos do regime entre os jovens do fim dos anos 70 e começo dos 80,
E esse tema, a censura em cima do movimento punk, é o tema de um interessante documentário recém-lançado nas plataformas digitais. Em pouco menos de 35 minutos, “Não é Permitido: um recorte da censura ao Punk Rock no Brasil”, o filme dirigido por Fernando Luiz Bovo, Matheus de Moraes e Renan Negri tra z as reflexões de integrantes das bandas Cólera, Inocentes, Garotos Podres, Ratos de Porão, Olho Seco e Ulster sobre o universo rebelde e contestador do punk rock.
O documentário revela os impactos da repressão na cena punk ao abordar parte dos vetos da censura federal às músicas do estilo, numa tentativa de calar as vozes que desafiavam o sistema.
“Não é Permitido” surgiu de uma pesquisa, realizada desde 2021 por Fernando Calderan e Renan Negri, sobre a censura ao punk que em breve será transformada em livro.
O trabalho identificou mais de 80 músicas encontradas com o carimbo da censura, e documentos que demonstram a perseguição ao movimento, observado de perto pela polícia.
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Clemente (esq.) e Ariel (FOTO: NANA LEME/DIVULGAÇÃO) |
“Os documentos foram resgatados da antiga Divisão de Censura de Diversões Públicas (DCDP) e trazem à tona estratégias usadas para sufocar o movimento. No registro em audiovisual fizemos um recorte dos casos de censura ao punk, não contemplando bandas como Os Replicantes, Camisa de Vênus e Atack Epiléptico”, revela Negri.
Matheus de Moraes lembra que a ausência de algumas bandas indica o desejo de continua. “Este trabalho é uma oportunidade de valorizar toda uma história de resistência e arte." Já para Fernando Bovo, este trabalho é muito importante por trabalhar memória, oralidade e documentos históricos. _“Temos aqui uma obra que resgata e ao mesmo tempo constrói”_, afirma.
Clemente Nascimento (Inocentes), Jão (Ratos de Porão), Mao (Garotos Podres), Val (Cólera / Olho Seco), Ariel Invasor (Inocentes - à época), Pierre (Cólera) e Vlad (Ulster) são os personagens que contam suas histórias durante aquele período sombrio, e a forma que encontraram de não permitir que a censura apagasse a arte de cada uma das bandas, reafirmando o poder da música como ferramenta de resistência e expressão cultural.
De acordo com Calderan, a proibição às ideias divergentes sempre esteve presente na rotina nacional, e nos últimos anos cresceram as denúncias e casos explícitos de censura. “Os europeus trouxeram a censura na bagagem. Mesmo em tempos ditos democráticos, o veto foi usado como órgão repressor. O Brasil não se desvencilhou da censura como forma de calar o pensamento divergente. Mesmo com o fim da seção como órgão de Estado há mais de trinta anos, a postura do corte continua presente.”.
Assista ao documentário abaixo:
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