segunda-feira, 1 de março de 2021

'The Who Sell Out', clássico do rock, ganha megaedição de luxo

 Marcelo Moreira

 



Pete Townshend afirmou há pouco tempo que o baú de relíquias do Who estava esgotado quando perguntado sobre edições comemorativas. 

Ele se referia a músicas inéditas nunca publicadas e também à contrariedade do companheiro de banda, Roger Daltrey, com a inclusão de uma demo bem esquisita de Townshend, dos anos 60, como bônus do último álbum, "WHO", de 2019.

Ou ele não sabia, ou escondeu o jogo sobre o anúncio do lançamento de uma edição "super deluxe" de "The Who Sell Out", o terceiro álbum da banda, de 1967 (sempre levando em conta a discografia inglesa).

É o tipo daqueles projetos que remixam e remasterizam a versão original e incluem badulaques e versões mono, stereo e marcianas, a preços estratosféricos apenas para saciar a ansiedade dos fanáticos.

Prevista para 23 de abril, a caixa terá 112 canções, sendo que "46 inéditas nunca lançadas antes", o que é uma mentira grotesca, já que se tratam, em sua grande maioria, de versões de clássicos e de músicas já editadas.

Na realidade, são apenas cinco - só cinco! - músicas consideradas inéditas, digamos assim. Não passam de ensaios de trechos descartados ou vinhetas que pouco acrescentariam ao álbum original.

Além dos livretos e material promocional da época com suvenirs, a caixa apresentará quatro CDs, sendo que os dois primeiros trarão o álbum nas versões mono e stereo com várias faixas extras, em versões demo ou com mixagens diferentes.

O terceiro disco está recheado com mais versões diferentes de músicas lançadas como lados B de compactos e o quatro, chamado "The Road to Tommy", traz todas as gravações lançadas em 1968 - a maioria contida no disco "Magic Bus", daquele ano - e mais e mais versões demo e takes alternativos dessas músicas pouco conhecidas.

Claro que é um lançamento portentoso, mas fica um gosto de decepção por conta do quase inexistente material inédito - bem que Townshend falou que não tinha mais nada...

As canções consideradas inéditas são "Rael Näive", uma versão muito diferente de "Early Morning Cold Taxi", o mesmo com a música "Rael", que tem mixagem bem alterada em um estúdio de Nova York, "Sunn Amp Promo Spots", que não passa de uma vinheta, e "Facts of Life" (também conhecida como "Birds and Bees") que realmente é um esboço de canção que pode ser considerado inédito.

Ofuscado por "Tommy", de 1969, e por outros álbuns dos anos 70, "The Who Sell Out" é um marco na história do rock sessentista e esteve bem de acordo com a alta produtividade de grandes discos daquele ano - discos bons de Beatles, Pink Floyd, Moody Blues, Rolling Stones, Kinks e mais um monte de gente.

A grande sacada, que hoje podemos dizer que é um conceito, foi transformar a banda em um "produto" de forma explícita para criticar a sociedade de consumo e a transformação da arte em mercadoria. 

Como se fosse uma rádio pirata - das muitas que existiram na Inglaterra entre 1964 e 1967 instaladas em barcos fundeados fora das águas territoriais britânicas -, as músicas eram interligadas por vinhetas de rádio, enquanto algumas canções demonstravam a intenção de ressaltar o comercialismo ao qual criticavam, como "Odorono" e até mesmo a bucólica "Tattoo".

Seria a penúltima vez na primeira fase da carreira que gravariam uma canção de alguém que não era da banda - "Armenia City in the Sky", de Speedy Keene. Incluiriam "Eyesight to the Blind" em Tommy, um clássico do blues de Sonny Boy Williamson, e "Fire", de Arthur Bown, no disco solo de Townshend "Iron Man", de 1988. "Saturday Night Alright (For Fighting) saiu nos anos 90 em um tributo a Elton John, um dos autores da canção.

A capa original

A capa do álbum também foi histórica, com os quatro representando modelos fotográficos de publicidade "vendendo" alguns produtos, como feijão em conservas e pomada para acne.

"The Who Sell Out", com seu conceito, foi um sucesso além do esperado, já que todos sabiam que não decolaria por não ter um grande "hit". "Mary Ann With Shaky Hand" e "Sunrise" eram inventivas e mantinham oi pique sessentista de compactos, mas não tinham pegada. 

"Armenia City in the Sky" era pesada e psicodélica demais; "Tattoo" e "Our Love Was", meio baladas e meio "artísticas", eram cerebrais demais para explodir nas rádios. 

Potencialmente, sobrou "I Can See For Miles", um marco da psicodelia britânica, pesadona e densa, que acabou se tornando um clássico da banda e do rock inglês da época.

Faz parte de uma série de obras-primas incompreendidas daquele ano, assim como "The Piper at the Gates of Dawn", a estreia do Pink Floyd, ainda com Syd Barrett na guitarra e vocais, e "The Day of Future Passed", dos Moody Blues, considerado por muitos o primeiro disco de rock progressivo por conta de seus arranjos orquestrais majestosos.

Os mais atentos perceberam que alguma coisa estava mudando ao ouvir o encerramento de "Sell Out". Se "A Quick One, While He's Away", do álbum anterior, já trazia inovações sonoras no rock, com a junção de trechos de músicas diferentes em uma "suíte", "Rael" apontava para o que viria ser a roteirização da música, ou seja, a ópera-rock, que tomaria forma dois anos depois com "Tommy". É um trecho de uma então música teatral que tentaria narrar a vida de um garoto pobre que tenta subir na vida.

Apenas um rito de passagem necessário até a obra-prima "Tommy" ou um disco injustiçado? Um pouco dos dois. The Who se preparava para abandonar definitivamente a psicodelia inglesa e cair de cabeça no rock pesado e nas obras mais sofisticadas, como "Tommy", "Lifehouse/Who's Next" e "Quadrophenia" e as canções "I Can See For Miles" e "Rael" era os indicativos disso.

Por outro lado, "The Who Sell Out" sofreu uma concorrência fortíssima dos dois lados do oceano Atlântico. Todos os artistas tiveram de correr atrás do estrondoso "Sgt. Pepper'sLoney Hearts Club Band", dos Beatles, o maior disco de todos os tempos no rock. Era como se tivessem que superar Pelé em campo...

Injustiçado ou não, o disco é uma das maiores pérolas do rock dos anos 60 é frequentemente apontado como um exemplo de inovação e criatividade dentro do gênero musical.

The Who Sell Out Super Deluxe Edition


CD 1: The Who Sell Out – gravação em mono


1. Armenia City in the Sky
2. Heinz Baked Beans
3. Mary Anne With the Shaky Hand
4. Odorono
5. Tattoo
6. Our Love Was
7. I Can See for Miles
8. I Can’t Reach You
9. Medac
10. Relax
11. Silas Stingy
12. Sunrise
13. Rael / Track Records run-off groove
Bonus Tracks – Mono
14. Pictures of Lily (original UK Track single mix)
15. Doctor, Doctor (original UK Track single mix)
16. The Last Time (original UK Track single mix)
17. Under My Thumb (original UK Track single mix)
18. I Can See for Miles (original UK Track single mix)
19. Mary Anne With the Shaky Hand (original US Decca single mix)
20. Someone’s Coming (original US Decca single mix)
21. Unused Radio London ad / Early Morning… (original 1967 mono mix)
22. Unused Radio London bulletin link /Jaguar (original 1967 mono mix)
23. Unused Radio London ad /Tattoo (early alternate mono mix)
24. Rael (Talentmasters Studio, New York early rough mix)
25. Sunn Amps promo spots
26. Great Shakes ad

CD 2: The Who Sell Out – gravação em estéreo

1. Armenia City in The Sky
2. Heinz Baked Beans
3. Mary Anne With the Shaky Hand
4. Odorono
5. Tattoo
6. Our Love Was
7. I Can See for Miles
8. I Can’t Reach You
9. Medac
10. Relax
11. Silas Stingy
12. Sunrise
13. Rael
Bonus Tracks – Stereo
14. Rael Naïve (complete with organ coda ending)
15. Mary Anne With the Shaky Hand (US single version)
16. Someone’s Coming
17. Summertime Blues
18. Glittering Girl
19. Early Morning Cold Taxi
20. Girl’s Eyes
21. Coke After Coke
22. Sodding About 2:51
23. Things Go Better With Coke
24. Hall of The Mountain King
25. Jaguar
26. Rael (remake; IBC version) / Track Records outro

CD 3: sessões de estúdio entre 1967 e 1968

1. Glittering Girl (Take 4) (2018 remix)
2. Girl’s Eyes (Take 2) (2018 remix)
3. The Last Time (Take 8)
4. Under My Thumb (Take 3) (2018 remix with full ending)
5. Our Love Was (Take 2)6. Relax (4-track to 4-track mix with Pete vocal)
7. Relax (Takes 1 and 2)
8. Mary Anne With the Shaky Hand (Takes 1 & 9)
9. Relax (Remake Take 4)
10. I Can See for Miles (full version)
11. Medac (Take 11)
12. Odorono (Take 3) (2018 remix)
13. Heinz Baked Beans (Takes 1 & 3) (2018 remix)
14. Top Gear (Takes 1 & 2) (2018 remix)
15. Premier Drums (Takes 1 & 3) (2018 remix)
16. Charles Atlas (Take 1)
17. Rotosound Strings (Take 1) (2018 remix)
18. Track Records (2018 remix)
19. John Mason Cars (Takes 1 – 3) / Speakeasy / Rotosound Strings / Bag O’ Nails (2018 remixes)
20. It’s a Girl (aka ‘Glow Girl’) (Takes 1 & 3)
21. Mr Hyde (1st stage mix Take 1)
22. Little Billy (Takes 1 & 3)
23. Mrs Walker (aka ‘Glow Girl’) (4-track to 4-track mix, take 7)
24. Call Me Lightning (Take 1 backing track, stereo mix & jam)
25. Dogs (Take 3)
26. Melancholia (Take 1)
27. Shakin’ All Over (Take 3)
28. Magic Bus (Take 6)

CD 4: "The Road to Tommy" - gravações do ano de 1968

1. Glow Girl
2. Faith in Something Bigger
3. Dr Jekyll And Mr Hyde
4. Call Me Lightning
5. Little Billy’s Doing Fine
6. Dogs
7. Melancholia
8. Fortune Teller
9. Facts of Life (aka ‘Birds And Bees’, backing track)
10. Magic Bus (single version)
11. Call Me Lightning (US/UK mono single mix)
12. Dr Jekyll And Mr Hyde (UK mono single mix)
13. Dogs (UK mono single mix)
14. Magic Bus (mono, longer version)

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