Uma das passagens memoráveis do livro "Os Sete Pilares da Sabedoria", de Thomas Edward Lawrence,, versa sobre o valor tático e estratégico do terrorismo.
Perspicaz e extremamente observador, além de inteligente, Lawrence construiu sua fama ao fustigar de forma tão eficiente o Império Otomano, na I Guerra Mundial, que foi fundamental para a que este desmoronasse por dentro.
Liderando os árabes insurretos, o inglês excêntrico liderou a guerrilha contra os turcos e estabeleceu as bases dos procedimentos político-guerrilheiros mais tarde adotados por judeus israelenses, palestinos, irlandeses, chechenos adeptos da Al-Queda e Exército Islâmico.
"O Mal nunca vence, mas também nunca é derrotado. Está sempre fustigando, exigindo atenção redobrada, monitoramento constante e uma boa dose de sorte e coincidências, É solitário, maldoso, cruel e está sempre um passo à frente. Tem a maior das vantagens numa guerra, que é a surpresa", pregava Lawrence da Arábia, vivido no cinema pelo notável irlandês Peter O'Tolle.
O Mal está à espreita o tempo todo nas sociedades modernas. Sempre esteve, e atende por vários nomes. Alimenta-se do ódio à civilização, à sociedade, à humanidade, ao conhecimento e à inteligente. Onde a inteligência predomina o ódio não encontra espaço; onde a o respeito e a civilização predominam a violência tende a ser reduzida.
Em uma sociedade notoriamente violenta, como a brasileira - e quase todas as latino-americanas -, o ódio é maior contra os pobres, os diferentes, os nativos empobrecidos e subjugados, sempre de pele mais escura. Mas também é contra a própria sociedade que o fomentou.
Nos constantes ataques a escolas de todos os tipos nos Estados Unidos, e que começaram a ser frequentes em países como Brasil e Rússia, o ódio por conta de inadequação social ou simplesmente dificuldade de pertencimento gera mais violência e incita a sua propagação de várias maneiras - bem de acordo com as cartilhas fascistas de sempre.
O recente ataque a uma creche por um ser execrável em Blumenau (SC) e o desbaratamento de uma célula neonazista no mesmo Estado - com direito à prisão de um dejeto humano que se diz músico de bandas de death metal - explicitam o ódio que explodem de várias maneiras e em diversos níveis de nossa sociedade.
O lamentável inconformismo de uma casta abastada insatisfeita com a perda de privilégios - ou com a transferência de parte deles para outros grupos sociais - foi a gênese de um processo que abriu os diques da violência e do esgarçamento da frágil construção social brasileira. Foi em 2013, com as inconsequentes manifestações contra qualquer coisa embasadas em nada.
E então as forças políticas obscuras e fascistas, de forma oportunista, entraram em ação para derrubar um governo legítimo, como era o Dilma Rousseff (PT). Incompetente, mas legítimo.
Abertos os bueiros de todos os esgotos da política conservadora e direitista, o golpe foi consumado com o apoio manipulado de parte expressiva da população brasileira - pobre, ignorante e ressentida.
O bolsonarismo nojento é consequência direta da abertura dos portões do inferno, com uma política baseada no ódio fascista e na violência verbal e física. Com sua retórica perigosa e insana, estimulou uma horda de criminosos, fracassados e ignorantes a buscar um lugar na sociedade - de preferência à base de balas e agressões de todos os tipos - preconceitos, ódios, misoginia, feminicídios, racismo...
O jornalista Otávio Guedes, da GloboNews, resumiu bem a tragédia que nos afeta em 2023: "Esse é um problema de uma sociedade adoecida por anos de discurso de ódio, discurso contra a escolas, universidades e professores; a extrema direita que levou bolsonaro ao poder é a grande propagadora desse discurso".
As falsas equivalências entre o fascismo e progressismo de esquerda não resistem a 30 segundos e argumentação. O discurso de de eliminação de adversários e opositores, bem como o de minorias, impregnado em nosso DNA social, mas adormecido por três décadas, foi resgatado e disseminado por lixos humanos que sempre apostaram no caos para manter poder e privilégios.
Não é coincidência que aparecem quase que diariamente casos de resgate de trabalhadores escravizados no Brasil, algo amplamente contestado pelo mundo bolsonarista asqueroso e que foi notoriamente estimulado pelo governo anterior com a depredação de políticas de fiscalização do trabalho, do meio ambiente e de proteção aos índios. Um governo que trabalhava em prol de garimpeiros, mineradores, madeireiros e de tudo o que era atividade depredatória.
Não conseguiremos vencer Mal, embora ele não conseguirá vencer no Brasil, mesmo entranhado em nossas vísceras e em nossas veias. Ele continuará a nos fustigar, insidioso, cruel e sorrateiro, traiçoeiro e muitas vezes mortal. Foi assim na escola do Realengo, na de Suzano, nada Vila Sônia, em São Paulo, e na creche catarinense.
Teremos de conviver com essa raça podre bolsonarista que estimula ataques desse tipo e de golpes contra a democracia, como a tentativa terrorista de 8 de janeiro, em Brasilia.
Vai acontecer de novo porque é quase impossível deter e prever quanal epesteadodo um lunático covarde e vagabundo decide assassinar crianças de quatro anos, o que nos obriga a reforçar o cerco contra o Mal.
São salutares as medidas contra bullying e ressocialização, assim como de inclusão, mas são suficientes para conter as forças das trevas. Como criminalizar e neutralizar as ameaças que estão nas sombras.
O terrorismo, em todas as suas formas, atua nas beiradas e não distingue vítimas e alvos, mas uma coisa é certa: nutre-se de obscurantismo, retrocesso, ideologias discriminatórias, fascismo e ódio, com a meta principal corroer a democracia, a inteligência e o conhecimento.
Que tenhamos a sabedoria para tentar identificar os lobos solitários antes dos ataques e que consigamos oferecer um pouco mais de paz ao nosso conturbado ambiente social empesteado pelo ódio e pelo preconceito - exacerbados e potencializados pelo mundo podre bolsonarista.
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