segunda-feira, 10 de abril de 2023

As mil faces de Mike Portnoy no espectro roqueiro

 A piada corria entre a equipe que assessorava o Dream Theater nos shows, mas logo se disseminou pelo mundo musical assim que o baterista Mike Portnoy deixou a banda, em 2010: "Quando for conversar com ele, não diga que é músico. Caso contrário, ele vai te obrigar a formar uma nova banda".

O baterista norte-americano é conhecido como um dos maiores empreendedores do rock - ou um dos maiores arroz-de-festa da praça, do mesmo naipe de Dave Grhol, do Foo Fighters. Sele não te chamar para um projeto qualquer, vai se convidar para tocar no disco ou no show de alguém.

"Estar no palco é excitante e fazer música com quem toca bem e tem ideias fascinantes é muito excitante. Sempre arrumo tempo para fazer coisas legais", disse Portnoy ao Combate Rock em 2014, quando esteve em São Paulo com o seu grupo Transatlantic.

Além desses projetos, Mike Portnoy ainda trabalha com outras três bandas: The Winery Dogs (com Richie Kotzen na guitarra e vocais e Billy Sheehan no baixo), Flying Colors e Sons of Apollo, que aparentemente é a sua prioridade. Até recentemente era o bateria do Adrenaline Mob e da banda solo do cantor e tecladista Neal Morse, seu companheiro de Transatlantic e Flying Colors.

Para quem quer desfrutar de sons diferentes e instigantes dentro do rock pesado, a trajetória do norte-americano Portnoy oferece vários panoramas principalmente depois qu saiu do Dream Theater. Vamos a um rápido passeio pelas "mil faces de Mike Portnoy".

- Dream Theater - menino prodígio da bateria na escola de música Berklee, de Boston, chamou a atenção pela criatividade na performance de todo o tipo de rock e na elaboração de linhas de bateria que fugiam do senso comum, misturando jazz e rock com muita pegada aos 18 anos. Com dois amigos da escola, criou o Majesty, que se tornaria o Dream Theater anos depois. Os amigos eram o guitarrista john Petrucci e o baixista John Myung. O primeiro disco da banda, "When Dream and Day Unite", de 1989, trazia as bases do som que mudaria a história do metal progressivo e colocaria o Dream Theater como principal expoente do subestilo que começou com Queensryche e Fates Warning quase dez anos antes. Talentoso como compositor e empreendedor competente, ajudou o Dream Theater a se tornar uma banda autossustentável e reconhecida mundialmente. Era o principal compositor ao lado de Petrucci e, a partir de 2000, ao lado do tecladista Jordan Rudess. Depois de 25 anos liderando o Dream Theater, acabou  fora por graves divergências administrativas em 2010 - queria que o grupo parasse por 18 meses para que pudesse partir de seus inúmeros projetos paralelos.

- Liquid Tension Experiment - Portnoy queria dar um jeito de trabalhar com o baixista d King Crimson Tony Levin, um ídolo de infância. O baixista se entusiasmou quando conheceu o então jovem baterista cheio de energia e topou a brincadeira. O amigo John Petrucci também se entusiasmou e embarcou na aventura trazendo um amigo, o tecladista Jordan Rudess, que passou pelo Dixir Dregs. os quatro se entrosaram bem no estúdio e lançaram rapidamente dois discos entre 1997 e 2000 com um metal instrumental temperado por jazz, ganhando vários prêmios. Como Levin também integrava a banda de Peter Gabriel, o projeto adormeceu até 2008, quando fizeram uma turnê americana concorrida. Ao mesmo tempo, Portnoy aproveitou para entrar com o projeto o estúdio em uma rápida folga do Dream Theater, mas John Petrucci não quis participar, meio que antecipando as divergências com o amigo. Era o Liquid Experience Trio baseado nos teclados de Rudess. O resultado não foi tão bom. Depois de sua saída o Dream Theater, Portnoy só se reconciliaria com o pessoal de Dream Theater dez anos depois. Não perdeu tempo e sugeriu a volta do Liquid Tension Experiment, que lançou o ótimo "LTE 3" em 2021.

Transatlantic - Projeto de rock progressivo surgido da amizade improvável do baterista com o vocalista, tecladista e guitarrista Neal Morse, ex-líder da banda Spock's Beard. Talentoso compositor e músico, Morse abraçou a religião católica de viés carismático, saiu de sua banda e criou um projeto dedicado ao mundo gospel, que virou a Neal Morse Band. Conheceu Portnoy quando os dois passavam por períodos de reabilitação no abuso do álcool e o entrosamento foi imediato. Como o Liquid Tension Experiment tinha problemas de agenda, o baterista chamou outros amigos para se divertir e ressuscitar o rock progressivo. Morse e Portnoy se juntaram ao escocês Pete Trewavas (baixista do Marillion) e o sueco Roine Stolt (guitarrista do Flower Kings). Reunindo-se a cada cinco anos, o supergrupo conseguiu resgatar o rock progressivo do limbo e rendeu cinco ótimos álbuns de estúdio e cinco ao vivo, com concorridos shows que duravam mais de três horas. Entre 2021 e 2022, o grupo decidiu encerrar as atividades com um excelente disco triplo, com uma gigantesca turnê e um álbum ao vivo triplo.

Adrenaline Mob - Banda de hard rock novaiorquina que tinha a pretensão de ser o principal trabalho de Portnoy depois da saída do Dream Theater. Depois do ótimo primeiro álbum, o baterista se desencantou e preferiu dar prioridade ao Transatlantic a partir de 2012, mas garante que saiu na boa, mantendo a amizade com o vocalista Russell Allen (Symphony X).

- Flying Colors - Desdobramento quase lógico do Transatlantic e da Neal Morse Band. Portnoy e Neal Morse vislumbraram uma brecha na agenda e quiseram criar um projeto que reunisse outros amigos e flertasse com o soft rock com viés progressivo. Deu muito certo, reunindo os dois com Steve Morse (guitarrista, ex-Dixie Dregs e Deep Purple) e Casey McPherson (vocalista do Alpha Rev). Até agora são três álbuns de estúdio e três ao vivo de ótima qualidade. Em recente passagem pelo Brasil, Portnoy não garantiu que haverá nova reunião. 

- Neal Morse Band - Nome gigante da cena gospel norte-americana, agregou Portnoy quase que desde o momento em que o baterista saiu do Dream Theater, em princípio como convidado especial e, depois, de 2014, como baterista efetivo e fixo. Apenas como músico, não mete a mão nos temas inspirados por Morse, que vão desde as letras interessantes cheias de metáforas até a mais pura pregação religiosa, colocando à prova a intensa e forte amizade entre os dois. O baterista se sente à vontade tocando o mais puro rock progressivo, com canções que normalmente superam os 20 minutos de duração. Já são quase 15 anos na banda.

- Morse, Portnoy, George - Desdobramento natural da Neal Morse Band, já que Randy George é o baixista da banda. Nos intervalos entre os trabalhos do combo, os três se reuniram no estúdio para gravar uma série de versões para músicas clássicas do rock. Já são três CDs lançados entre 2012 e 2016, meio na brincadeira, meio na seriedade. Para variar, o resultado é excelente. Não há indícios de que haverá um quarto CD.

- Hammer of the Gods, Amazing Journey, Yellow Matter Custard e Cygnus and Sea Monsters - É insano o modo como Portnoy gerencia a sua carreira. Se não bastassem todos os projetos, ele juntava amigos para rápidas turnês como uma "banda cover", principalmente na Costa Leste americana e em Chicago entre 2013 e 2015. Além de Neal Morse, apareceram nessas bandas gente como Paul Gilbert (Mr. Big), Gary Cherone (Extree, ex-Van Halen) e Billy Sheehan. Era uma grande diversão, que rendeu CDs ao vivo para cada projeto, além de dois DVDs. Hammer of the Gods er dedicado ao Led Zeppelin; Amazing Journey, ao The Who; Yellow Matter Custard, aos Beatles; Cygnus and Sea Monsters, ao Rush.

- The Winery Gods - Aqui Portnoy quis criar um power trio de hard rock puro. O amigo da vez que embarcou foi o baixista Billy Sheehan (Mr. Big). Quase que de imediato convidaram o guitarrista e vocalista Richie Kotzen (ex-Mr. Big) quando Paul Gilbert estava indisponível. É repetitivo: deu muito certo, tanto que foi o projeto além-Dream Theater de Portnoy que teve maior sucesso comercial. São três CDs e um DVD. Kotzen arrumou tempo para fazer o terceiro álbum neste ano, já que retomou a carreira solo e engatou a parceria com Adrian Smith, do Iron Maiden, em um hard rock mis vigoroso. O trio tocará no Brasil em abril.

- Sons of Apollo - Demorou, mas Portnoy voltou ao metal progressivo de inspiração no Dream Theater. Aparentemente, é o principal projeto a que se dedica. Chamou Billy Sheehan e um antigo amigo, o tecladista Derek Sherinian (ex-Dream Theater; os dois tiveram rugas na banda, que culminaram na saída do tecladista em 1999). Com ares de supergrupo, agregou o vocalista Jeff Scott Soto (ex-Yngwie Malmsteen e muito outras bandas) e o guitarrista Ron "Bumblefoot" Thal (ex-Guns N' Roses). é meal de ótima qualidade, que já rendeu dois álbuns de estúdio e um ao vivo. A banda planeja retomar as atividades em 2024.

John Petrucci - A reaproximação com o amigo de adolescência Petrucci foi lenta, envolveu vários amigos e familiares até que se entenderam de novo pouco antes da pandemia de covid-19. Muita gente se apressou a apostar em uma volta de Portnoy ao Dream Theater or causa da rapidez com que a amizade foi resgatada assim que intermediários entraram em ação. Logo o baterista arrumou tempo para gravar o terceiro álbuns solo do guitarrista, além de tocar em rápida turnê dele. Petrucci logo se antecipou e garantiu que Mike Mangini fica no Dream Theater. No entanto, o guitarrista não hesitou em apoiar a volta do Liquid Tension Experiment. Recentemente, Portnoy aventou a possibilidade de participar de algumas músicas em um show qualquer do Dream Theater. Apesar da reconciliação com os ex-companheiros, estes ficaram em silêncio.

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