Para muitos seres iluminados e bem aventurados, a música cura. Para muitos outros, apenas revigora e estimula, o que já é muita coisa. Quando há a fusão de todas essas coisas, a música se torna mais do que uma necessidade - torna-se indissociável do corpo e da mente.
A com a suavidade e a delicadeza, a nova música do guitarrista paulistano Edu Gomes é capaz de despertar muito mais do que um novo vigor: dá forma a uma serenidade quase celestial.
"Suavidade", creditado como Edu Gomes & A Pirâmide, é uma coleção de nove temas que fogem totalmente do rock e do blues, mas que não mergulham na new age, como é capaz de supormos ao ouvirmos os primeiros acordes e relacioná-los com o passado não muito recente do músico - a série "Concertos da Cura", ao lado do tecladista Adriano Grineberg.
A lista de referências é variada; Jeff Beck, Steve Hackett (ex-Genesis), John McLaughlin e Wes Montgomery, passando por Joe Pass. O toque sutil, com notas limpas e intensas, mas belas e também suaves, dão o tom da música instrumental composta sobre uma base etérea e igualmente suave.
O conceito segue o dos "Concertos da Cura", mas aqui a guitarra e os violões são o centro da obra, e não o ambiente em si. O feeling fala mais alto, mas os fraseados e os solos resgatam momentos de reflexão e de puro sentimento de tranquilidade e paz.
Não é por acaso que o centro do novo álbum é "Reflexões", a canção mais próxima da new age. Cadenciada, suave e, d certa forma, melancólica", é a trilha sonora perfeita para uma tarde de outono regada a um bom vinho.
"Brandura" é a própria delicadeza em forma de notas musicais, fazendo bela companhia para "Paciência" e "Pensamentos", calcadas em um cenário folk de inspiração celta.
"Saudações" e "Prece" se aproximam mais do que podemos chamar de tradicional música instrumental brasileira, incorporando elementos mais próximos do dia a dia, enquanto que "Tocante" reaproxima-se de uma sonoridade mais folk, junto com "Oriente-se".
Edu Gomes, um inspirado guitarrista de blues rock que fez fama com a Irmandade do Blues, passeou pelo jazz e pelo blues em discos ótimos como "Metamorfose" e "Ventura" e saboreava os bons resultados dos ao vivo "Vivo", de 2022.
Usando apenas guitarras e violões sobre uma base de teclados bem discretos, transformou o que seria apenas uma música incidental em belos temas suaves de cunho quase espiritual.
É impossível não lembrar do saudoso Jeff Beck, morto em janeiro passado, em sua magistral interpretação de "Where Were You", clássico instrumental de 1989 contido no álbum "Guitar Shop". Ou, quem sabe, "Declan", uma ode à música gaélica.
Gomes dá um banho de sabedoria e de eficiência, emocionando e encantando, lembrando também outro mestre da guitarra, o irlandês Gary Moore, que traduziu muitos sentimentos nas brilhantes "Dunluce I and II", do álbum "After the War", do mesmo ano de 1989.
"Suavidade " é revigorante, reconfortante e apaziguador. Talvez seja o mais próximo da paz que uma guitarra conseguirá chegar.
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