quarta-feira, 26 de abril de 2023

Blackmore's Night: 25 aos unindo o rock e a música erudita de sabor medieval

 A fase não era das melhores, embora nos palcos as coisas estivessem funcionando a contento. Depois de mais uma briga com os companheiros do Deep Purple, o guitarrista inglês Ritchie Blackmore, genial e genioso, ressuscitou a sua banda setentista Rainbow para mostrar quem ainda dava as cartas.

Com músicos jovens, a banda lançou um bom disco em 1995, "Stranger in Us All", e engatou uma turnê mundial que vendeu bem, mas não tanto quanto se esperava. E então o mestre da guitarra se desencantou e decidiu se enfurnar em sua propriedade rural nos Estados Unidos com a então nova esposa, a jovem cantora Candice Night, filha de sua empresária.

Foi no misto de sítio e fazenda que Blackmore resolveu virar um bardo e mergulhar em suas influências de música erudita de cunho renascentista. Comprou vários instrumentos como alaúdes, rabecas e craviolas e não parou de ouvir concertos de Bach, Haydn e Vivaldi.

Com o apoio de Candice, conseguiu marcar diversas concertos em castelos na Europa Ocidental para um novo projeto voltado para a música da Renascença, com sonoridade baseada no alaúde, na flauta e na voz angelical da esposa. e assim nascia, em 1997, o Blackmore's Night. 

O sucesso dos primeiros shows foi tão grande e surpreendente que o motivou a gravar um álbum de música medieval tradicional e folk-rock. "Shadow of the Moon" está fazendo 25 anos de lançamento e uma versão remasterizada e remixada foi lançada para comemorar a data - com edição brasileira a cargo a Shinigami Records em parceria com earMUSIC e Sound City Records.

Em uma das raras entrevistas concedidas pelo guitarrista na época do lançamento, ele afirmou que aquele projeto, ao lado da mulher, representava os seus "verdadeiros ideais artísticos: música instrumental principalmente acústica, influenciada pelas canções da Idade Média e do Renascimento, mas na sua atemporalidade que se enquadra perfeitamente nos tempos modernos".

Candice, por sua vez, acredita que as canções do projeto conectam as pessoas a um mundo de sonhos, idílico, de certa forma, com temas para dançar e festejar, mas também para desfrutar silenciosamente e sonhar com tempos de harmonia. "As letras conseguem ao mesmo tempo acalmar e energizar, contando pequenas histórias com grandes sentimentos", disse a cantora certa vez.

A edição comemorativa do 25º aniversário do lançamento de "Shadow Of The Moon" apresenta uma versão totalmente remixada do álbum original com uma arte completamente atualizada. 

Também estão incluídas as inéditas versões acústicas de duas músicas: "Spirit Of The Sea" e "Shadow Of The Moon". Ambas foram gravadas por Candice e Ritchie em uma sessão íntima e caseira.
 
Blackmore's Night, atualmente em hibernação, é um projeto surpreendente e muito interessante ao revisitar um mundo aparentemente perdido para as gerações do século XXI e prova que a música instrumental/erudita pode ser popular e acessível aos jovens da atualidade.

Mundo encantado


O que ninguém esperava lá em 1997 é que Ritchie decidisse voltasse a estudar e praticar violão clássico no período. Um grupo de bardos esquisitos fazendo música temática? Blackmore's Night sempre foi muito mais do que isso.

Inusitado e intenso, o grupo fez turnês europeias com regularidade, sobretudo tocando em castelos medievais na Alemanha, na França, na Itália e nos países escandinavos

Casas de concertos eruditos também se foram ocupados em giros de completo sucesso. O acerto do casal foi estupendo. O que era para ser um projeto de música "folclórica", como gostam de dizer os detratores, rendeu 11 CDs com músicas inéditas, um álbum ao vivo e dois DVDs.

Aliás, detratores é o que não faltam para o Blackmore's Night, sobretudo no Brasil e entre os fãs do Deep Purple e do Rainbow, inconformados com o "exílio" do ídolo. 

Na Europa, os roqueiros e fãs das duas bandas estranharam bastante a opção de Blackmore, mas parte deles aceitou e apoiou. No Estados Unidos houve certa euforia no começo, mas foi seguida, algum tempo depois, por certa indiferença.

O guitarrista nunca trouxe o grupo ao Brasil. Alguns produtores culturais tentaram, mas desistiram ao saber dos custos para trazer um projeto que, na verdade, era um risco financeiro, apesar do nome fortíssimo de Blackmore. Imagine o Blackmore's Night fazendo concertos na Sala São Paulo ou no Teatro Municipal da capital paulista?

O projeto com a esposa é de extrema qualidade e certamente agradará a quem gosta de expandir o leque de gostos musicais. 

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