sábado, 29 de abril de 2023

União da viola caipira com rock pesado da Moda de Rock ainda surpreende

 A união improvável entre música caipira e heavy metal aconteceu de novo. As violas furiosas do Moda de Rock voltaram a São Paulo depois de quase um ano de turnê nacional, no Sesc Ipiranga, na agradável noite de 28 de abril, e coroaram uma temporada brilhante de divulgação do quarto disco da dupla, este dedicado a versões para músicas do rock nacional.

Não se tratava de um encerramento de ciclo, mas o show paulistano reuniu canções do álbum novo com clássicos mundiais do rock vertidos para a viola de dez cordas. 

O auditório lotado vibrou com as versões mais quentes e pesadas de "Wasted Years", do Iron Maiden, de "Master of Puppets", do Metallica, e "I Want Break Free", do Queen.

O mais interessante da noite foi a quantidade de pessoas que compareceu para conhecer a dupla Moda de Rock, criada em 2010 pelos violeiros Ricardo Vignini e Zé Hélder, que também fazem a dupla de violas da banda de rock rural Matuto Moderno. 

A ideia sempre foi ensinar a alunos técnicas importantes de viola de dez cordas, mas com arranjos inusitados e diferentes para clássicos do rock, que vão de Sepultura a Jethro Tull, passando por Ozzy Osbourne a Led Zeppelin e Beatles.

Quase 15 anos depois e com o sucesso cada vez maior, a Moda de Rock fica mais ambiciosa e avança para um patamar em que as versões estão mais interessantes. Há músicas com mais vocais, a cargo de Zé Hélder. 

"Heavy Metal do Senhor", de Zeca Baleiro, fica mais sarcástica ao vivo, enquanto que o "Bilhete de Didi", dos Novos Baianos, e "Mestre Jonas", de Sá, Rodrix e Guarabyra ganha em ironia e arranjos mais sofisticados.

Tem até Tão Carreiro e Pardinho em meio a pérolas como "Flores em Você" (Ira!) e "Até Quando Esperar" (Plebe Rude), com uma improvável versão de "Sonífera Ilha" (Titãs), todas instrumentais, para apimentar o repertório, já que a banda não autorizou a gravação da versão no CD. Punk rock com viola, também teve, com a visceral versão para "Medo", do Cólera.

A ideia pitoresca deu mais do que certo - nas mãos certas, é claro -, e a Moda de Rock ganha uma proeminência extraordinária, com o circuito Sesc finalmente descobrindo o potencial do "crossover" entre e o rock e a música brasileira fol de raiz, aquela feita na base a viola e na voz. 

A dupla de violeiros tem o grande mérito de conseguir a improvável inclusão da música caipira cm arranjos sofisticados em circuitos diferentes e igualmente improváveis. Talvez seja cedo para medir o tamanho do feito, mas a vitória, certamente, é gigante. Moda de Rock é uma das belas ideias recentes de nossa música.


Nenhum comentário:

Postar um comentário