quinta-feira, 6 de abril de 2023

A guitarra toma o lugar da voz de Dio, e Paul Gilbert faz grande homenagem

 No terreno pantanoso e perigoso das inspirações e "tributos", a chances de derrapar são imensas e o resultado costuma ser desanimador na maioria das vezes. Deep Purple e Saxon, por exemplo, gravaram álbuns de "versões" nos últimos anos  a irregularidade deu o tom.

O guitarrista americano Paul Gilbert (Mr. Big, ex-Racer X), reconhecido como um dos nomes importantes do instrumento a partir dos anos 90, decidiu mexer em uma área sagrada, a discografia de Ronnie James Dio (Black Sabbath, Rainbow), morto em 2010 aos 67 anos. 

Como não canta como toca, como resolveria a questão de interpretar as canções com a inimitável voz maravilhosa de Dio?

De forma arriscada, não pensou duas vezes: a sua guitarra substituiria a voz do genial cantor e "The Dio Album". O risco valeu a pena, com interpretações inspiradas de clássicos da carreira solo, do Black Sabbath e do Rainbow. 

Na maioria das 12 canções ele reproduziu fielmente as melodias das linhas vocais de Dio, acrescentando aqui e ali um molho diferente e instigante, como em "Stand Up and Shout", que ganhou vida nova.

O clássico "Heaven and Hell", do Black Sabbath, foi mais reverente e fiel, embora tenha sido brilhante a reprodução do vocal iluminado, com solos esfuziantes e alguns arranjos um pouco diferentes.

"Neon Knights", outra do Black Sabbath, teve uma embalagem mais conousou mevencional, respeitando as linhas originais e sem muita firula, coisa que não aconteceu em "Country Girl", onde Gilbert se soltou um pouco mais e misturou solos com as melodias vocais.

Do Rainbow o guitarrista ousou mexer em "Man on the Silver Mountain" e respeitou bastante a criação de Ritchie Blackmore, valorizando a trilha vocal da versão original e a equilibrando com os fraseados típicos da versão original. "Kill the King", da mesma banda, também pecou demais por reverenciar demais a canção original.

"Holy Diver", um dos sucessos estrondosos da carreira solo de Dio, abriu espaço para Gilbert se divertir um pouco mais e incorporar um pouco de sua própria magia. Teve um pouco de ousadia e versatilidade, como na ótima introdução.

"The Last in Line" ficou ainda melhor, com a guitarra mais incandescente e solta, com o guitarrista aproveitando em os espaços para arranjos inusitados e diferentes, mas sem inventar muito. Na medida.

Mais surpresas estavam reservadas para o final, como a versão altamente hard rock para "Long Live Rock'n'Roll", do Rainbow, que ficou saborosa e com um suingue que lembrou bastante a da versão original. Se alguém precisava de exemplo de como Gilbert é bom guitarrista, aqui está.

"Lady Evil", do Black Sabbath", e o colosso da carreira solo "Don't Talk to Strangers" são as melhores do álbum por se distanciarem mais das versões originais sem que isso soe como heresia. 

As linhas vocais foram seguidas à risca, mas o "molho" que o guitarrista acrescenta é divino, quase que recriando as composições a partir de outros pontos de vista. Coisa de quem é genial. 

Tem também "Starstruck", do Rainbow, que  ficou boa, mas perdida entre as versões ótimas citadas acima. Com criatividade e inteligência, Paul Gilbert fez uma grande homenagem e deu uma roupagem inusitada a 12 clássicos do heavy metal. Dio mereceu cada nota de guitarra em "The Dio Album".


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