segunda-feira, 17 de abril de 2023

O som, a fúria e o peso: ninguém fica indiferente a um álbum do Metallica

Flavio Leonel - do site Roque Reverso

O Metallica lançou seu aguardado novo álbum na sexta-feira, 14 de abril, e, como de praxe desde que começou a carreira e colocou o heavy metal de cabeça para baixo, monopolizou todas as atenções possíveis dentro do rock assim que o disco foi liberado mundialmente. 

Com músicas longas, sem baladas, diversas experimentações, letras interessantes e, acima de tudo, sinais de que o grupo gravou o novo trabalho curtindo o momento, “72 Seasons” pode ser classificado, no mínimo, como um bom álbum, mas que precisa de várias audições para uma conclusão definitiva. Nada mais Metallica do que isso.

Enquanto os tradicionais haters de plantão “sangram” por todos os lados e até ganham em audiência, cliques e seguidores falando mal do novo disco, o Metallica segue pleníssimo com suas
sempre ousadas estratégias de divulgação.

Não bastasse ter criado uma sessão especial de cinema para antecipar as faixas do álbum aos fãs do mundo inteiro no dia 13 de abril, o grupo de thrash metal norte-americano já liberou mais dois clipes novíssimos, das faixas “Sleepwalk My Life Away” e “Room of Mirrors”, com promessa de mais lançamentos de vídeos nas próximas horas e com tendência para clipes para todas as faixas, repetindo o feito histórico e até então inédito do disco anterior “Hardwired… to Self-Destruct”, de 2016.

Até o fechamento deste texto, o grupo já havia programado o clipe da música “Shadows Follow” para estreia no dia 16 de abril. Mesmo sem clipe ainda de todas as faixas, os fãs podem ouvir todas elas, com lyric videos, por exemplo, no YouTube, além de outras plataformas.

Antes do lançamento oficial do álbum, o Metallica já havia liberado clipes de quatro músicas: “Lux Æterna”, apresentada como primeiro single em novembro de 2022 e com os detalhes do disco; “Screaming Suicide”, que chegou em janeiro; “If Darkness Had a Son”, que foi lançada no começo de março; e a faixa-título “72 Seasons”, que veio no fim de março.

Rompimento de hiato de 7 anos sem álbum novo de estúdio

Com o lançamento do álbum “72 Seasons”, o Metallica rompeu em 2023 nada menos que 7 anos sem um trabalho novo de inéditas de estúdio. É o 11º álbum de estúdio do grupo tocando sozinho músicas inéditas. No comunicado que trouxe em novembro as informações do novo álbum, a banda considerou, porém, “72 Seasons” como seu 12º trabalho de estúdio.

Vale lembrar que o grupo lançou em 1998 o álbum “Garage Inc.”, que trouxe uma série de covers com a roupagem sempre espetacular do Metallica que, na maioria das vezes, melhora muito as versões originais. Há ainda o disco “Lulu”, de 2011, que a banda gravou com Lou Reed.

Tal qual o ótimo “Hardwired…To Self-Destruct”, de 2016, o novo disco do Metallica contou com produção de Greg Fidelman, junto com o vocalista e guitarrista, James Hetfield, e baterista Lars Ulrich.

São 12 faixas, totalizando 77 minutos de gravação, sendo que a última do disco, “Inamorata”, é a mais longa da carreira da banda, com mais de 11 minutos.

A sessão de cinema que antecipou o novo álbum

Sempre inovador, o Metallica decidiu promover uma sessão de cinema em várias salas do planeta para antecipar o novo álbum aos fãs no dia 13 de abril. No Brasil, a cidade de São Paulo foi a que concentrou mais salas. E o Roque Reverso esteve presente em uma delas, na região da Avenida Paulista, para ver o que viria pela frente.

Alternadas com os comentários de membros da banda sobre como foram criadas ou até mesmo com avaliações sobre o que eles mais apreciavam em cada faixa, boa parte das músicas vieram com vídeos repletos de efeitos visuais e gráficos. Havia aquelas que já haviam sido apresentadas anteriormente com os clipes, mas vídeos novos foram mostrados aos fãs.

Com mais de 77 minutos sentados numa cadeira de cinema, os fãs tiveram sua noite de críticos musicais na longa audição.

A despeito do longo tempo, foi interessante descobrir dos membros da banda como surgiram as inspirações das faixas, quem criou determinada introdução ou riff, qual a música que mais agradou alguns deles e até mesmo a expectativa do grupo para tocar determinadas faixas ao vivo.

O álbum

Como já foi dito, “72 Seasons” pode ser classificado, no mínimo, como um bom álbum. E precisa de várias audições para uma conclusão definitiva.

Nas primeiras audições, a impressão inicial é de que ele não supera “Hardwired… to Self-Destruct”, mas que ele está muito, mas muito longe mesmo, de ser um disco fraco ou que será esquecido na longa e respeitada carreira do Metallica. “72 Seasons” parece superar, por exemplo, o bom “Death Magnetic”, de 2008 e que representou o retorno do grupo a raízes esquecidas em “Load” (1996), “Reload” (1997) e “St. Anger” (2003).

A impressão é que o Metallica resgatou definitivamente alguns de seus melhores elementos em “Hardwired… to Self-Destruct” e que, em “72 Seasons”, passou a ousar com experimentações que podem ser perigosas para algumas bandas, mas que, para James Hetfield, Lars Ulrich, Kirk Hammett e Robert Trujillo, são mais uma tentativa de buscar novos caminhos e curtir essa viagem.

Na apresentação do álbum para a sessão de cinema e em entrevistas a diversos veículos de imprensa, é muito clara a satisfação dos membros do Metallica na gravação deste novo álbum. E tudo que é feito com tesão sempre sai melhor, em diversas áreas e momentos da vida.

As músicas do “Hardwired…” foram mais fáceis de se transformarem em “hits metállicos”, enquanto as de “72 Seasons” precisam ser mais assimiladas.

Não por acaso, o Metallica escolheu para os primeiros quatro singles as quatro músicas mais fáceis para “massagear” os ouvidos dos fãs.

“Lux Æterna”, que é a sexta no álbum, veio primeiro como um petardo, que lembra na introdução, por exemplo, algo como a versão que o próprio Metallica fez para “Killing Time”, do Sweet Savage. E que tem elementos de Motörhead, banda que influenciou especialmente a máquina de riffs James Hetfield.

“Screaming Suicide”, a terceira do disco, veio como segundo single. Ela manteve uma rapidez parecida com a primeira música lançada e ainda mexeu com um tema que é tabu no mundo inteiro, o suicídio.

Apesar das duas faixas agradarem, ainda faltava uma pitada de Metallica, uma faixa daquelas que o grupo sempre traz e que fica marcada na mente. Essa música foi “If Darkness Had a Son”, a nona do álbum e o terceiro single, que se transformou na preferida de muitos e candidata a melhor do disco. Sozinha, ela já valeria o álbum inteiro, se o Metallica não trouxesse mais nada de bom, já que traz um riff poderoso, alternância de variações, melodia de respeito e vocal contagiante de Hetfield. É uma das melhores faixas criadas desde o Black Album e vai ganhar seu lugar de destaque na carreira do Metallica.

Na própria apresentação da premiere de cinema, ficou bem claro que o grupo está bastante ansioso com esta música para os shows. James Hetfield e Robert Trujillo, por exemplo, estão esperando o público inteiro gritar “Temptation” a plenos pulmões. E há alguém com alguma dúvida que isso não vai acontecer?

Se já houve empolgação com o terceiro single, com a faixa-título “72 Seasons”, que é a primeira do disco, o sentimento foi mantido e a sensação foi de que o álbum valeria a pena.

Das faixas com clipe após o lançamento, “Sleepwalk My Life Away”, a quarta do disco, traz um Metallica poderoso já na ótima introdução de baixo de Trujillo, marcada pelas batidas interessantes de Lars Ulrich. A sequência da música empolga com toda a banda gerando uma energia que muito grupo novo dos tempos atuais jamais alcançará. A faixa traz pitadas de Black Sabbath em alguns momentos, mas, ao mesmo tempo, traz elementos que a deixam moderna dentro do heavy metal atual.

Outra de clipe mais recente, “Room of Mirrors” é a penúltima do álbum. Como bem disse James Hetfield na sessão de apresentação no cinema, há elementos de Thin Lizzy e, como destacou Robert Trujillo, é uma das boas para pegar o carro e sair pela estrada dirigindo. Traz o grupo numa velocidade interessante que, em alguns trechos, é quebrada por alternâncias também elogiáveis. Destaque também para o divisão do solo de guitarras de Kirk e James, relembrando grandes momentos do Metallica.

Com clipe previsto para estreia no dia 16 de abril, “Shadows Follow” é uma das grandes faixas do álbum mesmo com algumas leves experimentações um pouco diferentes dentro da carreira do Metallica. Segunda do disco, a música traz a banda bastante entrosada, vários riffs, letra interessante e James cantando de várias formas diferentes.

Quinta faixa do disco, “You Must Burn!” já começa bem com o título e segue densa, parecendo uma evolução de “Sad But True”, com pitadas fortes de Black Sabbath. É aquela música que, num show, o fã sai da roda de mosh ou do momento de bater cabeça freneticamente para contemplar o peso do Metallica.

Sétima do disco, “Crown of Barbed Wire” está entre as faixas com mais experimentações. E, justamente por isso, tende a dividir mais os fãs nas análises positivas e negativas. Ao mesmo tempo que traz experiências diversas, ela resgata elementos de álbuns do Metallica dos Anos 1990. É possível ver coisa do Black Album, do “Load” e do “Reload” e, após umas dez audições, ela até se torna familiar.

“Chasing Light” é a oitava do disco e perfeita para vir na sequência da faixa anterior. Com várias experimentações, traz James Hetfield com vocais audaciosos, Kirk Hammett bem no solo e Lars Ulrich com uma pegada invejável para uma pessoa de quase 60 anos.

Décima e antepenúltima do disco, “Too Far Gone?” é uma das boas surpresas positivas do “72 Seasons” e daquelas faixas que tendem a influenciar outras bandas. Traz um Metallica com uma roupagem bastante moderna, a começar pelo início dos vocais de James Hetfield, que consegue melhorá-los com melodia e harmonia contagiantes ao longo da música. Das faixas cujo refrão gruda na cabeça e o fã fica assobiando em vários momentos na sequência.

“Inamorata” fecha o disco com chave de ouro. Com 11 minutos e 10 segundos, a faixa inédita mais longa da carreira do Metallica é riquíssima em melodia e na parte instrumental. Traz elementos semelhantes aos da boa “The Outlaw Torn”, do Load, e da ótima “Fixxxer”, do “Reload”, além de uma performance vocal de James Hetfield que faz os pelos do braço ficarem arrepiados. Se você ouvir essa faixa e não sentir nenhum tipo de emoção, é porque já morreu por dentro. É mais uma das “viagens metállicas” que caem rapidamente no gosto dos fãs, sendo, na sessão de cinema, uma das mais festejadas. Belíssima!

Haters ‘sangram’ e o Metallica só cresce

Uma coisa que não pode deixar de ser registrada em qualquer faixa, disco, sinal de fumaça ou qualquer ação do Metallica é o papel patético dos haters de internet. Bastou o disco novo ser lançado e eles apareceram com os chavões eternos de sempre: “Metallica acabou no Black Album”, “Lars Ulrich nunca foi bom baterista”, “Kirk Hammett só sabe tocar no pedal Wah Wah”, “O disco do Megadeth é melhor!”

No YouTube e no Instagram pipocam análises desse tipo de gente que sequer, em toda a sua medíocre vida, jamais fará 0,000001% do que o Metallica fez para o heavy metal, mas que se acham na autoridade de descer a lenha na banda a qualquer nota nova lançada.

A postura de muitos parece juntar inveja, fracasso pessoal ou simplesmente a necessidade de falar mal porque Metallica dá audiência em qualquer lugar.

O fato é que, com o tamanho gigantesco alcançado pelo Metallica, tudo envolvendo a banda gera repercussão do mesmo tamanho. Tem coisa nova saindo? Vai lá um Zé Ruela e fala algo negativo para ganhar fã, cliente ou simplesmente clique.

Enquanto isso, o Metallica vai só crescendo assustadoramente e praticamente já virou uma empresa nos moldes de Rolling Stones, KISS e U2.

Na imprensa especializada internacional, boa parte das críticas foi positiva desde o lançamento do álbum. Revistas e sites de renome, no mínimo, parecem concordar que o disco novo é bom. Mas para muitos haters, se o Metallica lançasse hoje em dia o “Masters of Puppets”, ele receberia nota baixa e sofreria críticas negativas. Vai entender…

Álbum mostra banda com gás para seguir forte por mais uma década

Desde que Robert Trujillo chegou ao Metallica, não há dúvida que o cenário de terra arrasada do “St. Anger” ficou para trás e que o grupo passou por uma fase revigorante. Bons álbuns foram lançados desde então e a banda conseguiu resgatar elementos que haviam sido perdidos a partir do “Load”.

Com “72 Seasons”, o Metallica parece ainda com gás para seguir forte por, no mínimo, mais uma década. Para alguns, o álbum soou um pouco parecido de faixa para faixa. Para outros, o ponto baixo entre os membros foi a performance “sem criatividade” de Kirk Hammett na questão dos solos de guitarra.

Seriam ajustes para um disco ainda melhor mais para frente. A temporada de shows começa em breve e este é um território que a banda domina como poucas.

Os intervalos entre um disco e outro aumentaram, mas o grupo está sempre inovando e fazendo o que gosta. O clima ruim depois da saída de Jason Newsted, deu, com Trujillo, lugar a um período no qual a harmonia entre os membros prevalece.

Sim, James Hetfield, o verdadeiro coração da banda, teve recaídas alcoólicas recentes, mas, mais uma vez, conseguiu se reerguer. Em “72 Seasons”, ele é o melhor elemento. E isso é garantia de um futuro positivo para a banda, pois, se James está bem, o Metallica está bem.

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