quinta-feira, 6 de abril de 2023

Rock nacional na berlinda: chefes inclementes, neonazismo, medo de cancelamentos...

O primeiro trimestre de 2023 não tem sido fácil para boa parte dos artistas de rock nacional, de todos s estilos. Para muito os efeitos da pandemia de covid-19, das medidas de isolamento e da desastrosa gestão do governo federal anterior ainda surtem efeito e restringem as oportunidades para a plena retomada.

Para outras bandas, com algum cacife conquistado ao longo dos anos, há algum bônus e boas perspectivas - entre elas estão a proliferação dos festivais de grande porte, que abrem novas chances de redenção e de visibilidade.

- A banda paulista Noturnall flertou com o desastre (não por sua culpa) ao embarcar em uma turnê gigante nacional abrindo e sendo banda de suporte para o cantor inglês Paul Di'Anno, ex-Iron Maiden. Foram 31 datas agendadas entre janeiro e março, com mais 14 acrescentadas, uma temeridade diante da saúde frágil do cantor sexagenário e com histórico de problemas de saúde. Ele passou por cirurgias no final do ano passado e se recuperava na Croácia antes de chegar ao Brasil, onde morou por algumas temporadas. O primeiro show, em Fortaleza (CE), foi recheado de problemas técnicos e evidenciou os problemas de Di'Anno, mas a as coisas se ajeitaram a os dois meses de exaustivos shows foram exitosos. Deu tudo certo e a banda comemora. Tanto esforço deu resultado: Noturnall e outra banda veterana paulistana, a Sinistra, vão substituir o Matanza Ritual em um festival na cidade de Ribeirão Preto (SP).

- A meteorologia quase encerrou uma tão esperada turnê norte-americana da banda paulistana de metal Crypta no começo de abril. Ao lado do Morbid Angel e outra duas de metal extremo, percorria o interior dos Estado Unidos em ônibus e fazendo shows em locais pequenos e médios quando foi suroreendida por um tornado na cidade de , no Estado de . O ônibus de turnê foi destruído e o telhado da casa de shows foi arrancado. Um fã morreu e mais de 20 ficara feridos. Nenhum músico se machucou, mas o trauma foi grande. A turnê continua com mais 17 shows. 

- Ao mesmo tempo em que celebrava a nova formação da Nervosa, e anunciando que assumia os vocais, a guitarrista Prika Amaral foi surpreendida por declarações públicas de duas ex-integrantes sobre as "dificuldades de trabalhar com a brasileira". A baterista argentina Nanu Villalba, demitida em novembro passado, sem citar nomes, escreveu nas redes sociais que enfrentou problemas em sua "última banda" por conta da falta de transparência da "líder", principalmente em relação ao dinheiro faturado. Já a ex-vocalista diva Satânica, em ótimo português e mais direta, falou sobre a sua saída em entrevista ao programa Ibagens Cast, veiculado no YouTube. De forma comedida, a espanhola reclamou da agenda pesada de turnês interacionais, com falta de tempo para descansar e ver a família, mas criticou principalmente as características centralizadoras da líder Prika Amaral. "Ela é uma pessoa maravilhosa e só tenho a agradecer as chances que ela me deu, mas eu me decepcionei por quase nunca participar das decisões. Achei que estava contribuindo muito menos do que deveria e as decisões sempre vinham prontas e sem apelo. Houve desgaste por conta disso, infelizmente." Diva comunicou em setembro passado que sairia, mas o anúncio oficial ocorreu somente no fim de janeiro. Para muitos críticos da banda, são depoimentos que corroboram que é bem difícil trabalhar com a brasileira, que é a dona da banda. Em entrevista ao jornalista e radialista Gastão Moreira, Prika rebateu as críticas afirmando que é uma pessoa comum que mantém um sonho vivo, mas admitiu que é ela que toma a maioria das decisões.

- De forma clandestina, ao menos para os brasileiros, a banda paulistana Armored Dawn, que tinha anunciado o seu fim em 2021, vai retomando lentamente as atividades no exterior. Redes sociais e sites novos não são acessíveis a partir de IPs (endereços de protocolo) do Brasil. Pesam ainda contra a banda de heavy metal tradicional a polêmica e as acusações que recaem contra a operadora de saúde Prevent Senior, que tem como um dos sócios-proprietários o vocalista Eduardo Parras (nome verdadeiro, Eduardo Parrillo). A empresa foi alvo de investigações e CPIs (comissões parlamentares de inquéritos) acusada de forçar a prescrição de tratamentos contra a covid-19 não recomendados e de, entre outras coisas, divulgar dados inverossímeis sobre a evolução da doença em seus hospitais e a aplicação de medicamentos sem eficácia. A Prevent Senior, no entanto, acabou isentada de culpa em inquéritos das Polícis Civil e Federal, apesar de os relatórios das CPIs da Câmara dos Deputados e da Câmara Municipal de São Paulo apontarem vários indícios de irregularidades. Por conta desse imbróglio, a Armored Dawn foi alvo de uma campanha internacional originada no Brasil que pedia a sua retirada da abertura dos shows da cantora finlandesa Tarja Turunen pelos Estados Unidos. A pressão surgiu efeito e a banda brasileira foi "desconvidada".

- Outro convite retirado atingiu a cantora brasileira Mizuho Lin, da banda paranaense Semblant. Os portugueses do Moonspell, a principal banda de rock pesado daquele país, está em turnê por cidades brasileiras e receberia a cantora em seu show em Curitiba, provavelmente por indicação dos promotores locais. De forma rápida e curta, o convite foi desfeito. A banda portuguesa, como fama de culta, erudita e progressista, certamente foi informada do perfil de Mizuho, que é conservadora, entusiasta da extrema-direita e do nefasto ex-presidente Jair Bolsonaro. Mais ainda: apoiou os atos golpistas de 8 de janeiro, quando bolsonaristas invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes, em Brasília. Ou seja, apoiou um golpe contra a democracia. Em algumas redes sociais, circularam informações de que o cancelamento de sua participação ocorreu a pedido dela mesma porque teria uma cirurgia marcada nas proximidades do show. Os outros membros da Semblant também são conhecidos por suas posições políticas identificadas com o conservadorismo direitista de viés bolsonarista.

- Embora não tenha chocado os que tinham um conhecimento mais próximo da cena de metal extremo do Sul do país, causou escândalo a prisão de um músico gaúcho em um evento clandestino de neonazistas em Santa Catarina. Fabio Lentino, cantor e ex-integrante das bandas Rebaellium e The Ordher, de black metal, participava de uma reunião de uma célula que utilizava o rock como forma de propaganda de discurso de ódio. Segundo o portal G1, ao ser preso, Lentino confessou “participar de encontros dos brasileiros associados ao grupo internacional [neonazista] e que pagava mensalidade para o grupo”. Apesar disso, de acordo com o advogado de defesa, ele nega as acusações de integrar o grupo neonazista e “isso ficará demonstrado durante a instrução processual.” Que seja devidamente investigado, processado e condenado.

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