sábado, 1 de abril de 2023

Os 40 anos do Café Piu Piu são uma vitória de todos nós

 Não existe músico que não tenha toado lá. Não existe roqueiro que tenha resistindo ao encanto de ouvir boa música ali, naquele bar com nome chique e ambiente requintado. 

É difícil encontrar alguém que não conheça o Café Piu Piu, encravado no coração do Bexiga, a parte pulsante e boêmia do bairro central da Bela Vista, em São Paulo.

No começo era um café, mas logo se transforou em uma casa noturna quente e concorrida desde a sua fundação, em 1983. Foi a única daquela época de ouro que resistiu e que ainda funciona mo mesmo endereço na parte inicial da rua 13 de maio.

Os primeiros 300 metros da ladeira íngreme foram dominados por bares de todos os tipos, tamanhos e bolsos, e nos primórdios o rock e a MPB dominavam o panorama.

As modas foram, viera, fora de novo, sumindo sem deixar saudade, mas o Café Piu Piu nunca se afastou do rock. Sempre tem jazz e blues, mas o rock é a marca da casa, sempre abrindo abrindo espaço para as bandas autorais e aos indefectíveis grupos de covers (que executam os clássicos do gênero, na maioria das vezes.

Já foi cenário para a gravação de DVDs e inspiração para cenários e "personagens" de novelas, filmes e minisséries. O Piu Piu é parte indissociável da história da música da cidade de São Paulo.

Resistência é uma palavra óbvia para uma casa que completa 40 anos dentro de um segmento volátil e que quase sempre precisa estar muito antenado com o "momento cultural" para garantir algum lucro.

O Café Piu Piu resiste sem dar bola para os modismos. Quer ouvir rock dos bons? Quer fazer um evento certeiro com rock puro e sem firulas? Corra para a 13 de Maio, lá no Bexiga.

Ali foi a casa, por muito anos, da Central Scrutinizer Band, considerada uma das melhores bandas do mundo a reproduzir a música de Frank Zappa. 

Também foi ali que o Violeta de Outono fez alguns de seus mais inspiradores shows dos anos 80. E foi o palco da gravação do ótimo show do Bittencourt Project, em que o guitarrista Rafael Bittencourt (Angra) tocou e, ao mesmo tempo, dirigiu as filmagens. Como não amar um lugar desses?

O balcão e o palco mudaram de lugar algumas vezes, mas nada que interferisse no charme e no clima de guitarras ferozes e incandescentes que dominaram sempre o ambiente. É a casa do rock underground de São Paulo.

Gerenciada pela mesma família desde sempre, a casa faz das contradições um dos motores de sua sobrevivência. Mantém o tradicionalismo na programação e em detalhes do ambiente, mas fica de olho no mundo moderno, mas sem fugir do rock.

Paulo Lustig é quem administra ao lado da mãe, Silvia Galant. São dois ativistas do urbanismo e da valorização da degradada região central de São Paulo. Evitam falar em segredo para a longevidade do bar, mas sabem que produtos bons e atendimento diferenciado fazem muito a diferença, tanto que o cliente comum e os artistas se sentem em casa.

Paulinho, que um dia trabalhou na redação do jornal O Estado de S. Paulo, tem orgulho do "patrimônio cultural" que erigiu. As jornadas cansativas para garantir o funcionamento sempre cobram o preço, mas a satisfação de ver os milhares de amigos se divertindo compensa.

Uma das muitas vitórias que a casa conquistou foi a de unir gerações e públicos. As veteranas bandas de clássicos do rock como Hot Rocks são responsáveis pela tradição e por manter o público de sempre, mas há gente nova que faz questão de sentir os bons fluidos daquelas paredes que já absorveram sons de gente da pesada. 

Daniel Fonseca é um talento nato aos 16 anos e escolheu a casa para fazer o show de estreia de sua carreira de guitarrista de heavy metal. "Aqui tem história e a interação com o público é fantástica", disse o garoto, que lançava al o seu primeiro EP solo.

Com tanta história na paredes, o ambiente parece intimidador, mas, na verdade, é o contrário. O acolhimento é a marca do povo que ali frequenta e que vibra com cada nota que emerge do palco que fica a poucos centímetros das primeiras mesas.

O Café Piu é a cara do rock underground paulistano, um símbolo da resistência da arte e do entretenimento. Seus 40 anos de existência são ua grande vitória da cidade e de todos nós.

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