Não existe músico que não tenha toado lá. Não existe roqueiro que tenha resistindo ao encanto de ouvir boa música ali, naquele bar com nome chique e ambiente requintado.
É difícil encontrar alguém que não conheça o Café Piu Piu, encravado no coração do Bexiga, a parte pulsante e boêmia do bairro central da Bela Vista, em São Paulo.
No começo era um café, mas logo se transforou em uma casa noturna quente e concorrida desde a sua fundação, em 1983. Foi a única daquela época de ouro que resistiu e que ainda funciona mo mesmo endereço na parte inicial da rua 13 de maio.
Os primeiros 300 metros da ladeira íngreme foram dominados por bares de todos os tipos, tamanhos e bolsos, e nos primórdios o rock e a MPB dominavam o panorama.
As modas foram, viera, fora de novo, sumindo sem deixar saudade, mas o Café Piu Piu nunca se afastou do rock. Sempre tem jazz e blues, mas o rock é a marca da casa, sempre abrindo abrindo espaço para as bandas autorais e aos indefectíveis grupos de covers (que executam os clássicos do gênero, na maioria das vezes.
Já foi cenário para a gravação de DVDs e inspiração para cenários e "personagens" de novelas, filmes e minisséries. O Piu Piu é parte indissociável da história da música da cidade de São Paulo.
Resistência é uma palavra óbvia para uma casa que completa 40 anos dentro de um segmento volátil e que quase sempre precisa estar muito antenado com o "momento cultural" para garantir algum lucro.
O Café Piu Piu resiste sem dar bola para os modismos. Quer ouvir rock dos bons? Quer fazer um evento certeiro com rock puro e sem firulas? Corra para a 13 de Maio, lá no Bexiga.
Ali foi a casa, por muito anos, da Central Scrutinizer Band, considerada uma das melhores bandas do mundo a reproduzir a música de Frank Zappa.
Também foi ali que o Violeta de Outono fez alguns de seus mais inspiradores shows dos anos 80. E foi o palco da gravação do ótimo show do Bittencourt Project, em que o guitarrista Rafael Bittencourt (Angra) tocou e, ao mesmo tempo, dirigiu as filmagens. Como não amar um lugar desses?
O balcão e o palco mudaram de lugar algumas vezes, mas nada que interferisse no charme e no clima de guitarras ferozes e incandescentes que dominaram sempre o ambiente. É a casa do rock underground de São Paulo.
Gerenciada pela mesma família desde sempre, a casa faz das contradições um dos motores de sua sobrevivência. Mantém o tradicionalismo na programação e em detalhes do ambiente, mas fica de olho no mundo moderno, mas sem fugir do rock.
Paulo Lustig é quem administra ao lado da mãe, Silvia Galant. São dois ativistas do urbanismo e da valorização da degradada região central de São Paulo. Evitam falar em segredo para a longevidade do bar, mas sabem que produtos bons e atendimento diferenciado fazem muito a diferença, tanto que o cliente comum e os artistas se sentem em casa.
Paulinho, que um dia trabalhou na redação do jornal O Estado de S. Paulo, tem orgulho do "patrimônio cultural" que erigiu. As jornadas cansativas para garantir o funcionamento sempre cobram o preço, mas a satisfação de ver os milhares de amigos se divertindo compensa.
Uma das muitas vitórias que a casa conquistou foi a de unir gerações e públicos. As veteranas bandas de clássicos do rock como Hot Rocks são responsáveis pela tradição e por manter o público de sempre, mas há gente nova que faz questão de sentir os bons fluidos daquelas paredes que já absorveram sons de gente da pesada.
Daniel Fonseca é um talento nato aos 16 anos e escolheu a casa para fazer o show de estreia de sua carreira de guitarrista de heavy metal. "Aqui tem história e a interação com o público é fantástica", disse o garoto, que lançava al o seu primeiro EP solo.
Com tanta história na paredes, o ambiente parece intimidador, mas, na verdade, é o contrário. O acolhimento é a marca do povo que ali frequenta e que vibra com cada nota que emerge do palco que fica a poucos centímetros das primeiras mesas.
O Café Piu é a cara do rock underground paulistano, um símbolo da resistência da arte e do entretenimento. Seus 40 anos de existência são ua grande vitória da cidade e de todos nós.
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