Conceber um cardápio musical que agregue eficientemente beleza poética com uma sonoridade climática não é com certeza uma tarefa das mais fáceis. E foi justamente isso que a banda/duo Uma Poesia Qualquer conseguiu com seu primeiro álbum, “Brasa de Cetim”.
O grupo é formado pelo casal Rafael Garcia e Ananda Volpi, que atuam separadamente em outras formações musicais como Vale Hermético, Ananda, Brand New Eyes, The Long Blue Trip. Os dois moram em Araraquara (SP), mas são de Rio Preto (SP), para onde sempre retornam para shows, em vários formatos.
Acompanhados de músicos tradicionais da cena da região, como Paulo Garrido, Junior Muelas e Bryan Baietta, a dupla registrou “Brasa de Cetim” nos estúdios Baietta Produções e Cosmic Records, e lança agora o trabalho em formato CD físico e, em breve, nas mídias de streaming.
O trabalho brilha por conter composições e arranjos primorosos. A sonoridade soa densa em alguns momentos (mais por conta da intensidade das teclas e bateria) e o sentimento setentista que permeia, tudo como base para a voz suave e intensa de Ananda. A viagem "old times" como concubina divina da poesia que toca a alma musical do ouvinte.
O disco abre com “Castelo de Ar”, com teclado e percussão dando um clima céltico à música, aura folk-pop-rock e com o clima “old rock” do solo de guita. Daqueles refrãos que colam e não largam a mente.
A seguir, “Flores Mortas” e seus efeitos nos pratos e cordas. Pelo timbre de bateria soa mais áspera e com dose generosa de emotividade das vozes, da metade pro fim a presença hard da guita. “De Novo” conta com dedilhado de aço com pegada musical pesada.....misto de psicodelia mutante com a direção musical de mestres dos 60, como Moody Blues. Voz da Ananda lá em cima.
“Caminho pra Lugar Nenhum” traz guita wha-whazística numa vibe mais groove, o lado soul e rock caminhando juntos, por isso mesmo o baixo se permite suas aventuras mais explícitas.
Acompanhados de músicos tradicionais da cena da região, como Paulo Garrido, Junior Muelas e Bryan Baietta, a dupla registrou “Brasa de Cetim” nos estúdios Baietta Produções e Cosmic Records, e lança agora o trabalho em formato CD físico e, em breve, nas mídias de streaming.
O trabalho brilha por conter composições e arranjos primorosos. A sonoridade soa densa em alguns momentos (mais por conta da intensidade das teclas e bateria) e o sentimento setentista que permeia, tudo como base para a voz suave e intensa de Ananda. A viagem "old times" como concubina divina da poesia que toca a alma musical do ouvinte.
O disco abre com “Castelo de Ar”, com teclado e percussão dando um clima céltico à música, aura folk-pop-rock e com o clima “old rock” do solo de guita. Daqueles refrãos que colam e não largam a mente.
A seguir, “Flores Mortas” e seus efeitos nos pratos e cordas. Pelo timbre de bateria soa mais áspera e com dose generosa de emotividade das vozes, da metade pro fim a presença hard da guita. “De Novo” conta com dedilhado de aço com pegada musical pesada.....misto de psicodelia mutante com a direção musical de mestres dos 60, como Moody Blues. Voz da Ananda lá em cima.
“Caminho pra Lugar Nenhum” traz guita wha-whazística numa vibe mais groove, o lado soul e rock caminhando juntos, por isso mesmo o baixo se permite suas aventuras mais explícitas.
Na sequência, “Calor de Inverno” que conta no início com efeitos de teclas e cordas e abre com licks (percussão com ótimo trabalho de caixa), numa levada mais cadenciada, caindo no lado intenso do rock nos solos das 6 cordas. Dobra linda de vozes. O lado lírico que flerta com a vibe ácida de Secos e Terço.
“Uma Poesia Qualquer” – faixa já divulgada pela coletânea “Cosmic Records 2022” - a música que parece sair de dentro da natureza ou vice-versa. Os efeitos sonoros junto a voz e violão dão o clima viajante da faixa (que incorpora suavidade percussiva posteriormente). Como é legal solo de violão...
Para fechar, “Combinação e Rima” com sua abertura com bateria, efeitos de voz (na faixa toda) e licks fusion (com doce balanço). A intencional introspecção permeia o decorrer da música. Um clima latino com o feeling blues da guitarra. Fecha o trabalho com a presença encorpada de malícia e perícia.
O Ready conversou com Ananda e Rafael sobre o lançamento e suas carreiras em geral.
ReadytoRock - Rafael e Ananda participam de outros projetos musicais e bandas. Independentemente de serem um casal, como se deu a química musical entre vocês?
Ananda e Rafael - Descobrimos nossa química compondo mesmo... antes da gente tocar qualquer música nós escrevemos uma música (risos). Foi natural e a partir dali percebemos que havia conexão musical e que talvez fosse uma boa ideia seguirmos criando e compondo...
RR - Suas outras bandas tem propostas distintas. O que a influência variada de vocês contribuiu para a sonoridade do projeto Uma Poesia Qualquer?
A & R - Esse é o interessante em nosso duo. Precisamos sair "da nossa caixinha" pra pensar como um projeto em conjunto. Como mesclar rock psicodélico com indie, pop atual e tudo isso em português? É importante pra ficar um trabalho não tendencioso a nenhum estilo. Juntos criamos algo novo, mas que ainda é muito perceptível de onde vem as referências de cada um. Isso contribui pra chegarmos numa sonoridade original e que expresse o que e quem somos. Não queremos ser uma banda de rock ou um projeto de pop ou qualquer outro gênero; buscamos ser um projeto musical, onde a música prevaleça e vá muito além dos estilos e gêneros e coisa e tal...
RR – “Brasa de Cetim” tem uma intensidade impressionante, com cada faixa se comportando bem em cada região sonora própria. Como se deu o processo de composição?
A & R - As músicas, embora não tenham sido pensadas pra compor um álbum, surgiram na mesma época e acredito que isso acaba colocando as canções em atmosferas semelhantes. O mais legal do álbum é que ele permite que cada criação tenha sua própria individualidade, sua própria vida e que falem por si só, mas ainda assim essas músicas carregam consigo uma semelhança enérgica, de uma época específica, isso faz com que elas se agrupem tão bem. E por conta disso (das músicas terem sido compostas quase que juntas, na mesma época) nota-se que existe algumas ideias de progressão harmônica que são usadas mais de uma vez no álbum em diferentes músicas, dá pra perceber também que algumas canções estão dentro da mesma tonalidade e quase da mesma intenção... são algumas das coisas que não foram muito pensadas mas contribuíram muito para dar cara ao CD.
RR - Me fale quem gravou todas as partes e onde foram captadas e produzidas?
A & R - As músicas “Flores Mortas”, “Calor de Inverno” e “Uma Poesia Qualquer” foram gravadas no estúdio Cosmic Records em São José do Rio Preto, com Junior Muelas na bateria e Paulo Garrido no baixo (e bateria em Uma Poesia Qualquer); Eu (Rafael) toquei as guitarras e violões e a Ananda gravou os vocais. Já as canções “Castelo de Ar”, “De Novo”, “Caminho Pra Lugar Nenhum” e “Combinação e Rima” foram gravadas em Birigui com o Bryan, no estúdio Baietta Produções. Nesse processo ele gravou todas as baterias, o baixo em “Castelo de Ar” e o violão em “De Novo”, mais os teclados MID. Eu gravei as guitarras e os baixos em “De Novo” e “Combinação & Rima”; a Ananda gravou o baixo em “Caminho Pra Lugar Nenhum” e as vozes. O primeiro processo citado teve um processo mais orgânico gravado quase ao vivo, com timbres mais naturais e captados através da microfonação. Já o segundo processo foi um pouco mais moderno, com exceção das vozes e bateria, os outros instrumentos foram gravados direto na mesa analógica explorando uma produção mais moderna. E era essa a nossa proposta, explorar essas duas dinâmicas entre as sonoridades mais antigas e as mais atuais, trabalhando e misturando em cima das nossas influências que mesmo distintas tendem a conversar entre si.
RR - Numa mesma música é possível encontrar suavidade, pegada rock e groove. Das mais pegadas como “De Novo”, às balançantes “Caminho pra Lugar Nenhum” e “Combinação e Rima”, ao psicodelismo de “Flores Mortas” e “Calor de Inverno”. Como os elementos e harmonias foram trabalhados nas faixas?
A & R - As músicas nasceram de forma bem mais natural e expressiva do que racionalmente, por isso as harmonias e os elementos acabam sendo trabalhados de forma alegórica, tentando ilustrar bem os caminhos que cada música percorre; a intenção é que o instrumental, junto com a letra, contém a mesma história, sabe? Eu vejo a construção da música de duas formas: como uma estrada onde vamos trilhando alguns caminhos e/ou como um quadro onde vamos desenhando e pintando e adicionando elementos e cores para dar vida àquela imagem... então acho intrínseco a ideia de que os arranjos caminhem juntamente com a letra, colorindo e dando vida e trazendo verdade ao que está sendo cantado e contado.
RR - O livre direcionamento de cada faixa não impede que todas elas acabam sempre tendo um tempero e inserções rock and roll. “Brasa de Cetim” seria também um disco de rock?
A & R - Acreditamos que sim, é e ainda em português (risos)... acho que, mesmo fugindo de rótulos e estilos, estamos um pouco guinados à um soft rock por conta da maioria dos elementos musicais presentes no nosso álbum, mesmo que ainda exista outros elementos de outras vertentes como o funk, blues e até mesmo o pop, mas não estamos tão ligado àquelas coisas de riffs pesados e coisa e tal... Nós escutamos muita música em formato de vinil e acabamos ouvindo alguns discos de rock'n roll como “Fire and Water” (Free) ou “Guitar Man” (Bread) que nos mostraram uma forma de unir peso, intensidade e profundidade através de arranjos menos "pesados", vamos dizer assim... acho que o rock engloba muita coisa e algumas delas você encontra no nosso álbum... por isso a resposta é sim.
RR - Vocês já testaram as faixas ao vivo? Há planos para que os sets sejam baseados no material do disco?
A & R - Todas as músicas já foram tocadas ao vivo no formato acústico, mas estamos preparando shows de lançamento do CD com banda, pra apresentar as canções autorais e nossas influências nesse trabalho em específico. Os shows já têm data marcada e acontecerão em Araçatuba/SP nos dias 22 e 23 de Abril (2023). Entre as influências estão Pink Floyd, Erasmo Carlos, Som Nosso de Cada Dia, Billie Eilish, Black Pumas e outros nomes que se comunicam bastante com nosso trabalho. A ideia desse show é unir tudo aquilo que influenciou direta ou indiretamente a criação das músicas do “Brasa de Cetim”.
RR - Como é conciliar o trabalho de vocês junto à produção e shows de outras bandas que atuam?
A & R - A gente trabalha com um agenda de uns dois meses de antecedência, com base nas conversas diárias que temos, conseguimos conciliar todos os trabalhos, até agora... com certeza nosso foco é música autoral e queremos muito levar esse trabalho adiante, não só através dos lançamentos dos trabalhos, mas através de shows ao vivo e contato direto com o público... porém confessamos que ainda é bem complicado ser artista independente no Brasil, então acabamos priorizando os nossos trabalhos covers que geralmente é o que tem pago nossas contas no momento!
RR - Vocês optaram também por mídia física (CD), mesmo hoje em dia onde o streaming tende a dominar. Você acredita que a mídia física pode dar uma emoldurada com mais classe à obra musical criada?
A & R - Acredito que sim, de uma forma até romântica, mas sendo bem realista, infelizmente (risos) o CD é uma forma de monetizar nosso trabalho, como fazemos tudo de forma independente, os gastos pra produção e gravação das nossas músicas são nossos, sem patrocínio ou coisa do tipo. Conseguimos produzir o “Brasa de Cetim” através da venda de um CD Demo acústico que gravamos em 2021. Esse dinheiro foi revertido pra esse novo trabalho que precisa ter seu retorno pra um novo ser produzido e assim continuaria rodando a engrenagem. Mas como a ideia é monetizar de forma justa o trabalho e democratizar a música (permitir que todos os tipos de consumidores tenham acesso ao nosso som), também criamos um link digital pelo drive para aqueles que não costumam ouvir mídia física e que, assim como o CD, também está à venda. Nesse link, além das músicas, temos letras, vídeos de agradecimento, do processo de gravação e criativo, encarte, ficha técnica, montamos como se fosse um vinil, porém digitalizado.
RR - Sabemos das dificuldades de artistas autorais independentes. Como está o trabalho de divulgação do disco e do trabalho do Uma Poesia Qualquer Brasil afora?
A & R - O trabalho é feito de forma bem orgânica mesmo, boca a boca, shows em bares, saraus e festivais, estamos preparando "lambe-lambes" pra divulgar nossos shows de lançamento do CD, e tudo fazemos por conta própria, buscamos ter um contato mais direto e real com nosso público; também usamos das redes sociais pra trocar mensagens com os amigos e contratantes, fazer postagens de divulgação e vídeos tocando, inclusive vendemos quase todos os nossos CDs através da internet, toda forma de contato é válida, mas estamos buscando um caminho nesse trabalho que consiga depender um pouco menos dos algoritmos (risos).
RR - Quais os planos da banda a médio e longo prazos?
A & R - Em primeiro momento continuar divulgando nosso novo trabalho que é o CD “Brasa de Cetim”, através das redes, do “boca a boca”, das rádios, dos shows e de todas as formas que pudermos. Temos planos de continuar escrevendo canções, porque queremos outros álbuns, e buscando cada vez fazermos mais shows até conseguirmos viver da nossa música. Acho que o plano é esse, viver da nossa música.
RR - Fique à vontade para deixas quaisquer outras informações do grupo e do álbum.
A & R - Encontrem a gente no instagram @1poesiaqualquer porque sempre teremos alguma novidade. Sobre o CD: tudo foi feito com muito carinho e amor, tudo foi pensado, desde a quantidade e escolha das músicas à ideia da capa que também quer dizer algo... buscamos nos comunicar de todas as maneiras e também agradecemos pela oportunidade de conversamos sobre nosso trabalho, foi um projeto que levou quase dois anos pra acontecer e sentimos muito orgulho de como chegamos até ele. Agradecemos ao Bryan do estúdio Baietta Produções em Birigui; Helio Suguiura, o autor do desenho da capa; Paulo Garrido da Cosmic Records de SJ do Rio Preto; Junior Muelas; todos aqueles que sempre nos fortalecem de todas as formas possíveis. Somos muito gratos por sempre termos tido os amigos por perto e a cada show conseguíamos fazer novos amigos, que permaneceram no caminho com a gente, no fim, sem eles, nada disso teria acontecido. Um beijo especial pra vocês da Ananda e do Rafa. Obrigado!
A aura musical que Uma Poesia Qualquer exala tem cara única. Difícil recordar de iniciativa similar no Brasil. Tem tudo para agradar desde fãs de MPB, rock setentista e blues/fusion. Começaram lá em cima com “Brasa de Cetim” e tem tudo para angariar cada vez mais reconhecimento no cenário musical brasileiro. Se eu pudesse apostar, diria que a dupla vai muito longe.
“Uma Poesia Qualquer” – faixa já divulgada pela coletânea “Cosmic Records 2022” - a música que parece sair de dentro da natureza ou vice-versa. Os efeitos sonoros junto a voz e violão dão o clima viajante da faixa (que incorpora suavidade percussiva posteriormente). Como é legal solo de violão...
Para fechar, “Combinação e Rima” com sua abertura com bateria, efeitos de voz (na faixa toda) e licks fusion (com doce balanço). A intencional introspecção permeia o decorrer da música. Um clima latino com o feeling blues da guitarra. Fecha o trabalho com a presença encorpada de malícia e perícia.
O Ready conversou com Ananda e Rafael sobre o lançamento e suas carreiras em geral.
ReadytoRock - Rafael e Ananda participam de outros projetos musicais e bandas. Independentemente de serem um casal, como se deu a química musical entre vocês?
Ananda e Rafael - Descobrimos nossa química compondo mesmo... antes da gente tocar qualquer música nós escrevemos uma música (risos). Foi natural e a partir dali percebemos que havia conexão musical e que talvez fosse uma boa ideia seguirmos criando e compondo...
RR - Suas outras bandas tem propostas distintas. O que a influência variada de vocês contribuiu para a sonoridade do projeto Uma Poesia Qualquer?
A & R - Esse é o interessante em nosso duo. Precisamos sair "da nossa caixinha" pra pensar como um projeto em conjunto. Como mesclar rock psicodélico com indie, pop atual e tudo isso em português? É importante pra ficar um trabalho não tendencioso a nenhum estilo. Juntos criamos algo novo, mas que ainda é muito perceptível de onde vem as referências de cada um. Isso contribui pra chegarmos numa sonoridade original e que expresse o que e quem somos. Não queremos ser uma banda de rock ou um projeto de pop ou qualquer outro gênero; buscamos ser um projeto musical, onde a música prevaleça e vá muito além dos estilos e gêneros e coisa e tal...
RR – “Brasa de Cetim” tem uma intensidade impressionante, com cada faixa se comportando bem em cada região sonora própria. Como se deu o processo de composição?
A & R - As músicas, embora não tenham sido pensadas pra compor um álbum, surgiram na mesma época e acredito que isso acaba colocando as canções em atmosferas semelhantes. O mais legal do álbum é que ele permite que cada criação tenha sua própria individualidade, sua própria vida e que falem por si só, mas ainda assim essas músicas carregam consigo uma semelhança enérgica, de uma época específica, isso faz com que elas se agrupem tão bem. E por conta disso (das músicas terem sido compostas quase que juntas, na mesma época) nota-se que existe algumas ideias de progressão harmônica que são usadas mais de uma vez no álbum em diferentes músicas, dá pra perceber também que algumas canções estão dentro da mesma tonalidade e quase da mesma intenção... são algumas das coisas que não foram muito pensadas mas contribuíram muito para dar cara ao CD.
RR - Me fale quem gravou todas as partes e onde foram captadas e produzidas?
A & R - As músicas “Flores Mortas”, “Calor de Inverno” e “Uma Poesia Qualquer” foram gravadas no estúdio Cosmic Records em São José do Rio Preto, com Junior Muelas na bateria e Paulo Garrido no baixo (e bateria em Uma Poesia Qualquer); Eu (Rafael) toquei as guitarras e violões e a Ananda gravou os vocais. Já as canções “Castelo de Ar”, “De Novo”, “Caminho Pra Lugar Nenhum” e “Combinação e Rima” foram gravadas em Birigui com o Bryan, no estúdio Baietta Produções. Nesse processo ele gravou todas as baterias, o baixo em “Castelo de Ar” e o violão em “De Novo”, mais os teclados MID. Eu gravei as guitarras e os baixos em “De Novo” e “Combinação & Rima”; a Ananda gravou o baixo em “Caminho Pra Lugar Nenhum” e as vozes. O primeiro processo citado teve um processo mais orgânico gravado quase ao vivo, com timbres mais naturais e captados através da microfonação. Já o segundo processo foi um pouco mais moderno, com exceção das vozes e bateria, os outros instrumentos foram gravados direto na mesa analógica explorando uma produção mais moderna. E era essa a nossa proposta, explorar essas duas dinâmicas entre as sonoridades mais antigas e as mais atuais, trabalhando e misturando em cima das nossas influências que mesmo distintas tendem a conversar entre si.
RR - Numa mesma música é possível encontrar suavidade, pegada rock e groove. Das mais pegadas como “De Novo”, às balançantes “Caminho pra Lugar Nenhum” e “Combinação e Rima”, ao psicodelismo de “Flores Mortas” e “Calor de Inverno”. Como os elementos e harmonias foram trabalhados nas faixas?
A & R - As músicas nasceram de forma bem mais natural e expressiva do que racionalmente, por isso as harmonias e os elementos acabam sendo trabalhados de forma alegórica, tentando ilustrar bem os caminhos que cada música percorre; a intenção é que o instrumental, junto com a letra, contém a mesma história, sabe? Eu vejo a construção da música de duas formas: como uma estrada onde vamos trilhando alguns caminhos e/ou como um quadro onde vamos desenhando e pintando e adicionando elementos e cores para dar vida àquela imagem... então acho intrínseco a ideia de que os arranjos caminhem juntamente com a letra, colorindo e dando vida e trazendo verdade ao que está sendo cantado e contado.
RR - O livre direcionamento de cada faixa não impede que todas elas acabam sempre tendo um tempero e inserções rock and roll. “Brasa de Cetim” seria também um disco de rock?
A & R - Acreditamos que sim, é e ainda em português (risos)... acho que, mesmo fugindo de rótulos e estilos, estamos um pouco guinados à um soft rock por conta da maioria dos elementos musicais presentes no nosso álbum, mesmo que ainda exista outros elementos de outras vertentes como o funk, blues e até mesmo o pop, mas não estamos tão ligado àquelas coisas de riffs pesados e coisa e tal... Nós escutamos muita música em formato de vinil e acabamos ouvindo alguns discos de rock'n roll como “Fire and Water” (Free) ou “Guitar Man” (Bread) que nos mostraram uma forma de unir peso, intensidade e profundidade através de arranjos menos "pesados", vamos dizer assim... acho que o rock engloba muita coisa e algumas delas você encontra no nosso álbum... por isso a resposta é sim.
RR - Vocês já testaram as faixas ao vivo? Há planos para que os sets sejam baseados no material do disco?
A & R - Todas as músicas já foram tocadas ao vivo no formato acústico, mas estamos preparando shows de lançamento do CD com banda, pra apresentar as canções autorais e nossas influências nesse trabalho em específico. Os shows já têm data marcada e acontecerão em Araçatuba/SP nos dias 22 e 23 de Abril (2023). Entre as influências estão Pink Floyd, Erasmo Carlos, Som Nosso de Cada Dia, Billie Eilish, Black Pumas e outros nomes que se comunicam bastante com nosso trabalho. A ideia desse show é unir tudo aquilo que influenciou direta ou indiretamente a criação das músicas do “Brasa de Cetim”.
RR - Como é conciliar o trabalho de vocês junto à produção e shows de outras bandas que atuam?
A & R - A gente trabalha com um agenda de uns dois meses de antecedência, com base nas conversas diárias que temos, conseguimos conciliar todos os trabalhos, até agora... com certeza nosso foco é música autoral e queremos muito levar esse trabalho adiante, não só através dos lançamentos dos trabalhos, mas através de shows ao vivo e contato direto com o público... porém confessamos que ainda é bem complicado ser artista independente no Brasil, então acabamos priorizando os nossos trabalhos covers que geralmente é o que tem pago nossas contas no momento!
RR - Vocês optaram também por mídia física (CD), mesmo hoje em dia onde o streaming tende a dominar. Você acredita que a mídia física pode dar uma emoldurada com mais classe à obra musical criada?
A & R - Acredito que sim, de uma forma até romântica, mas sendo bem realista, infelizmente (risos) o CD é uma forma de monetizar nosso trabalho, como fazemos tudo de forma independente, os gastos pra produção e gravação das nossas músicas são nossos, sem patrocínio ou coisa do tipo. Conseguimos produzir o “Brasa de Cetim” através da venda de um CD Demo acústico que gravamos em 2021. Esse dinheiro foi revertido pra esse novo trabalho que precisa ter seu retorno pra um novo ser produzido e assim continuaria rodando a engrenagem. Mas como a ideia é monetizar de forma justa o trabalho e democratizar a música (permitir que todos os tipos de consumidores tenham acesso ao nosso som), também criamos um link digital pelo drive para aqueles que não costumam ouvir mídia física e que, assim como o CD, também está à venda. Nesse link, além das músicas, temos letras, vídeos de agradecimento, do processo de gravação e criativo, encarte, ficha técnica, montamos como se fosse um vinil, porém digitalizado.
RR - Sabemos das dificuldades de artistas autorais independentes. Como está o trabalho de divulgação do disco e do trabalho do Uma Poesia Qualquer Brasil afora?
A & R - O trabalho é feito de forma bem orgânica mesmo, boca a boca, shows em bares, saraus e festivais, estamos preparando "lambe-lambes" pra divulgar nossos shows de lançamento do CD, e tudo fazemos por conta própria, buscamos ter um contato mais direto e real com nosso público; também usamos das redes sociais pra trocar mensagens com os amigos e contratantes, fazer postagens de divulgação e vídeos tocando, inclusive vendemos quase todos os nossos CDs através da internet, toda forma de contato é válida, mas estamos buscando um caminho nesse trabalho que consiga depender um pouco menos dos algoritmos (risos).
RR - Quais os planos da banda a médio e longo prazos?
A & R - Em primeiro momento continuar divulgando nosso novo trabalho que é o CD “Brasa de Cetim”, através das redes, do “boca a boca”, das rádios, dos shows e de todas as formas que pudermos. Temos planos de continuar escrevendo canções, porque queremos outros álbuns, e buscando cada vez fazermos mais shows até conseguirmos viver da nossa música. Acho que o plano é esse, viver da nossa música.
RR - Fique à vontade para deixas quaisquer outras informações do grupo e do álbum.
A & R - Encontrem a gente no instagram @1poesiaqualquer porque sempre teremos alguma novidade. Sobre o CD: tudo foi feito com muito carinho e amor, tudo foi pensado, desde a quantidade e escolha das músicas à ideia da capa que também quer dizer algo... buscamos nos comunicar de todas as maneiras e também agradecemos pela oportunidade de conversamos sobre nosso trabalho, foi um projeto que levou quase dois anos pra acontecer e sentimos muito orgulho de como chegamos até ele. Agradecemos ao Bryan do estúdio Baietta Produções em Birigui; Helio Suguiura, o autor do desenho da capa; Paulo Garrido da Cosmic Records de SJ do Rio Preto; Junior Muelas; todos aqueles que sempre nos fortalecem de todas as formas possíveis. Somos muito gratos por sempre termos tido os amigos por perto e a cada show conseguíamos fazer novos amigos, que permaneceram no caminho com a gente, no fim, sem eles, nada disso teria acontecido. Um beijo especial pra vocês da Ananda e do Rafa. Obrigado!
A aura musical que Uma Poesia Qualquer exala tem cara única. Difícil recordar de iniciativa similar no Brasil. Tem tudo para agradar desde fãs de MPB, rock setentista e blues/fusion. Começaram lá em cima com “Brasa de Cetim” e tem tudo para angariar cada vez mais reconhecimento no cenário musical brasileiro. Se eu pudesse apostar, diria que a dupla vai muito longe.
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