O baixista e vocalista Roger Waters perturbou tanto o ambiente que ele achou que tinha conseguido o que queria: ficar sozinho no estúdio e gravar as músicas que ele queria, todas de sua autoria, e fazer um dos mais angustiantes e melancólicos álbuns da história do rock. Inconscientemente, ele sabia que não voltaria a tocar com os então companheiros de banda.
Com "The Final Cut", álbum de 1983, o Pink Floyd parecia estar chegando ao fim com uma trilha perfeita para a época: de forma melancólica e longe do auge criativo, apesar de ainda colher os frutos do megassucesso "The Wall", de 1979 - com um filme baseado o disco lançado em 1982.
"The Final Cut", há 40 anos, na verdade decretava o fim do Pink Floyd como banda de alguma relevância no rock. Dvid Gilmour, o guitarrista e vocalista, e Waters iniciariam de verdade suas carreiras solo no ano seguinte, e também um embate judicial em Londres pelo nome da banda e a continuidade de suas atividades.
A pendenga só terminaria dois anos depois, com Gilmour e o baterista Nick Mason ficando com os direitos do nome e mantendo a banda na ativa enquanto que Waters passa a ter os direitos exclusivos de "The Wall", entre outros termos de um acordo bem complicado.
O tecladista Rick Wright, demitido durante as gravações de "The Wall", no começo de 1979, voltaria ao Pink Floyd em 1987 como "músico convidado". Mas já não dava para considerar aquela formação e os álbuns "Delicate Sound of Thunder" e "The Division Bell" como trabalhos efetivos de uma banda desfigurada.
Depois de 1995, ao fim da turnê de "The Division Bell", o Pink Floyd não fz mais nada e o fim definitivo foi anunciado em 2015.
Sobre "The Final Cut", há muito pouco de Gilmour e Mason em termos criativos. Todas as canções são de Waters, que homenageou o pai que não conheceu. Eric Fletcher Waters (1901-1944) era oficial do exército britânico e morreu durante o desembarque aliado na praia de Anzio, na Itália, durante a II Guerra Mundial. George Roger Waters, seu nome completo, tinha apenas meses de vida.
Apesar da melancolia e da tristeza de canções como "The Fletcher Memorial Home", "The Gunner's Dream" e do desespero contido em "Not Now John", é um trabalho com mensagem pacifista e, principalmente, antiguerra.
Lamentavelmente, o clima ruim se refletiu em "The Final Cut", que é mais um trabalho solo de Roger Waters - inclusive estabeleceria o padrão do artista em todos os trabalhos pessoais a partir de então.
São poucos os solos de guitarra, e a presença do saxofone do requisitado instrumentista Raphael Ravenscroft é maior do que se poderia supor. Seu trabalho foi muito bom, como o solo desesperado de "The Gunner's Dream", mas a guitarra de Gilmour faz muita falta.
Assim com o álbum "Born Again", do Black Sabbath, de 1983, com Ian Gillan (Deep Purple) nos vocais, tem uma quantidade enorme de admiradores mesmo com seus evidentes problemas, "The Fial Cut" é reverenciado or um séquito de fanáticos.
Para esses fãs, o álbum representou um fim convincente e adequado ao "verdadeiro Pink Floyd", um fôlego ao então decadente rock progressivo puro, com composições interessantes e um conceito bem definido.
Os detratores, no entanto, o consideram, de longe, o pior disco da banda, não só por ser o disco "solo" de Waters por uma suposta falta de inspiração e por representar uma "continuação ruim de 'The Wall', contendo restos e sobras deste".
É possível manter uma equidistância ao discutir esse álbum. De forma geral, ele decepcionou em seu lançamento e ficou bem abaixo em termos de qualidade em relação ao seu antecessor, "The Wall". E nenhum dos integrantes fez questão de dirimir os rumores de uma iminente separação, o que efetivamente ocorreu em a partir de 1984.
Se não chega a ser um desastre, tampouco tem resquícios de genialidade. O único hit, "Not Now John", é comum e seu refrão não é exatamente assoviável. Tenso, denso e obscuro, carrega pouco do DNA do Pink Floyd.
Se a intenção era essa, Waters conseguiu: tornou o "verdadeiro fim" do Pink Floyd um evento incômodo, totalmente melancólico e, até certo ponto, desagradável.
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