É paixão pela música, mas é muito mais do que isso. Quase 30 anos de carreira nos palcos e nas salas de aula transformam qualquer artista, mas a devoção é um combustível poderoso para impulsionar novas ideias e novas fases.
Depois de pensar seriamente em encerrar a trajetória artística depois de 25 anos, o cantor e multi-instrumentista Fabiano Negri repensou a decisão e decidiu lançar seus dois melhores discos nos últimos três anos. "Reborn" e "ZebathY" estão entre os grandes álbuns do rock underground brasileiro e levaram o artista de Campinas (SP) a fazer um grande apanhado de seu trabalho.
Se ele precisava de razões para não abandonar a vida artística as encontrou no lotado ambiente em que gravou o seu primeiro álbum ao vivo, "Between Playing and Cursin... Live", um apanhado bem equilibrado de todos os trabalhos solo que lançou.
Se em "ZebathY" ele abraçou o heavy metal, ao vivo ele variou o repertório para torná-lo mais acessível, nem tão pesado, mas hard rock o suficiente para tornar o ambiente dançante e explosivo de tanta energia. Pela execução das 14 canções, é impossível medir o tamanho da empolgação.
É um disco bem legal, um belo resumo de uma carreira de um artista batalhador e engajado na valorização artística de quem produz música com poucos recursos e reconhecimento aquém do merecido.
Foram meses de ensaio e preparação para o show realizado no dia 26 de novembro de 2022, no Clube da Música, em Campinas (SP), com captação de Bruno Pontes. Afiada, a banda mostrou classe e entrosamento para proporcionar uma grande apresentação, dando suporte a uma performance ótima de Negri.
'O resultado foi excelente. Não contém nenhum tipo de ‘overdub’, mostrando exatamente como deve ser uma apresentação ao vivo. A banda soou brilhantemente e cheio de energia. Todos os acertos e pequenos erros aparecem da forma como foram executados no dia', afirma o músico. "Não temos nenhuma maquiagem na gravação, soando tudo muito humano, dinâmico, certeiro e, principalmente, verdadeiro em sua essência."
Nenhuma faixa das bandas as quais integrou - Rei Lagarto, Dusty Old Fingers e Unsuspected Soul Band - foram executadas, focando somente no material solo. Foi uma decisão acertada diante da fartura de material de qualidade em todos os álbuns solo.
"Tenho muito material solo que jamais toquei ao vivo, então me foquei mais nos últimos três álbuns de estúdio, os mais hard rock - 'The Fool’s Path' (2020), 'Reborn' (2021), e, principalmente, o mais recente 'ZebathY', com cinco faixas no ao vivo. Mesmo assim, tentei colocar pelo menos uma faixa de todos meus trabalhos solo, que não são poucos", comemora o músico.
Tanto a produção como a masterização de Ric Parma, no Estúdio Sonic Paw, ressaltaram o clima estupendo do show, deixando tudo orgânico e pulsante, principalmente em relação ás guitarras, bem timbradas e executadas de forma diferente do que estamos acostumados a ouvir em shows underground no Brasil.
A banda de oito músicos esteve coesa e à altura, com Fabiano Negri (vocal), Ric Parma e Róbson Brocco (guitarras), Ian ‘Absurd’ (baixo e filho de Fabiano), Tomás Mainieri (bateria), Pedro Sampietri (teclado), Nara Leão (backing vocal e esposa de Fabiano) e Nia Sabiano (vocais de apoio).
O repertório bem montado equilibra canções mais emocionais com outras bem pesadas, "The Night Stairway", que abre o espetáculo, coloca fogo no ambiente e mostra que não deverá haver fôlego para que a plateia respire. As guitarras funcionam perfeitamente e a canção arrebata de primeira.
São muitos os acertos para citá-los todos, então fiquemos com a canção "ZebathY" e sua condução perfeita e o solo de guitarra fantástico, como avisado antes da canção pelo cantor. É um monumento ao rock feito no Brasil.
"Potsdamer Platz" e "Inside Out", mais antigas, revelam a verve mais pop do artista. São mais acessíveis, mas não menos complexas. Carregam cargas dramáticas intensas e arranjos surpreendentes nas execuções ao vivo.
"Dear Captain" e "The Pure and the Damned" adquirem ares mais progressivos como se fossem contos literários e apresentam as melhores interpretações de Negri naquela noite mágica, fazendo parecer impossível ter sido influenciado por Ozzy Osbourne (Black Sabbath), Ian Gillan (Deep Purple) e David Bowie e mostrar tudo isso ao mesmo tempo.
Ouvir um trabalho orgânico ao vivo de Fabiano Negri é prazeroso e reconfortante. É inacreditável que o circuito Sesc paulista de shows nunca tenha cogitado fazer uma turnê pelo Estado com esse multi-instrumentista inspirado em com tamanha quantidade de músicas de boa qualidade.
“Between Playing and Cursing…Live” não vai ser lançado em formato físico, mas estará disponível de forma completa (14 músicas e 14 vídeos) para venda através do site oficial do cantor em www.fabianonegri.com e reduzida para as plataformas de streaming sem duas opções:
EP com 6 faixas (áudio) em https://sptfy.com/fabianonegri
Playlist com 6 vídeos (YouTube) em https://bit.ly/3SGiXrF
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