A banda alemã de heavy metal Beyond the Black teve seus dias de Greta Van Fleet quando surgiu com o primeiro álbum lá em 2011. Os detratores tentaram colar o rótulo de imitação dos americanos do Evanescence, enquanto outros conseguiam enxergar elementos contidos no trabalho dos finlandeses do Battle Beast, ambas com mulheres nos vocais.
Se lentamente o Greta Van Fleet se afasta da pecha de clones do Led Zeppelin, a banda alemã rapidamente avançou em busca de um som mais identificado com o metal progressivo e buscando uma variação maior de temas, melodias e timbres.
E o tão sonhado som próprio parece finalmente atingido em "Beyond the Black", álbum lançado em janeiro, nas palavras da própria banda, e que traz uma sonoridade mais encorpada e um trabalho de guitarras de alta qualidade.
"Trabalhamos incessantemente para atingir um estágio em que pudéssemos constatar que atingimos o que queríamos, um som com nossas características", disse o guitarrista Chris Helsmdörfer em entrevista coletiva online a jornalistas da América Latina. "Posso dizer que esse disco é um marco importante e que nos deixa muito satisfeitos."
Curiosamente, a banda repete alguns passos dados por bandas importantes lideradas por mulheres e que recentemente lançaram discos novos, como Halestorm e Evanescence. Outra coincidência é a opção por temas mais densos e, de certa form agressivos.
"Não foi planejado e nem acho mesmo que as músicas estejam mais agressivas", comentou a vocalista Jeniffer Haben.
"Estivemos em um clima bom na produção e acredito que sempre buscamos a paz em nossas vidas. Há temas mais reflexivos, afinal, somos influenciados pelo nosso cotidiano e pelo que o mundo joga em nossas vidas", emendou a simpática vocalista.
Com uma sonoridade mais consistente, como admite a própria banda, as canções exalam o momento precioso que o grupo saboreia neste pós-pandemia.
"Muitas mudanças aconteceram no mundo e nos bastidores durante a criação deste álbum", analisa a vocalista, "Fomos confrontados por nossos mais íntimos medos e expectativas enquanto tentávamos fazer a coisa certa em tempos turbulentos. Isso é o que você chama de crescimento e este álbum chega ao cerne desse processo que todos nós compartilhamos."
A produção boa arredondou o que sempre apresentava boas ideias, mas alguns excessos. Equilibrado, o CD aposta em melodias mais orientadas para as guitarras, com arranjos mais simples, certeiros. É algo que já aparecia no isco anterior, "Horizons", mas que no trabalho mais recente fica mais evidente desde as primeiras notas de "Is There Anybody Out There?", que abre "Beyond the Black".
Os teclados ficam mais discretos e as guitarras tomam conta dos ambientes com criatividade, mesmo que não seja possível identificar, de cara, alguma inovação. O que interessa é que a banda precisava de músicas boas para emplacar mudanças e a busca por um "som diferente".
O objetivo foi alcançado. Ao menos metade das canções é muito boa, com "Free Me" candidata a hit do ano na Europa. Alia peso e melodias simples e eficientes sem perder a contundência, assim como a ótima "Reincarnation", que tem um refrão excelente e arranjos de violão primorosos.
"Not In Our Name", apesar de ser pesada, consegue ser a mais acessível a um público não muito acostumado com o metal. A facilidade com que a banda encontrou bons riffs e refrões chama a atenção, já que nada soa fora do lugar.
Quando a banda desacelera, como "Wide Awake", imprime uma delicadeza e uma suavidade não muito comuns no som do Beyond the Black. É uma balada pungente que poderia ser associada normalmente a bandas de metal da Holanda que têm cantoras.
"É esse tipo de versatilidade que buscamos, e as canções mais lentas acabam se encaixando dentro do conjunto, mesmo que não haja conceito no geral", explica Jeniffer.
O outro momento mais sossegado, digamos assim, é o encerramento com "I Remember Dying", que coloca melancolia digna de um folk metal/rock progressivo da melhor qualidade. os arranjos vocais e os sinfônicos imediatamente remetem ao que de melhor Renaissance e Clannad fizeram. É o tom épico que casou bem com o restante do álbum, culminando com guitarras cadenciadas pesadas à la Black Sabbath e Grave Digger.
Como os integrantes concordam que estiveram em evolução desde pelo menos o segundo dos cinco álbuns, então é pertinente que consideremos "Beyond the Black", o momento da "virada", como o melhor disco da banda. Coloca conjunto em um patamar mais elevado e um passo na frente dos principais concorrentes.
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