quarta-feira, 1 de março de 2023

Pitty celebra 20 anos de carreira solo e continua sendo o rosto feminino do rock

 Priscilla Novaes Leone assumiu diversos riscos quando decidiu ela carreira solo e abraçar o mundo pop, ainda que seu rock fosse "agressivo" demais para quem costumava ouvir Paralamas do Sucesso e Skank. Sabia que muitos torceriam o nariz, especialmente a legião de fãs fiéis à banda de hardcore Inkoma, de Salvador.

Ela já era Pitty, e "Admirável Chip Novo", lançado em 2003, apontava para novos tempos e mudanças incríveis na vida cotidiana proporcionada pela tecnologia. 

Pitty é uma artista do século XXI e conquistou tamanho prestígio que se tornou a principal voz feminina do rock brasileiro em 20 anos. E ela vai celebrar das duas décadas daquele importante álbum em turnê pelo Brasil em 2003 exaltando a sua independência e a força de sua música, que não é mais tão pesada, mas jamais perdeu a contundência.

Celebrando o que obteve em 20 anos e saboreando o sucesso recente de sua parceria com o ex-Titã Nando Reis - o projeto PittyNando -, já se prepara para uma etapa ainda mais desafiadora, que são os próximos 20 anos, quando será novamente posta à prova para continuar relevante e ajudar a tirar o rock da atual pasmaceira.

Ela sempre valorizou sua individualidade e o próprio jeito de ser. Nunca se identificou com a euforia do axé, com a brisa lânguida de Caymmi ou com o estilo odara de Caetano. Identificava-se mais com Raul Seixas e com a marginália soteropolitana. 

Por essas e outras características é que Pitty é a artista mais representativa do rock nacional da atualidade e foi escolhida como a personagem de abertura de uma espécie de série especial de textos do Combate Rock sobre as mulheres que estão levando a música para frente e para a vanguarda, dentro do mês da mulher e que comemora o Dia Internacional da Mulher, 

A cantora contabiliza centenas de milhares de álbuns vendidos, bilhões de plays em plataformas de som digital, incontáveis prêmios e uma filha -- Madalena, que veio ao mundo em 2016.  

Nascida em Salvador há 45 anos, foi em meados dos anos 1990 que a ainda Priscilla começou sua trajetória na cena musical underground da Bahia, com duas bandas de hardcore: a Shes e a Inkoma.

Nessa época, Rafael Ramos, produtor e diretor artístico da gravadora Deckdisc a conheceu: "Quando ouvi sua demo, foi paixão à primeira vista por sua música. A primeira impressão que ficou foi a de uma vocalista de hardcore extremamente afinada e talentosa. Ela era incrível em todos os aspectos, muito autêntica, brilhante mesmo", recorda Ramos.

A Priscilla virou Pitica (por causa de seus 1,61 m de altura), depois Pitty e, a partir do lançamento de seu primeiro álbum, "Admirável Chip Novo", em 2003, também passou a ser chamada de "Princesa do Rock". 

"Não parecia possível haver algo assim, especialmente naquele cenário dos anos 2000, no auge da música baiana 'tradicional' e do axé. Era uma boa época para o rock brasileiro -- nas rádios do Sudeste tocava muito Charlie Brown, Planet Hemp, O Rappa e CPM. E a cena de Pernambuco se destacava com Chico Science e Nação Zumbi. Mas na Bahia era outra história", conta Pitty em longa entrevista à Revista 29Horas, que distribuída nos aeroportos do Brasil.

Pitty será uma das atrações do festival Lollapalooza São Paulo, apresentando-se no sábado, dia 25. Em seguida, nos meses de abril, maio, junho e julho, vai rodar o país com uma turnê que celebra os 20 anos do lançamento de "Admirável Chip Novo". 

O show do Lolla promete ser o auge desta nova temporada, quando o mundo parece entrar nos eixos de novo, depois da pandemia de covid-19 - quer dizer, depende do ponto de vista, certo?

Naquela época do lançamento de "Admirável Chip Novo", quando tudo ainda era mato no universo das discussões sobre questões identitárias, Pitty já cantava "o importante é ser você, mesmo que seja estranho" e "cada um em seu casulo, em sua direção, vendo de camarote a novela da vida alheia, sugerindo soluções, discutindo relações, bem certos de que a verdade cabe na palma da mão".

Em um momento em que as mulheres nunca estiveram tão presentes em todas as subvariações do rock e do pop, Pitty é a maior expressão roqueira entre as s artistas brasileiras e é de longe o modelo de garota empoderada que mostra orgulho de quem é do que faz e do que conquistou. 

Ela pode se orgulhar de ter despertado em muitas meninas o sonho da vida artística e de se tornar uma cantora amada e respeitada. 

Em parte, foi mais ou menos o que ouviu de admiradoras como as integrantes da banda Malvada, de São Paulo, que abriu o show da baiana no ano passado, em Mogi das Cruzes (SP). 

Uma foto nos bastidores mostrou todas as meninas em cena emblemática do alcance que o rock feminino na atualidade - uma ova geração de mulheres fortes e poderosas reverenciado uma artista que ousou desbravar o pantanoso, perigoso e machista rock nacional. 

Pitty não foi a pioneira, mas é a que carrega  a missão de manter os portões abertos e o espaço conquistado. Não poderia ser outro o rosto feminino do rock brasileiro em 2023.

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