segunda-feira, 6 de março de 2023

Dez anos sem Chorão: vazio do rock nacional realça a relevância do Charlie Brown Jr.

 A última grande coisa do rock nacional, com o último grande rockstar carismático do rock nacional. O Charlie Brown Jr. se tornou imenso e o último suspiro de um gênero musical que desmoronou com muita rapidez em relação ao mundo pop cada vez ais dominado por sertanejos, pagodeiros e fantasmas que tentam resgatar a axé music.

Faz dez anos que Chorão, o vocalista da banda, morreu e, como consequência, soterrando possibilidades de ressurreição de um pop rock que ainda se ressente de um decadência que parece irreversível.

No começo da década de 2010, nas listas de "paradas de sucesso", entre as 100 músicas mais ouvidas, apenas quatro eram rocks, de grupos como Charlie Brown Jr., Skank e Jota Quest. Entre 1999 e 2002, só Charlie Brown Jr. conseguia rivalizar com o então onipresente Los Hermanos.

Muita gente reluta em admitir, mas Chorão e seu Charlie Brown Jr. fazem muita falta - nem tanto pela qualidade de suas músicas, que ainda hoje são alvo de vários questionamentos e contestações, mas principalmente pelo carisma e pelo poder do som e das letras, que agradaram, e muito, a uma molecada que não se identificava com o cabecismo MPBista dos Hermanos, com o humor datado do Ultraje a Rigor e com o pop então sofisticado dos Paralamas do Sucesso.

Também não se identificava com o pop sem contundência dos Titãs da época, com o ativismo "fora de moda" do Ira! e com o punk engajado da Plebe Rude e com a falta de ousadia do Capital Inicial, do Camisa de Vênus - e da falta de inspiração das bandas emo, que eram pretensamente punks.

Quem diria que iríamos sentir falta de Chorão e de sua banda de apelo juvenil, ms que falava a língua do jovem, algo que o rap brasileiro sempre conseguiu fazer...

Ao lado de Skank e Jota Quest, Charlie Brown Jr foi uma das banda de rock que resistiram nas paradas de sucesso até a morte do cantor, segundo as listas de execução em rádios publicadas pela finada revista Billboard, versão brasileira, auditadas pela empresa Crowley.

Em um mercado dominado por sertanejos e, em alguma medida, por artistas de funk carioca e pagode, as bandas citadas, mesmo no fim das listas, eram a resistência do rock e do pop rock em um mercado degradado e dominado por artistas de baixa qualidade. Ponto máximo para o Charlie Brown 
Jr.

Mesmo em processo de decadência, com alta rotatividade na formação e nos constantes barracos e polêmicas que envolviam a banda, Chorão, até a sua morte, conseguia manter a cabeça acima da água no pântano lamacento que se tornou o pop rock nacional.

Musicalmente, Charlie Brown Jr. tinha um apelo fenomenal entre uma parcela expressiva de adolescentes e jovens que se consideravam deslocados em uma sociedade consumista e individualista.

As letras eram fracas e simplórias até, mas as melodias chegavam a ser cativantes, em alguns momentos, misturando batidas de hardcore, punk e um pop mais acessível.

Havia uma aposta entre alguns críticos musicais a respeito do suposto legado que Chorão e sua banda deixariam. Houve quem apostasse no zero, na lenta dissolução do mito Charlie Brown Jr., assim como o tal do movimento emo esfarelou. 

A constatação do engano veio muito mais rápido do que se supunha, nem tanto pelos poucos méritos artísticos do quinteto, mas pela absoluta terra arrasada em que o pop rock nacional se assentou. 

Diante da mesmice, da franca decadência do rock nacional, em todos os sentidos, da falta de perspectivas e da falta de inspiração, Charlie Brown Jr. ganha relevância que talvez não teria em outras circunstâncias.

Aliás, é das pouquíssimas bandas a ter algum tipo de relevância a partir de 2005, para desespero de quem apostava no contrário. Chorão está fazendo falta, para desespero dos detratores.

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