A última grande coisa do rock nacional, com o último grande rockstar carismático do rock nacional. O Charlie Brown Jr. se tornou imenso e o último suspiro de um gênero musical que desmoronou com muita rapidez em relação ao mundo pop cada vez ais dominado por sertanejos, pagodeiros e fantasmas que tentam resgatar a axé music.
Faz dez anos que Chorão, o vocalista da banda, morreu e, como consequência, soterrando possibilidades de ressurreição de um pop rock que ainda se ressente de um decadência que parece irreversível.
No começo da década de 2010, nas listas de "paradas de sucesso", entre as 100 músicas mais ouvidas, apenas quatro eram rocks, de grupos como Charlie Brown Jr., Skank e Jota Quest. Entre 1999 e 2002, só Charlie Brown Jr. conseguia rivalizar com o então onipresente Los Hermanos.
Muita gente reluta em admitir, mas Chorão e seu Charlie Brown Jr. fazem muita falta - nem tanto pela qualidade de suas músicas, que ainda hoje são alvo de vários questionamentos e contestações, mas principalmente pelo carisma e pelo poder do som e das letras, que agradaram, e muito, a uma molecada que não se identificava com o cabecismo MPBista dos Hermanos, com o humor datado do Ultraje a Rigor e com o pop então sofisticado dos Paralamas do Sucesso.
Também não se identificava com o pop sem contundência dos Titãs da época, com o ativismo "fora de moda" do Ira! e com o punk engajado da Plebe Rude e com a falta de ousadia do Capital Inicial, do Camisa de Vênus - e da falta de inspiração das bandas emo, que eram pretensamente punks.
Quem diria que iríamos sentir falta de Chorão e de sua banda de apelo juvenil, ms que falava a língua do jovem, algo que o rap brasileiro sempre conseguiu fazer...
Mesmo em processo de decadência, com alta rotatividade na formação e nos constantes barracos e polêmicas que envolviam a banda, Chorão, até a sua morte, conseguia manter a cabeça acima da água no pântano lamacento que se tornou o pop rock nacional.
Musicalmente, Charlie Brown Jr. tinha um apelo fenomenal entre uma parcela expressiva de adolescentes e jovens que se consideravam deslocados em uma sociedade consumista e individualista.
Havia uma aposta entre alguns críticos musicais a respeito do suposto legado que Chorão e sua banda deixariam. Houve quem apostasse no zero, na lenta dissolução do mito Charlie Brown Jr., assim como o tal do movimento emo esfarelou.
Diante da mesmice, da franca decadência do rock nacional, em todos os sentidos, da falta de perspectivas e da falta de inspiração, Charlie Brown Jr. ganha relevância que talvez não teria em outras circunstâncias.
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